PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mensagem de começo de ano:

Trata-se de uma reprise . O ano é novo, já o texto...

Ps: Ignorem a parte do "sábado de alelúia", eu quis manter o texto "in natura":


Sendo hoje sábado de aleluia, acredito que deveria escrever algo para celebrar esta data. Mas o quê? Será que deveria dar algum conselho, ou sugerir uma reflexão para o resto do ano? Que piada! Se pudesse dar um conselho seria às avessas: erre, ainda que conscientemente, abra espaço para as experiências não vividas... Mas não combinaria comigo, até combinaria, mas não tenho nem idade e nem moral para dar um conselho desses (mas se a carapuça servir, vá fundo).
Já sei! Um conselho batata: leia poesia, biografias e converse com os mais velhos (principalmente com os de mente jovem), faça o jogo do contente, dê comida aos mendigos, use protetor solar, coma chocolate e tome um porre com seus amigos. Jesus bebeu vinho com os seus antes de morrer e disse para fazermos o mesmo. Ame, ainda que de mentira, pois é melhor uma falsa emoção do que emoção nenhuma. Viaje, ainda que pela sua cidade, ainda que pelo seu quarto.
Faça de vez em quando uma faxina moral: jogue fora os hábitos que te atrapalham, as pessoas que te empatam e as sensações de “de javú”. Menos televisão! Menos televisão a não ser para assistir num dia de frio, usando meias, lençóis, comendo pipoca, brigadeiro ou qualquer outra coisa que lhe apetece. Menos roupa! Principalmente em Salvador que está um forno, principalmente se estiver em casa, durma com pouca roupa, ou roupa nenhuma.
Amanhã é domingo, dia da ressurreição, dia de fartura. Então: um brinde à fartura, uma vida farta para todos. Viva a vida fartamente até ficar farto dela. Desejo isso para você e para mim. Prefira colesterol alto a anemia, cansaço a preguiça. Comam muito chocolate (dieta é coisa de segunda-feira). Jogo para o universo esses votos e rezo para que caiam sobre mim...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fim do romance


Sua saliva matou minha sede e nunca mais quis o seu beijo.

Adeus mundo cruel

Carta de adeus

Salvador, 29 de dezembro de 2009

Tem certeza que não é lindo esse "não sei o quê" que estou sentindo e que não é dia lá fora embora seja meia noite?
Tem certeza que foi valsa que dançávamos embora a música tenha sido samba? Tem certeza que a pele não era negra, a roupa branca e o sangue azul?
Tem certeza que não estou morta, que não morri a cinco minutos e acabei de nascer em seus braços? Pois é... essas pequenas certezas trazidas por ti que desconcertam e me fazem fugir. Parto então em busca das incertezas que não tenho contigo. Adeus meu ardor, que não encheu nem a chama de uma vela. Guarde essa noite como o equivoco, o acaso, o desencontro no esbarro em um verão promiscuo...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Alecrim


As flores do meu jardim nascem por encanto ou intuição: nunca semeei uma flor na minha vida. Flores teimosas que por aqui criam raízes (algumas temporariamente) e que faço questão de regar, ainda que displicentemente. Flores que não são podadas, que morrem de madrugada ou partem atrás de alguma borboleta (sim, minhas flores são cheias de liberdade)!

Para meus amigos, que me inebriam com seu perfume...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal, ontem e hoje

Natal

Postagem do Natal do Ano passado:

O Natal chegou de surpresa, de mansinho e me deu um susto. Mas chegou e eu ontem, por que não tinha nada mais a fazer fui me arrumar mais cedo. Terminado o trabalho olho-me no espelho e... OU! Quem é você minha filha? Tão... adulta!
Cheguei a casa da minha tia onde damos uma parada. Algumas pessoas tinham assistido à Atire a Primeira Pedra e eu o número suficiente para me sentir uma pessoa muito mais importante do que realmente sou: abraços, sorriso, mais abraços, mais sorrisos... ótimo!!!
- Como está moça meu Deus!!! - "Pois é, num instante" - respondo para mim mesma.
- Vi tão pequenininha!!! - "Pois é..."
Vamos para a casa da minha avó. É o primeiro natal sem o meu avô. Fizemos uma oração em sua memória. Meus tios discutindo a reforma familiar pela qual passaremos em breve, a ceia vira de repente uma reunião de negócios. É necessário, não é sempre que se junta a família.
Ceiamos todos, distribuímos presentes e voltamos para casa... O nosso presépio que todo o ano se caracteriza por ser muito singular,nesse não foi diferente: Criaram uma gruta de jornal - ou seriam morros em volta? - tudo feito de jornal: um ECOpresépio, ou "O nascimento de Cristo no morro Carioca", os jornais também deram essa leitura.
Hoje é natal. Mas parece que foi ontem!

Postagem desse Ano:

Primeiro Natal fora da casa de minha avó. Primeiro Natal sem minha avó, sem presépio customizado, sem alguns primos, sem algumas tias. Foi um bom Natal: Na casa do tio, boa comida, risadas. Meus primos estão crescendo. A estrela do ano foi meu irmão:

- Como está grande!
- Parabéns pelo vestibular!

Meu irmão prestes a entrar na faculdade... É... O tempo é realmente implacável...


Boa noite, vou dormir, chega de perder tempo com saudosismos...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Falando nisso...

Inspirada no post anterior, lembrei-me de quando meu pai contou de quando passou por uma esquina de São Paulo e viu uma casa semi-demolida. A parte mais danificada era a do banheiro, agora exposta aos transeuntes.
A imagem era essa: a casa destruída, o banheiro despido e na parede uma pichação:

"Da força da grana que ergue e destrói coisas belas"

Resolvi procurar na internet a foto e a encontrei (embora a visualização não esteja muito boa).

Gabarito



Eu moro perto da orla e desde que a prefeitura liberou o gabarito para a construção de prédios mais altos nessa região, minha rua se transformou num canteiro de obras. As empresas de construção seduzem os proprietários das casas com ofertas de, no mínimo, seis dígitos - quem não fica balançado?

- Um milhão (dois ou mais)... Para demolir a sua casa e construir um lindo prédio no lugar. Um milhão (dois ou mais)... Para levar a baixo suas paredes, suas lembranças, o sonho de construir uma piscina no próximo verão, ou a vontade de colocar uma cadeira de balanço na árvore.

Quanto vale a casa que você não tinha vontade de vender? Quanto vale as recordações dos momentos vividos lá?

Vender o passado por um bom futuro...
...

...

...

... Eu acho que também vendia...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Medo da maternidade


Boneco Reborn - bonecos que são iguais a recém nascidos, em tamanho e peso.

As meninas já estão cansadas desse papo: MORRO DE MEDO DE ENGRAVIDAR! Isso não se refere apenas ao presente, não me refiro à furos na camisinha ou problemas com qualquer método contraceptivo. Tenho medo de engravidar hoje, amanhã ou daqui a dez anos! Já pensei seriamente em apenas adotar para nunca ter que passar por isso! Uma voz dentro de mim diz: Vai ser traumático!

Felizmente o medo se restringe apenas a mim. Adoro saber que uma amiga minha está grávida (quando me certifico que ela também está, obviamente) embora tenha um pouco de medo de algumas barrigas transeuntes (como elas são duras!).

Mas nessa época de Natal, vendo os comerciais de bonecas na televisão, estou quase sem dormir.

• Boneca que mexe a face sozinha
• Boneca que respira
• Boneca que come e faz cocô
• E esta última: A BONECA QUE CRESCE!!!!

Isso já é feitiçaria! Deixem as crianças usarem a imaginação que Deus lhes deu! Parem de assustar pessoas como eu com essas primas do Chuck ou do boneco do Fofão! Um feliz natal a todas as crianças, principalmente para as que ganharão bonecas de pano.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Fotografia

Já era fim de tarde, estávamos quase indo embora da praia quando o dono da barraca chegou para beber com agente. Ele conhecia meu pai e mais ainda o amigo que encontramos por acaso. No total éramos quatro pessoas, cinco com o proprietário, um senhor negro de barbas brancas e fala mansa. Ele em algum momento comentou:

- Incrível como as pessoas aparecem... Foi só eu abrir um álbum retrato hoje de manhã... Lá vi uma foto sua (do amigo de meu pai), e você apareceu. Há quanto tempo agente não se via?

Senti inveja daquele senhor e de seu álbum de fotografias. Se tivesse uma foto sua, olhava todo dia para ver se você me aparecia de surpresa, guardava ela na carteira ou colava atrás do celular, esperava sua ligação e ainda fazia voz de surpresa:

- Alô, quem fala?

Talvez me falte uma barba branca como a daquele senhor, ou não seja merecedora de tamanha sorte. Hoje o álbum mágico do dono da barraca entrou para meu acervo de presentes desejados. Procurei um belo jeito de encerrar esse post, mas não encontrei. Fecho meu álbum imaginário e vou ver televisão...


Para as pessoas que nuca mais vi, e para aquelas outras que ando querendo ver...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Mais uma da Menina!


A Menina deu agora para criar Coragem num pote de requeijão. Sua mãe já havia lhe avisado sobre as responsabilidades relativas a essa iniciativa, mas a menina era nova demais para lhe dar ouvidos e queria tanto, mais tanto, que a mãe cedeu e ficou só observando como a pequena se saía com seu novo bichinho.

A alimentação é esporádica, não é sempre que a Menina se lembra de lhe dar de comer. Tem dias em que a Coragem fica tão fraquinha, pálida, que a mãe resolve intervir dando-lhe uma dose de confiança (de acordo com as instruções que recebeu da veterinária para situações críticas).

Outras vezes a coisinha foge do pote de requeijão e se esconde pelo quarto. Nesse dias a menina é que fica apática, chora e tem medo até mesmo de sair à sua procura, temendo achá-la morta em algum canto qualquer.

Obviamente existem os dias em que a Coragem se apresenta cheia de força. Em dias como esse a Menina a retira do pote e lhe deixa explorar o quarto, a sala, cozinha, banheiro. Quando ficar maior, as duas irão dar um passeio ao ar livre, o que não deve demorar muito, já que a Coragem não para de crescer.

A mãe não se arrependeu de deixar a criança cuidar do bichinho. A criança não se arrependeu de seua nova amiga. Para Coragem, o pote fica a cada dia menor. Talvez ela cresça tanto que engula todo o mundo da Menina. Mas não tem nada, não.

Adrenalina...

Sentiu no corpo medo. Achou que era euforia. Era não. Talvez fosse felicidade. Talvez. Seu corpo tremia e dentro de si o coração batia descompassado. Achou que ia morrer, mas logo lembrou-se de como que era estar vivo.

(Continua)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mentiras para dormir

Este moço que se achega
Com fome de tudo
Me envolve, aconchega
E fica mudo

Mente

E quando me faz louca, mente.
Sua cara simples, mente.
De maneira tão discreta, mente.
Que acredito totalmente.

Mente

Este moço, a malandragem,
Sem blusa listrada
Nem muita linhagem
Rouba-me beijos, até os negados

Os mentirosos são os mais dados
Falsos beijos que somente
Em sua boca se encaixam
Completamente,
Sinceramente.


Lara Couto

Função enfática:




Sim, sou levada a acreditar e repetir:

- Uma boa janela vale mais do que mil portas.

E ainda que pequena, mesmo uma basculante do banheiro, permite a entrada de luz. Ou um pouco de brisa fresca.

Melhor parar de olhar para a porta, não adianta, está fechada. Fiquemos com a janela, por onde espio o que me espera lá fora. O que vejo? Nada. É noite ainda. Mas quase dá para sentir um cheiro que entra no meu quarto. Intuição ou esperança?

Por ora faço a cama e deito. Deixa amanhecer.
Eu sempre gostei de pular janelas, só havia perdido o costume...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Choro.



Tava pensando hoje como existe pessoas que tem o dom de nos fazer chorar. Que coisa maravilhosa essas pessoas! Pode parecer masoquista para aqueles que relacionam choro e dor, mas para mim choro está ligado a alívio. Alívio da dor,é verdade, embora choremos por alegria, irritação, raiva, sono.

Essas pessoas carregam em si o poder de bagunçar nosso emocional, elas nos levam a um nível de estresse, ao ápice da angústia e, por fim, à descarga. Deitamos em nossos travesseiros molhados e dormimos o sono dos justos.

Existe, porém, as pessoas que nos fazem conseguir chorar. Essas são ainda mais especiais. O simples som de sua voz, ou apenas sua presença, são suficientes para que choremos. Parece mágica! Só quem já acordou com vontade de chorar, com as lágrimas na garganta, com uma tristeza enrustida, sabe do que eu estou falando. Só quem, ao ouvir um “ALÔ” desatou num choro, ou ao recebeu um simples abraço, sabe como pessoas assim são importantes.

Não existe sentimento mais degradante que a tristeza morna, meio termo, a tristeza suportável, pão dormido, café gelado.

Uma...

Uma boa janela vale mais do que mil portas!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fim de semana

Fim de ano chegando e começa aquela ansiedade de se livrar das pendências existentes e entrar no ano decentemente. Pelo menos aconteceu comigo: aquela ansiedade, o excesso de reflexão, a vontade d tomar certas atitudes e corrigir outras.... As últimas semanas passaram nesse espírito, como se o mundo fosse acabar em 2009 ou como se arrependimento realmente matasse!

Mas não mata, e como diz o ditado: o que não mata, fortalece. Encontrar um antigo rolo com sua nova namorada (ficante,peguete, perigeth, o que seja!) abala um pouco nossas estruturas.Porém não é nada que um final de semana de risadas e bebidas não resolva. E para quem vê no álcool um instrumento de fuga, ressalvo que de vez em quando uma bebedeira pode ser uma iniciativa bastante terapêutica, principalmente se vier acompanhada de uns beijinhos - ainda que estes sejam tão vazios quanto o “boa tarde” que damos ao estranho que encontramos no elevador!

Entro então nesta segunda-feira acreditando que existem coisas que realmente devem morrer junto com o ano velho e que precisamos refletir quando o “desapego” é um exercício de inteligência e quando é de covardia.

Basta agora me convencer realmente disso!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Formato mínimo

Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica

Composição: Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão

Como queria ter aptidão para Brecht!!


E tudo o que preciso é de dez segundos de distanciamento. Dez segundos para sair do próprio corpo e olhar toda a situação de fora: ver os problemas, as pessoas, as dúvidas, pequenininhas como as letras de uma tese, como as casas no mapa do meu livro de geografia.

Dez segundos, é tudo o que preciso... E de uma dose de desapego.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Assim o autor terminaria o romance...


... E sua lembrança foi tudo o que sobrou no fim da festa: meio ficção, meio realidade. A música que tocava no salão delatava a moça que olhava para os sapatos. As lembranças, partidas, manchavam o vestido de vinho. E, no entanto, não era a memória do morto que assustava. Não era o passado e sim o futuro que vinha lhe assustar de noite.

Leve

Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve

Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

sábado, 28 de novembro de 2009

O beijo









Na ordem:Gustav Klimt, Auguste Rodin, Pablo Picasso, René Magritte, Francesco Hayez

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Janelas e armários

Fico um pouco triste quando demoro de atualizar esse blog. É como se faltasse tempo para fazer esse exercício de sintetizar uma reflexão, acontecimento e emoção que me venha. Poderia dizer que estava muito ocupada (o que é uma verdade), que não entrei na internet (o que seria uma mentira). Mas a verdade é que nas vezes que passei por aqui, distraí-me lendo o blog dos outros ou apenas senti que não havia nada a dizer.
Como é possível que a vida dos outros nos interesse mais do que a nossa própria vida?
Será possível que sejamos tão displicentes com nós mesmos, distraídos, sonhadores?
Dentro do meu armário o monstro arranha a porta pedindo para sair. De costas para ele, espio o armário do meu vizinho pela janela. Entretanto, sinto sua presença e tenho medo. Qual será seu rosto? Será que o conheço? Amo-o ou odeio-o?
Sei que se abrir a porta restar-me-á apenas duas saídas: devorá-lo ou ser devorada. As duas idéias me apavoram...

domingo, 22 de novembro de 2009

curta crônica


Em frente a si o lago cristalino
O dia quente
O céu limpo

Despiu-se lentamente:
Vestido
Sapatos
Roupas de baixo

Por fim tirou a primeira pena
A segunda,
Arrancou-lhe as próprias asas e entrou na água.

Anjo...
Completamente despido

Não lhe interessa mais os mistérios acima de sua cabeça
Estes já conhece...
Agora é a profundeza que lhe inquieta,
Atrai-lhe,
Chama-lhe...

Cair também é uma escolha

domingo, 15 de novembro de 2009

horas extremas


"Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre...
Todas as horas são horas extremas!"

Trecho de "Pequeno poema didático" - Mário Quintana


"Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja"

Quintana

calendário

Preguiça do “hoje”...
Vou ficar no “ontem”
E esperar o “amanhã”...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

...

Muito a pensar

Pouco a falar

Nada a escrever

domingo, 8 de novembro de 2009

Também tinha

No meio das pedras tinha um caminho...

Tinha um caminho no meio das pedras...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Em minha defesa declaro que sou

Inocente
Não no sentido de não ter culpa
Errei sim, admito
Mas foi por falta de maldade
E até nos momentos de malícia
Fui ingênua.
Quando depravada
Mentirosa
Ácida,
Quando fui uma boa menina má,
O era inocentemente.
Juro!
Existe em meus piores atos
(e nos melhores também)
Uma inspiração folhetinesca
Romântica...
Acho que vi muita novela.

Perdoai-me senhor, que não sei o que faço
E ainda sim, faço.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Mas por que falar disso agora?


Estava voltando para casa quando de súbito me veio à lembrança... um segredo... Um segredo MEU!

Era um segredo de adolescência ou um pouco depois, não sei. Hoje não interessa a ninguém, nem a mim. Esquecido e enterrado, cumpriu seu verdadeiro serviço.






Mas deu saudade...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A canção da vida

Esse eu desbravei hoje. Achei maravilhoso porque estamos na primavera, porque o dia está lindo da minha janela. Infelizmente hoje eu ficarei em casa estudando. Posto o poema para que alguém o aproveite por mim: Carpe Diem aos leitores desavisados.

Não é saudável ficar sepultado em casa no dia de finados...

Se agente fizesse a menor noção do quanto a vida é urgente, morria, talvez de pressa, talvez de agonia.

Mas que venha a poesia:

A canção da vida

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...

A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:

Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...

(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

Mário Quintana

domingo, 1 de novembro de 2009

Uma rua chamada pecado

Síndrome de Calabar

"Meu coração tem um sereno jeito,
E as minhas mãos o golpe duro e presto.
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto (...) "



Estrofe de soneto de Ruy Guerra e Chico Buarque

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Fichamento

Se por algum decreto,
Ou a título de reflexão
Todas as minhas dúvidas
Fossem registradas
Numeradas
Catalogadas
Não seriam necessárias caixas e mais caixas
Apenas uma caixa de sapato
Ou melhor, de fósforo
Onde escreveria num post it amarelo:

QUANDO?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Filosofia infantil I

Aprendi que mundo quer dizer limpo. Imundo quer dizer sujo. E mundinho é só apelido de Raimundo...

Extraído de: Dicionário do humor infantil, de Pedro Bloch

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Febre


“Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa.”

Tentei escrever três diferentes textos para definir esse estado de espírito que tão singelamente Vinicius descreve.

Quando a sensação de vida me arrebata, tudo se converte em uma experiência sinestésica. Todos os dias são de sol! A excitação toma conta de tudo e tudo vibra na harmonia do caos (e isso existe?)

Porém, quando não nos dá descanso, a alegria transforma-se em angustia. O sol passa a queimar a pele. A alegria vira insônia e o corpo pede descanso de si mesmo.
- Água, tragam água!
- Preciso desabafar!
- Gritar!
- Dançar!
- Correr!
- Matar!
- Morrer!

Sim, poetinha, a felicidade pode doer. Por isso é preciso, na arte de ser feliz: curtir, CUrtir, CURtir, CURTir, GOZAR... e dormir.
Boa noite, poetinha.

sábado, 24 de outubro de 2009

Biografia

Quando eu estava para nascer, fazia uma manhã de frio. A maternidade ficava numa avenida muito movimentada e quando mamãe abriu as pernas, escutei apenas o barulho dos carros, de maneira que fiquei com muita preguiça sair e fiquei. Para mamãe foi ótimo! Eu tinha medo de viver, ela tinha medo de parir...


Mamãe fechou as pernas e fomos para casa. Tem sido ótimo! Ela me protege do mundo, eu a protejo da solidão. Quando está triste, ou precisa desabafar, eu estou sempre ali, logo abaixo do seio, pronto para ser acariciado sob a barriga. Quanto a mim, basta-me dar um chute de leve que ela já fica satisfeita.


Papai também às vezes cisma de conversar. Eu durmo. Ele fala... Eu durmo... Viro de lado, dou o tal chutinho de volto a dormir. Perfeito!

Nada como manter os olhos fechados e a boca cerrada para experimentar a mais apática felicidade...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Testamento


Acredito que as pessoas que descobriram recentemente esse blog em breve irão notar como gosto de insistir em alguns assuntos: Não posso evitar.

É que no dia em que postei esse musica de Vinicius aí em baixo, eu encontrei a versão escrita de outra canção. Nesta constam trechos falados por Vinícius que eu não conhecia e achei bárbaro. Para quem desconhece, Vinicius de Morais foi, durante muitos anos diplomata até que a ditadura militar o fez entregar o cargo. Ele adorou, pois antes até para cantar tinha que usar terno...

A música é Testamento e pode entrar para a galeria : Ensinamentos do Velho Vininha.



Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!

Falado:

Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...

Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!

Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar

Falado:

Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito
(e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra

Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não

Falado:

Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material. É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas

Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem de dentro de si não sai...


Hoje faz uma semana que não posto nenhum texto meu. O que não é nenhum problema já que estou muito mais segura da qualidade artística dos autores aqui citados do que de mim mesma. Hoje, mais uma vez citarei Vinicius de Morais ( e que nossas almas possam se encontrar e consumar um ato carnal – paradoxo – no paraíso...)


Berimbau é mais que a letra de uma música ou um poema cantado. Ela é o apanhado de ensinamentos aparentemente populares e organizados sob a forma de ensinamentos. No youtube tem um vídeo de Vinicius cantando essa música entre um grupo de jovens, essa imagem sintetiza a minha fantasia do Velho Poeta dando uma de professor ou filósofo. Mas deixa de blá blá blá que a música fala por si

Quem é homem de bem
Não trai!
O amor que lhe quer
Seu bem!

Quem diz muito que vai
Não vai!
Assim como não vai
Não vem!...

Quem de dentro de si
Não sai!
Vai morrer sem amar
Ninguém!

O dinheiro de quem
Não dá
É o trabalho de quem
Não tem!

Capoeira que é bom
Não cai!
E se um dia ele cai
Cai bem!...

Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza camará...

Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Melhor era tudo se acabar

Eu amei, amei demais
O que eu sofri por causa de amor ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei é que ninguém nunca teve mais, mais do que eu

Só mais uma vez

Mais um poema de Paulo Leminsk, por que amor que é amor pede uma certa dose de repetição temática. Talvez este seja o último poema da série, vou dar um tempo só para não desgastar a relação:

Dedicado a Eduardo Medeiros que, de passagem por esse blog registrou em meu humilde espaço seu estado de paixão:

Amor Bastante


quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

domingo, 18 de outubro de 2009

Mais duas

Confira
tudo que
respira
conspira


já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

Paulo Leminski

Paixão nova


Paixão é coisa engraçada né? Num exemplo bem capitalista, é como quando a ficha cai e agente ganha uma lata de refrigerante. Ás vezes cai de primeira, ás vezes demora e em outras só com muita porrada, não é mesmo?

Pois então... Estava já preparada para ir para a cama quando um pensamento me ocorreu: Paulo.
Abro mais uma janela em meu computador e coloco no Google: Paulo Leminski. Por que não? Nunca havia parado para apreciar sua poesia, exceto as que me foram presenteadas pelo destino. Escolho um site, entro e... Que coisa maravilhosa é a paixão, a sensação de surpresa, descoberta e resgate.
Olhos descendo pela tela e me deparo com um que eu amava quando tinha dez anos. Não esqueço! Pertencia a um livro chamado ALP, eu curtia pela sonoridade e ficava repetindo baixinho quando a aula ficava enfadonha.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram linhas no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski - Que bom, já não vou dormir sozinha...

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

sábado, 17 de outubro de 2009

Anão vestido de palhaço mata 8

"Tédio, esse é meu drama"

Já dizia o ditado: cabeça vazia, serventia do diabo.Como não tenho interesse em servir ao "ENCARDIDO" (o termo é em sua homenagem, Dan!, aproveito o meu tempo livre para ler as notícias que acontecem pelo mundo. Quer dizer, as excentricidades acometidas pelo mundo. Dentre os endereços visitados, destaco a comunidade do orkut:
“Anão vestido de palhaço mata 8” - na qual os participantes postam o que há de mais esdrúxulo no noticiário.
Pois bem, depois de uma rápida visita eis que encontro:
• Pastor é seqüestrado e violado com cenoura

• Alemão cria cerveja erótica por acidente
Alemão Jürgen Hopf garante que bebida tem função semelhante a de remédios como o Viagra.
A Europa ganhou uma cerveja erótica. A “Erotik Bier” tem funções tônicas semelhantes a de remédios como Viagra. Além da similaridade, a bebida age mais rápido que os medicamentos, pois seu efeito é instantâneo, segundo a fabricante.
Segundo o criador da bebida erótica, o alemão Jürgen Hopf, a invenção foi um acidente quando as máquinas de uma cervejaria em Schönbrunn quebraram.
"Como eu moro do outro lado da estrada fui chamado para consertar. Era madrugada e não havia uma viva alma. Atravessei a estrada de avental de couro e chinelos", disse o cervejeiro. "Senti que havia algo estranho e percebi que aquela cerveja poderia ser diferente de todas as outras", emendou Hopf.
Para comprovar sua tese, o alemão usou os consumidores como teste. Após uma semana, todos os participantes revelaram um aumento em sua libido após beber a cerveja.

• Menino muda de sexo aos 8 anos nos EUA
Josie Romero é uma menina de oito anos. Josie já foi Joey, um menino. A mãe de Josie, Venessa, diz que, desde que a filha começou a falar, sempre afirmava: "Eu sou uma menina". Os pais a corrigiam: "Não, você é um menino". Josie, à época Joey, insistia em tentar transformar seus brinquedos de garotos em brinquedos de menina. A mãe afirma que a brincadeira preferida da filha era enrolar seus cachecóis na cintura e fingir que eram saias. Venessa afirma que, no início, achava que tinha um filho homossexual. Porém, depois se deu conta que era uma criança transexual. Josie recebe atendimento médico e psicológico. Ela tomará medicamentos para evitar a puberdade masculina. Quando completar 12 anos, deve ingerir hormônios femininos. A mãe diz que Josie já sabe que terá de passar por uma cirurgia de mudança de sexo quando for adulta. No Arizona, onde vivem, Josie participa de grupos de apoio para famílias de transexuais, incluindo crianças. Ela conta sua história. Venessa diz que a filha é muito feliz por poder compartilhar a sua experiência, para ajudar outros pais e filhos que passam pela mesma situação.
No ano passado, todos os documentos de Josie foram alterados. Ela é considerada, legalmente, uma pessoa do sexo feminino.

terça-feira, 13 de outubro de 2009



Cuidado !
Ela é atriz
E carrega em si as dores do mundo
E guarda o segredo dos papéis não inventados
Cuidado !
Ela é única e ao mesmo tempo, muitas
E ao mínimo estimulo se despe em moralidades
Veste-se de despudores (ou seria o contrário?)
Cuidado!
Ela tudo observa
E traduz-se em poesia guardada em silencio
Cuidado que ela canta músicas por dentro
E sonha acordada
Dorme acordada
E acorda no meio da noite
Ela é só perguntas
Ela é só olhares
Ela que é Pathos
A cidade, seu cenário
A vida, seu enredo
O eu, o seu mais difícil papel

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Síntese

O que perturba e intimida
O meu espírito forte
Não é a certeza da morte,
Mas a incerteza da vida.

Da Costa e Silva

domingo, 11 de outubro de 2009

Que belo e estranho dia para se ter alegria!


Sábado:
Acordar tarde,
Sono,
Banho no cachorro,
Almoço,
Trabalho no computador,
O dia vai tomando corpo: Gordo!

Mas basta um “sim” que tudo se transforma.
O típico vira excêntrico
O tédio vira o cômico

De onde nada tinha, quase teve
Quase teve festa em Ipitanga
Quase teve uma peça, mas teve outra
Quase teve uma conta a pagar (teve um baita desconto!!)
Quase...

Todo o dia parecia invertido
Divertidamente invertido
O dia ria-se de si mesmo
Chorava de rir: chuva!
Muita chuva!
Nossa como choveu essa noite!

Hoje ainda chove.
Procurei meu CD de Roberta Sá: sem sucesso.
Ainda assim afirmo: Que belo e estranho dia para se ter alegria!

sábado, 10 de outubro de 2009

A arte de escalar montanhas

Me ocorreu pela manhã de comparar o fazer teatro ao ato de escalar montanhas:
Levam-se dias
É árduo
Cansativo
E algumas vezes, solitário...

Por fim chegamos ao topo e vimos lá de cima (algumas vezes de baixo) a platéia.
Momento...
A platéia, o segundo de blackout que sucede a cena final, os aplausos:
São a paisagem do artista
Alguns minutos ou segundos de contemplação e já se faz a hora da descida.

Sai a maquiagem, o figurino, a fantasia.

Outro dia,
Nova escalada,
Talvez ainda mais árdua,
Talvez menos solitária
E a esperança de que, ao fim, a vista do trajeto faça algum sentido...

Sentido?

Só quem pode compreender o sentido desse ofício doido varrido é quem consegue capturar algum prazer em escalar montanhas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tudo beleza


Decidi postar um comentário sobre um debate bastante frutífero do qual participei ontem. Como teria que passar a tarde inteira para escrever o que me pareceu mais significativo, coloco um poema (ou seria letra?) do Cazuza, O Homem Belo, e registro alguns comentários:


O homem belo anda na rua
E todo mundo olha
Homens, mulheres, velhos, crianças
E ele sabe que é belo
E tem um quê de maldade no olhar
Pode ser médico, advogado, engenheiro
Um homem sério, inteligente
Mas sabe que é belo e seduz de propósito
Homens e mulheres
Geralmente os mais narcisistas
Casam com mulheres feias
Os mais modernos, com gatas e gatos
Os mais caretas com a mãe
Mas o homem belo é mau



O poema estabelece uma relação entre moral e beleza. A crença de que “o que é belo é bom” já está enraizada em nosso inconsciente, embora essa estereótipo constantemente se mostre falso. De acordo com Cazuza, e comigo também, ao vermos um homem bonito pensamos:

- “Pode ser médico, advogado, engenheiro, um homem sério, inteligente”.

Ou seja, atribuímos outros atributos positivos ao caráter estético.

Por outro lado, o texto defende justamente o contrário. Ele afirma que o homem bonito é mau, que a beleza é um defeito moral, nascido não da beleza em si, mas da consciência de que se é belo:
“E ele sabe que é belo
E tem um quê de maldade no olhar”

“Mas sabe que é belo e seduz de propósito
Homens e mulheres”
O homem belo seduz indiscriminadamente, sem que haja necessariamente um interesse que justifique a sedução, seduz por seduzir.

Mas o homem belo é mau...

Calma aí Cazuza, que você não era de se jogar fora (antes da AIDS) !

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Das Dores

Acordei com dor
E dor é o alarme do carro que ecoa quando se sente ameaçado
Dor é choro de criança pequena,
A dor não espera, não quer saber que dia é hoje. Paciência? O que é isso?

Minha dor modificou minha rotina, meu humor. Lembrou-me de que tenho que marcar o médico, ficar atenta aos remédio, cuidar de mim.

- Mais?!
-Sim, mais...

Minha dor é muito exigente!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sobre beleza e feiúra

Feiúra é de algum modo superior à beleza porque ela dura.
"Serge Gainsbourg"
Beleza pode ser superficial,mas a feiúra chega até os osso.
"Redd Foxx"

Quando... (nome provisório)

Quando Mauricio começou a circular de mãos dadas com Tereza, a vizinhança quase enlouqueceu. Como se não bastasse ser quase vinte anos mais velha, ela havia sido professora de piano do rapaz até agora a pouco! Não que fosse feia, ou aparentasse mais idade, mas é que o menino era tão quieto, tão recluso, tão menino que...
- Ele só tem dezoito anos! – diziam – Nunca teve uma namorada!
- Seduzido por uma professora!
Alheios aos comentários, os dois pombinhos viviam seu romance. Ela continuava a desempenhar seu papel de professora, explicando as coisas do mundo ao amante, que escutava com paciência. Ele aprendeu a gostar de teatro, a estudar poesia, a apreciar pintura abstrata, aprendeu a diferença entre Veja e Istoé, entre romance e novela, aprendeu o que significa amar no plano físico e espiritual. Para o rapaz era como se vida se mostrasse colorida ao estalar de dedos de Tereza, como se a realidade se construísse na medida em que ela a descrevia, como que se além da fronteira da amada tudo fosse fosco, ou pior, sonho.
Numa dessas noites de calor, Tereza dormia despida sobre a cama quando Maurício puxou-lhe o lençol para analisar o corpo: na barriga, a cicatriz de uma cesariana, algumas mancha de sol na área dos ombros, poucas varizes nas pernas e, nos cabelos, resistindo à pintura, três fios brancos. Maurício nem possuía ainda barba direito, quase não tinha pelos. – Acabou de tirar o aparelho dentário! – diziam.
Tereza despertou com a brisa que vinha da janela, viu-se inteiramente nua frente a um jovem sério que parecia carregar todas as dores possíveis em seu peito.
- Que tenho eu para te dar?
- Querido?
- Porque perde seu tempo me explicando o mundo? Carrega no seu corpo tanta história, tantas que por mais que me contes jamais poderia eu lhe acompanhar. Tens uma forma tão bonita de ver a vida que me resta apenas tentar enxergá-la com teus olhos. Porque perde seu tempo me explicando o mundo?
A essa altura Mauricio já suava esperando uma resposta, na verdade esperava uma sentença. Esperava a ordem para vestir sua roupa e ir dormir o resto da noite em sua casa, esperava ter que aprender a única lição que Tereza ainda não havia lhe ensinado sobre o amor: esquecer. Mas ao invés disso, ela sentou-se tranqüila em frente ao moço. Os dois estavam nus.
- Eu não lhe explico o meu mundo, querido, eu o compartilho. O mundo é muito grande e toda essa alegria às vezes me deixa muito sozinha. Agora fecha a janela que está fazendo frio.
Adoraria poder contar como termina a história ou ao menos como terminou a noite dos dois, mas a janela foi fechada de forma que nada pude ver ou ouvir. Agente nunca sabe o que se passa por trás das fronteiras dos vizinhos...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Distração

Delicia!
Eu estou devendo a mim mesma uma postagem sobre o meu domingo. Mas vou fazer isso aos poucos, para poupar a vocês e a mim também que tenho mais o que fazer. Para resumir, basta dizer que fiz mais um desses programas solitários que tão boas surpresas costumam me trazer. Não vou dizer onde fui e nem quem encontrei, porque algum assassino, tarado ou pedófilo pode resolver me perseguir (pedófilo sim, porque não? Eu ainda tenho carinha de criança!). Deixando as besteiras de lado, vou direto ao assunto: descobri uma música de Zélia Duncan e adorei. Ela veio a calhar, pois chegou no momento eu me flagrava esperando “não sei o quê” surgir “não sei de onde”, mas acho que a música fala por si só, então:

O vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=5tiR7A-4_J4

A letra:

Distração
Composição: Christiaan Oyens e Zélia Duncan
Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade
Se você não se distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha
Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser
Se você não se distrai,
Não descobre uma nova trilha
Não dá um passeio
Não rí de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão mete medo
Se você está sempre temendo
A fúria da tempestade
Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser
Olhando o céu, chutando lata
E assoviando Beatles na praça
Olhando o céu, chutando lata
Hoje eu quero encontrar você

domingo, 27 de setembro de 2009

E por falar em 3D



Dizer que o pintor desta obra é um cara incrível é meio redundante depois de ter mostrado a foto acima. Hoje ele foi tema de uma reportagem do Fantástico, mas como graças a Deus, nem todas as pessoas perdem tanto tempo em frente à TV como eu ou pelo menos algumas têm um programa interessante para o domingo à noite, achei que ele merecia uma postagem no meu humilde espaço. Curiosa, tentei saber mais sobre o “moço”, mas só consegui descobrir que ele é alemão. Confiram outras pinturas no Google imagens porque vale à pena!

Para os preguiçosos, deixo o link de mais três painéis:

http://i8.tinypic.com/833m6ab.jpg

http://3.bp.blogspot.com/_ASl0-42OqL8/SgoapUztljI/AAAAAAAAAGE/oDdYEX-9fac/s400/wenner1.jpg

http://11.media.tumblr.com/SqHZoTWKZlhl1t70Eg3oDdEVo1_500.jpg

sábado, 26 de setembro de 2009

Dicionário: Tédio

Falta de iniciativa
Falta de fé
Falta de coragem
Falta de imaginação
Falta de disposição
Falta de revolta
Falta de paixão

Tédio: A presença da ausência.

Cheiro


Cheiro...
Cheiro de pão quente
Cheiro de gente
Cheiro de chuva
De maresia
Bolo no forno
De roupa limpa
Banho tomado
Que delicia! Na Bahia
Cheiro pode ser roubado...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não foi nada


Poderia ter sido naquele domingo, mas bem que poderia ter sido hoje pela manhã ou ainda semana passada. Estavam os dois na praia, deitados deixando o sol lamber-lhes os corpos seminus. Aquela que poderia ter sido abriu a bolsa e colocou os óculos escuros. Aquele que poderia ter sido pediu uma cerveja. Ela ensaiou dizer alguma coisa, mas desistiu. Ele também. Se tivessem dito, teriam falado a mesma coisa ao mesmo tempo, e teria sido engraçado. Mas não foi, foi apenas silêncio.

O dia não estava quente, nem frio. A maré não estava nem cheia nem vazia. A cerveja nem quente nem gelada e o vento não soprava tão forte assim. Ele pensou em dar um mergulho, mas não foi; ela quis que lhe passassem o protetor solar, mas não pediu.

Quando o sol começou a se por, Aquele que poderia ter sido pensou na tarde que poderia ter sido boa e suspirou.

- O que foi?
- Nada. Absolutamente nada.

Agora quem suspirou foi ela. Os dois se olharam durante um longo tempo, cúmplices. Ela se levantou e colocou a roupa, ele admirou-lhe o corpo antes de fazer o mesmo. Ela comentou a tatuagem, ele comentou o bronzeado. Os dois se despediram e foram.
Ele caminhou em direção ao ponto de ônibus pensando que havia sido melhor assim: que aquele lance nunca iria ter dado certo e que aquela tarde foi um sinal para desistir daquilo que não havia sido nada.

Ela chegou ao carro sentindo-se patética, patética ela, a praia, o por do sol. Jurou para si nunca mais se expor tanto por um lace que na certa não daria em nada. Ligou o som, tocava a musica do Caetano Maior Importância, ela achou graça. Ele também ria ouvindo- a em seu MP3. Era a mesma música, o mesmo pensamento, a mesma pergunta e os dois cada vez mais separados pela geografia da cidade.

Dez minutos depois, em bairros distintos, ambos param no sinal vermelho. Mais um suspiro. Ela teria voltado se houvesse um retorno por perto. Ele teria descido se ela não morasse tão longe. “Contramão”, dizia a placa. “Respeite o transito”. Era hora do rush. A noite estava esfriando. Foi melhor assim...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Genesis

No principio era o caos
E depois foi o verbo
O verbo
O verbo
O verbo

Eis que nasce a burocracia!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Por que falar de sertão?


Não dá para não reparar a recorrência temática no cenário baiano, o sertão é sim tendência nas passarelas teatrais (o paralelo é ridículo, mas enfim). Podemos até dizer que por aqui sertão está para teatro assim como favela está para cinema. As pessoas mais críticas então, se reúnem em coro:

- Para quer falar de sertão?

Eu, como até agora tenho gostado dos espetáculos que assisti sobre o tema. Lanço outra pergunta à questão:

- Para quê ouvir o sertão?

Sim, porque o sertão fala, a favela fala, a minha casa, minha rua, região. Se agente estranha quando muitas pessoas passam a falar daquilo que está logo ali do nosso lado (e algumas vezes na frente), o problema está nos nossos ouvidos. Se a presença do tema se destaca, é sinal que antes estava no ostracismo. Limpemos os ouvidos então para ouvir os cantos sertanejos! Ouvir os que sabem cantar, saliento, para os que sabem que sertão é muito mais que seca, que caatinga e pobreza. Porque essa visão chapada está mais fora de moda que ombreira e não convence nem ao mais convicto dos urbanos.

sábado, 12 de setembro de 2009

o que acham ?


Essa coisinha fofa aí de cima se chama Marla Olmstead. Ela tem apenas quatro anos e já arrecadou mais de 32 mil vendendo seus quadros. Já foi comparada a Kandinsky e Pollock, dois mestres do abstracto. Sua técnica inclui o usos dos dedos, de pincéis e até embalagem de catchup. Seu pai diz que seu estilo é espontâneo, mas que está aprimorando a técnica.

Quem já conviveu com crianças sabe a tendência que elas possuem para fazer desenhos abstratos. Atualmente na novela vemos um macaco pintor (de abstracto) . O espetáculo "Arte" discutiu essas questões a partir de um quadro em branco.
Como eu acredito que essas discussões dariam algumas teses de doutorado (das gordas) e que arte não é o objeto, é a experiência, pergunto: O que vocês acham dos quadros?

Ha... Faltava falar uma coisa: ela é americana.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

alegria é uma risada pendurada na alma da gente.

Etimologia



Três “U”s.
...........Três “U”s e uma escada.
..................................Cada “U” em um degrau
........................................................E a tristeza de quem desce

JU
.....RU
..........RU

Até para falar é preciso fazer bico.

JU
.....RU
...........RU

“Jururu” vem do tupinambá, quer dizer tristonho, pensativo.
Mas é mais, muito mais do que tristonho.

Hoje alguém disse:
Não existe tristeza maior que a da palavra Jururu.
maior que a da palavra Jururu
que a da palavra Jururu
da palavra Jururu
Jururu

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Súplica

Espere acabar a reforma antes de mudar de endereço...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Caso não te dê boa noite...

http://www.youtube.com/watch?v=QgxkrOLg0Os&feature=related

Ma is uma música.


Essa merece. Primeiro por que não é muito conhecida, segundo porque me lembra uma das minhas paixões mais platônicas, terceiro porque é uma musica que minha prima também gosta muito e como estou roxa de saudades, posto.

Caçada
Não conheço seu nome ou paradeiro
Adivinho seu rastro e cheiro
Vou armado de dentes e coragem
Vou morder sua carne selvagem
Varo a noite sem cochilar, aflito
Amanheço imitando o seu grito
Me aproximo rondando a sua toca
E ao me ver você me provoca
Você canta a sua agonia louca
água me borbulha na boca
Minha presa rugindo sua raça
Pernas se debatendo e o seu fervor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador

Eu me espicho no espaço feito um gato
Pra pegar você, bicho do mato
Saciar a sua avidez mestiça
Que ao me ver se encolhe e me atiça
Que num mesmo impulso me expulsa e abraça
Nossas peles grudando de suor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador

De tocaia fico a espreitar a fera
Logo dou-lhe o bote certeiro
Já conheço seu dorso de gazela
Cavalo brabo montado em pêlo
Dominante, não se desembaraça
Ofegante, é dona do seu senhor
Hoje é o dia da graça
Hoje é o dia da caça e do caçador
Obs: Falando em “prima”, essa música parece que é parente de “Como dois animais” de Alceu Valença, que por sinal me lembra um outro acontecimento, mas aí já é outra história...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Aconteceu agora,

Entrei no meu quarto, um dente de leão na minha mala. Que maravilha. Pego e solto à janela. Dente de leão é flor que precisa voar. Entro no banheiro. Outro. Este eu deixei aqui. Quem sabe se não é aqui que ele quer ficar. Ou será que veio me chamar para ver o vento.

domingo, 6 de setembro de 2009

Primitivo

Eu costumo dedicar boa parte deste blog para falar de paixão: pelas pessoas, pelas coisas, lugares. Paixão como um estado de espírito a ser alimentado. Verdade, paixão é um dos sentimentos que mais me inquietam (acredito que a todos nós).

Mas existe outro que também me é arrebatador, mas no qual nunca falo: frustração.
Antes que alguém desprevenido pense que esse texto carrega em sim uma boa dose de rancor, advirto: Parece, mas não é. Já pensava em escrever algo sobre o tema antes, mas somente hoje me atrevo.

Frustração para mim é um dos sentimentos mais primitivos. O bebê o sente nos primeiros dias, quando abre os olhos e mãe não está lá. Frustração. A criança pede a atenção do pai sem sucesso. Frustração. Quando saio na rua e vejo uma criança chorando, fico impressionada: elas são capazes de uma frustração escandalosa: QUE O MUNDO SAIBA, FRUSTREI. Sim, por que para mim, quase todos os choros infantis são frustrações daquilo que deveria ter sido e não foi: o sol que não saiu, o doce que não veio, o brinquedo que quebrou.

Mas graças a Deus, agente cresce e para de sofrer por besteira, aprende que o inesperado acontece, que as más notícias chegam e que as pessoas não são obrigadas a agir como agente gostaria. Quase sempre.

Digo "quase" por que aparece de vez em quando a bendita e agente retrocede. Retrocede sim, a frustração faz agente voltar a ter cinco anos: somos tomados por uma emoção que embora não seja mais escandalosa, devido ao passar dos anos, é ainda mais patética. Choramos feito criança perdida em parque de diversões. A frustração carrega em si uma consciência biológica: somos apenas um ser, um punhado de moléculas mergulhadas num mundo grande. Grande e cheio de vontades...

baioque

Quando eu canto, que se cuide quem não for meu irmão
O meu canto, punhalada, não conhece o perdão
Quando eu rio

Quando eu rio, rio seco como é seco o sertão
Meu sorriso é uma fenda escavada no chão
Quando eu choro

Quando eu choro é uma enchente surpreendendo o verão
É o inverno, de repente, inundando o sertão
Quando eu amo

Quando eu amo, eu devoro todo meu coração
Eu odeio, eu adoro, numa mesma oração, quando eu canto

Mamy, não quero seguir definhando sol a sol
Me leva daqui, eu quero partir requebrando rock'n roll

Nem quero saber como se dança o baião
Eu quero ligar, eu quero um lugar
Ao sol de Ipanema, cinema e televisão

sábado, 5 de setembro de 2009

Poeminha contrariado

Era o dia certo, a hora certa, tinha lembrado
Conferi e tudo em minha agenda amarela
Seis horas, saí. Não havia chegado
Dez horas, nem sinal havia dela

Três horas, já estava angustiado
Antes do sono, chego à janela
Grito, esbravejo ao céu, indignado
Lua malcriada, não te vi tão bela!

De que adianta estar cheia, mas vestida de nuvens?

Alguém terá sentido sua falta, como eu?
Deixa, que mais tarde o sol nasce e me acompanha
Ele, pobre coitado, sofre o mesmo mau que eu.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Cartas


Obra: Mãos Desenhando, de M. C. Escher (1948)

Sou daquelas que escreve cartas e não entrega. Muitas escrevo na intenção de não entregar. Dobro o papel (ou deixo na folha do caderno) e guardo . Algum dia depois eu pego e releio, rindo do que foi dito, ou lamentando as coisas que não mudaram.
Algumas raras vezes eu tomo coragem e devolvo ao dono, meses, anos depois, com aquela cara de menina que pede desculpas.

As cartas fechadas eu nunca abri, nunca reli. Essas já não me pertencem mais, não pertencem a ninguém. Não posso entregá-las ao dono, não lembro do que se tratam. Um dia posso tomar coragem e abrir, ou então enviar. Prefiro enviar. Mas não envio.

Mas o ato de enviar nada tem a ver com o de escrever: jamais me arrependo de uma carta escrita. Não tenho uma carta queimada e nem rasgada na história. Interminada existem várias, mas não por arrependimento do ato, apenas por teimosia criativa.

As cartas que escrevo e recebo, revelam momentos, afetos e sonhos que caixas de e-mail jamais darão conta. Cartas que faz tempo que não escrevo,
E nem sei por que lembrei-me hoje delas...

Á Natalia, que a muito não me escreve, mas não tem problema. Seu presente ainda persiste bem guardado em meu quarto e meu coração, como o melhor que já recebi.

Obs: acho que sua carta já fez aniversário em minha gaveta.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Boletim astrológico


Amanhã é dia de lua cheia. É a última do inverno...


Foto: Alison Brady

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Bilac

Existe muito preconceito em torno do movimento parnasiano e eu concordo que ficar falando de vaso nos versos, é valido muito mais pelo exercício do poeta, que pela poesia em si.
Mas quando se trata de Olavo Bilac, a coisa muda de figura. Rompo sem diletantismo a imparcialidade e digo: M-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o: Soube unir rigor e afeto num estilo que me agrada bastante.
Abaixo, um dos meus poemas preferidos, Maldição:

Maldição


Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!..

Ainda lembro

Outra vez.
A mesma musica.
No rádio:
“O meu amor é teu” – dizia ela
“O meu desejo é meu” – concordava

“Meu inferno é o céu pra quem não sente culpa de nada” - Ufa! Foi ela quem disse. Ela, não Eu. Juro: ela. Ela?


A canção vai acabar...

“Se não for... Valeu!
...
...
...
...
“Se já for... Adeus!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Formei ?

Para todos os efeitos sim: jurei por Deus e pela república não usar essa digníssima profissão para prejudicar ninguém (tomara mesmo, porque algumas peças realmente não são apresentadas, são cometidas!)

Assim hoje, neste dia de 31 de agosto, aos 20 anos, fecho mais um ciclo da minha vida. A partir de hoje, ao preencher uma ficha, não poderei mais responder no item “profissão” estudante.
Agora sou oficialmente uma desempregada, com curso superior é verdade, mas desempregada
Já tenho direito a cela especial e mais chances em concurso público.
Posso partir para o mestrado, tentar ser professora substituta...
Ser atriz? Apenas Atriz?

Para isso o seu diploma não serve. Paradoxal, não ?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dia perfeito ?





Esse depoimento foi encomendado. Bruno exigiu que eu escrevesse depois do nosso programão de domingo. Seja por gratidão ou por vingança, aqui estou cumprindo o prometido. Nada mais justo que dedicar a ele esta postagem.


- Chegamos num momento que quanto pior ficar, melhor – disse eu depois de termos esperado duas horas para pegar os ingressos.

Começou com um convite pelo MSN: vamos a uma formatura ?
Vamos.
Banho, vestido, maquiagem e estava pronta.
Chegamos.
Chuva. Levar ou não o guarda-chuva para a solenidade? Levamos junto com a “cara de compreensão” para não ficar tão feio.
O teatro estava lotado, estávamos SEM lugares para assistir.
Esperamos do lado de fora, vimos por um telão. Detalhe: telão SEM som.
Não podíamos ir logo para a festa e nem parar um lugar fazer hora: estávamos SEM convites. Pretendíamos pegar com a formanda ( pelo “pretendíamos” você já pode imaginar que alguma coisa deu errado).
Acabou a solenidade, gente saindo pela culatra. E agente procurando a formanda.
- São quantas formandas mesmo? Noventa e sete.
Jacaré achou ? Nem ele e muito menos eu que nem sabia qual a cara da moça.
Saldo da noite:
• Sem cadeira,
• Sem convite,
• Sem bebida alcoólica,
• Um amigo encontrado,
• Uma pizza no Habbi’s,
• Dois sucos de abacaxi com hortelã,
• Um frappé
• E muitas, muitas risadas ...

domingo, 30 de agosto de 2009

Falando de ontem


Já virou meio clichê essa história de que é necessário ouvir nossa voz interior e blá blá blá. Como a maioria das pessoas não sabe direito como ouvir essa misteriosa voz que quase sempre aprece estar dormindo, acaba usando esse pensamento como frase de efeito. Até que...
Até que... Tem dias que a voz esperneia e grita, geme, bate o pé no chão e te inferniza para que você saia em direção a “não sei onde” para fazer “não sei o quê”
Ontem eu fui...
Fui andando, molhando os pés na areia da praia, quietando minha vozinha impertinente que me fez sair do Jardim de Allah para o Farol da Barra apenas para ver o sol se por. Quando cheguei para ver o por do sol, já tínhamos feito as pazes e foi aí que se Deu a surpresa!
“Deus está nas coincidências”, disse Nelson Rodrigues
“Maktub” estava escrito, crença mulçumana.
Depois de ter encontrado as pessoas que encontrei,de ter visto as coisas que vi, ter falado o que falei e assim sucessivamente, voltei para casa muito satisfeita com meu fim de tarde inesperado.
Já dentro do ônibus, pensando em tudo o que havia acontecido, paro por um instante e pergunto à minha voz:
- Você sabia?
Mas ela já havia voltado a dormir...

Domingo


Domingo pede cachimbo, diz a canção... Embora não fume, nem nunca tenha fumado, compreendo que os domingos possuem uma atmosfera que pede um cachimbinho: um ficar na varanda da fazenda fumando e vendo o dia passar até que chega um vizinho (com o seu cachimbo) e os dois ficam conversando e comendo biscoito até escurecer...
Domingo é dia de cachimbar, diria meu pai a mim quando teimo em sair aos domingos - se eu não tivesse inventado o verbo antes. Bobagem, cada um constrói a semana como bem entende: transformo meu domingo em sexta feira sem problemas. Quando quiser, transformo a quarta em domingo e acendo meu cachimbo (afinal, domingo pede cachimbo e o cachimbo é de ouro!)
Como hoje em dia fazenda ou roça é coisa de poucos, muita gente cachimba pelo MSN, cachimba fingindo que assiste ao Faustão ou sai para cachimbar com o namorado (a). O fato é que cada dia é mais difícil cachimbar na cidade, eu mesma não consigo relaxar direito: parece sempre que estou perdendo tempo e protelando as milhares de coisas que preciso fazer. Mas segunda feira serve para quê mesmo ?

sábado, 29 de agosto de 2009

Não há duvida



A vida é a arte do encontro, embora hajam tantos desencontros pela vida...

Vou pintar o meu dia!

Só não sei de que cor...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

radio da vida real



A música de hoje é "A Solidão" cantada por Alceu Valença. Tentei ver se a letra e a musica pertencem a ele, mas não descobri (acredito que sim).

Essa musica tocou na rádio, pela manhã, é o tipo de canção que... Ai! É musica para ouvir de olhos fechados, de cantar pedindo abraço...

Fazendo jus ao título, é o tipo de letra que isolada da canção, fica muito só. O belíssimo arranjo faz uma tremenda falta, por isso vale à pena procurar na internet para ouvir...

Solidão

A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão é fera,
É amiga das horas,
É prima-irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos
Causando um descompasso no meu coração.

A solidão dos astros;
A solidão da lua;
A solidão da noite;
A solidão da rua.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Dicas de pescaria


1 - Tenha bastante paciência, não se pega um peixe de uma hora para outra (a menos que tenha muita sorte)

2 - Leve muitas iscas: a maioria das tentativas tende a ser desperdiçadas

3 - Observe o ambiente: veja o movimento dentro e fora da água, se existem outras pessoas pescando na região, como elas estão se saindo etc.

4 - Essa é a mais difícil: saber a hora de desistir e ir pescar em outro lugar. Se você demora para decidir perde as iscas, a tarde e por conseqüência, os peixes. Se você sai cedo demais, não aproveita as oportunidades que ainda estão por vir. Explico: as iscas perdidas na água podem não servir para pescar os peixes, mas conseguem atraí-los; a tendência é que eles se aproximem em busca do alimento

5 - Outra dica: na hora de puxar o anzol, puxe de verdade. A firmeza do movimento garante que o peixe não fuja. Você não esperou tanto para ficar indeciso, não é?

Que não sonhe como sonhei



Talvez você não o conheça pelo nome, mas Erik Johansson fez grande parte das montagens que são veiculadas na internet. O cara é muito bom e eu achei essa foto tudo a ver com a minha madrugada.

O que você está fazendo?

- Agora? Estou tentando controlar os meus demônios...

- Boa sorte.

- Obrigada!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Lindos!!!



Tom Jobim e Vinicius de Morais

radio vida real apresenta

Explode coração.
Essa é uma linda música é de autoria de Gonzaguinha mas que bem que poderia ser de Chico Buarque devido à semelhança de estilo, eu a escutei hoje no carro e achei interessante compartilhar com vocês:

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar

Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã

Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sorrindo, sofrendo, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Adúltera




De que lhe importa de fujo nas noites sem lua, se caio em outros braços, se ouço outros homens ou se bebo de outras bocas se volto ao raiar do dia para chorar em seu colo minhas dores de amor¿

Para: Chico Buarque, Vinicius de Moraes e Tom Jobim

reticências

Ainda é de manhã, sento em frente ao computador para atualizar esse blog... Nada a dizer

Chega a tarde e sento novamente para escrever e... Nada a dizer

Anoiteceu e a cena se repetiu, não porque faltam assuntos. O que faltam são palavras.

Resta-me apenas aquela sensação de que nada será dito por que não precisa sê-lo, de que por hoje não quero ser verbo, quero ser aroma.

E se fosse musica, seria bossa-nova...

domingo, 23 de agosto de 2009

Jardim de infância

O menino chegou e a menina estava parada na frente da folha em branco
- Ta fazendo o quê?
- Desenhando.
- O quê?
- A noite.
- Mas a folha tá em branco.
- É que ainda não escureceu.
- E falta o quê para anoitecer?
- Pintar a folha de azul escuro. Mas estou com preguiça por que vai dar muito trabalho.
- Eu te ajudo!

E um céu estrelado surgiu, pintado a duas mãos...

Ps:

Outro diálogo do filme abaixo que acabei de lembrar: a conversa entre Ron e seu amigo.
Os dois estão caçando e o amigo aconselha:
- Procure ela.
- Eu não posso, já disse que a amava, pedi a mão dela em casamento... Não posso fazer mais do que isso. Ela precisa decidir sozinha.
- Errado. As mulheres nunca querem decidir sozinhas, querem sempre que alguém decida por elas.

Pode parecer generalista, até mesmo machista e talvez seja mesmo. Mas quantas vezes eu já não quis que o acaso resolvesse por mim, que um deus ex-machina baixasse para me salvar quando faltou coragem de agir ou admitir as mais diferentes coisas?

Tudo o que o céu permite



Um filme...
... Um pensamento
... Um poema
... Um desejo.

"Me recuso a dar importância a coisas sem importância" - Disse o personagem do filme que assisti.

- Amém. - Respondo agarrada ao travesseiro feito uma mocinha dos anos 50, suspirando.

"As coisas só são difíceis quando estamos com medo"

"As pessoas comuns passam a vida buscando segurança: uma boa casa e um bom emprego. As pessoas comuns passam a vida tentando se igualar à outras pessoas comuns. A segurança de Ron (personagem) está dentro dele e isso ninguém tira"

Pode parecer piegas lendo esses trechos assim, recortados. Mas para mim, onde "segurança" e "medo" são duas palavras que vivem num tango sem fim, o filme trouxe-me uma trégua. Pelo menos por hoje:

Me recuso a dar importância a coisas sem importância!

sábado, 22 de agosto de 2009

Mudança

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Camões

Mania

Que mania agente tem
de querer levar sem comprar...
Chegar sem andar...
Ganhar sem trabalhar...

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Larapio

O teu amor chegou enquanto dormias
Dormia eu, também sozinha,
Quando arrombou a janela
Entrou na cozinha,
Quebrou as panelas
Queimou o tapete
Rasgou o vestido

Acordei despida
Corpo e quarto destruídos
Tudo em volta revirado
- Que teria acontecido?

Sem saber que em outro quarto
Tu dormias distraído
Sem saber do mal causado
Por teu amor bandido
Ao meu amor furtado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mentira


Hoje assisti ao programa de Marília Gabriela. O tema era mentira e ela entrevistou a psicóloga Lídia Aratangy. Poderia pontuar milhares das passagens que chamaram minha atenção, mas começo por um comentário da própria Marília ao citar um amigo. Ela perguntou:
- Você mente?
- Eu escolhi ser simpático. Por isso eu minto.
O que diferencia sua resposta da padrão (afinal todo mundo mente) é a consciência da escolha. Ser simpático é uma escolha, mentir é uma escolha. Outra coisa: a verdade crua e nua muitas vezes se encontra a um passo da crueldade. Crueldade, obviamente é outra escolha.

Em outro momento ela comenta sobre o comportamento dos mitômanos, aqueles que não conseguem ficar sem mentir e muitas vezes não distinguem o que é realidade.
- Como isso é possível? – Perguntou Marília
- Fazemos isso o tempo todo. Contamos mentiras para nós mesmos sempre. Dizemos: “Ele não ligou porque a bateria deve ter acabado”. Fantasiar é próprio do ser humano.

Grande parte das relações amorosas se constrói em mentiras. Procuram-se pontos convergentes entre a pessoa e seu parceiro, ela finge gostar de coisas da qual não se interessa tanto, forja de maneira sutil seu comportamento para entrar em sintonia, transfere ao outro uma imagem de parceiro ideal. Vestimos o parceiro de príncipe. Ele por sua vez, quer ser o príncipe, quer que seja verdade aquilo que está sendo dito ou construído. Veste-se de príncipe enquanto ajuda a vestir a outra de princesa.

A definição de hipocrisia de Lídia também foi bem interessante: o hipócrita não é de determinada maneira, mas sabe como deveria ser e finge. Desenvolvendo o raciocínio chego à conclusão: A hipocrisia vem de umas consciência moral (eu deveria ser humilde) embora essa moralidade não seja sincera (não sou humilde), ainda assim ela é expressa (ajo com humildade)...


Sorri
Vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz!

(J. Neto)

... Continua, talvez.