PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Fichamento

Se por algum decreto,
Ou a título de reflexão
Todas as minhas dúvidas
Fossem registradas
Numeradas
Catalogadas
Não seriam necessárias caixas e mais caixas
Apenas uma caixa de sapato
Ou melhor, de fósforo
Onde escreveria num post it amarelo:

QUANDO?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Filosofia infantil I

Aprendi que mundo quer dizer limpo. Imundo quer dizer sujo. E mundinho é só apelido de Raimundo...

Extraído de: Dicionário do humor infantil, de Pedro Bloch

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Febre


“Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa.”

Tentei escrever três diferentes textos para definir esse estado de espírito que tão singelamente Vinicius descreve.

Quando a sensação de vida me arrebata, tudo se converte em uma experiência sinestésica. Todos os dias são de sol! A excitação toma conta de tudo e tudo vibra na harmonia do caos (e isso existe?)

Porém, quando não nos dá descanso, a alegria transforma-se em angustia. O sol passa a queimar a pele. A alegria vira insônia e o corpo pede descanso de si mesmo.
- Água, tragam água!
- Preciso desabafar!
- Gritar!
- Dançar!
- Correr!
- Matar!
- Morrer!

Sim, poetinha, a felicidade pode doer. Por isso é preciso, na arte de ser feliz: curtir, CUrtir, CURtir, CURTir, GOZAR... e dormir.
Boa noite, poetinha.

sábado, 24 de outubro de 2009

Biografia

Quando eu estava para nascer, fazia uma manhã de frio. A maternidade ficava numa avenida muito movimentada e quando mamãe abriu as pernas, escutei apenas o barulho dos carros, de maneira que fiquei com muita preguiça sair e fiquei. Para mamãe foi ótimo! Eu tinha medo de viver, ela tinha medo de parir...


Mamãe fechou as pernas e fomos para casa. Tem sido ótimo! Ela me protege do mundo, eu a protejo da solidão. Quando está triste, ou precisa desabafar, eu estou sempre ali, logo abaixo do seio, pronto para ser acariciado sob a barriga. Quanto a mim, basta-me dar um chute de leve que ela já fica satisfeita.


Papai também às vezes cisma de conversar. Eu durmo. Ele fala... Eu durmo... Viro de lado, dou o tal chutinho de volto a dormir. Perfeito!

Nada como manter os olhos fechados e a boca cerrada para experimentar a mais apática felicidade...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Testamento


Acredito que as pessoas que descobriram recentemente esse blog em breve irão notar como gosto de insistir em alguns assuntos: Não posso evitar.

É que no dia em que postei esse musica de Vinicius aí em baixo, eu encontrei a versão escrita de outra canção. Nesta constam trechos falados por Vinícius que eu não conhecia e achei bárbaro. Para quem desconhece, Vinicius de Morais foi, durante muitos anos diplomata até que a ditadura militar o fez entregar o cargo. Ele adorou, pois antes até para cantar tinha que usar terno...

A música é Testamento e pode entrar para a galeria : Ensinamentos do Velho Vininha.



Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!

Falado:

Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...

Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!

Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar

Falado:

Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito
(e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra

Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não

Falado:

Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material. É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas

Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!

Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quem de dentro de si não sai...


Hoje faz uma semana que não posto nenhum texto meu. O que não é nenhum problema já que estou muito mais segura da qualidade artística dos autores aqui citados do que de mim mesma. Hoje, mais uma vez citarei Vinicius de Morais ( e que nossas almas possam se encontrar e consumar um ato carnal – paradoxo – no paraíso...)


Berimbau é mais que a letra de uma música ou um poema cantado. Ela é o apanhado de ensinamentos aparentemente populares e organizados sob a forma de ensinamentos. No youtube tem um vídeo de Vinicius cantando essa música entre um grupo de jovens, essa imagem sintetiza a minha fantasia do Velho Poeta dando uma de professor ou filósofo. Mas deixa de blá blá blá que a música fala por si

Quem é homem de bem
Não trai!
O amor que lhe quer
Seu bem!

Quem diz muito que vai
Não vai!
Assim como não vai
Não vem!...

Quem de dentro de si
Não sai!
Vai morrer sem amar
Ninguém!

O dinheiro de quem
Não dá
É o trabalho de quem
Não tem!

Capoeira que é bom
Não cai!
E se um dia ele cai
Cai bem!...

Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza camará...

Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Melhor era tudo se acabar

Eu amei, amei demais
O que eu sofri por causa de amor ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei é que ninguém nunca teve mais, mais do que eu

Só mais uma vez

Mais um poema de Paulo Leminsk, por que amor que é amor pede uma certa dose de repetição temática. Talvez este seja o último poema da série, vou dar um tempo só para não desgastar a relação:

Dedicado a Eduardo Medeiros que, de passagem por esse blog registrou em meu humilde espaço seu estado de paixão:

Amor Bastante


quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

domingo, 18 de outubro de 2009

Mais duas

Confira
tudo que
respira
conspira


já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

Paulo Leminski

Paixão nova


Paixão é coisa engraçada né? Num exemplo bem capitalista, é como quando a ficha cai e agente ganha uma lata de refrigerante. Ás vezes cai de primeira, ás vezes demora e em outras só com muita porrada, não é mesmo?

Pois então... Estava já preparada para ir para a cama quando um pensamento me ocorreu: Paulo.
Abro mais uma janela em meu computador e coloco no Google: Paulo Leminski. Por que não? Nunca havia parado para apreciar sua poesia, exceto as que me foram presenteadas pelo destino. Escolho um site, entro e... Que coisa maravilhosa é a paixão, a sensação de surpresa, descoberta e resgate.
Olhos descendo pela tela e me deparo com um que eu amava quando tinha dez anos. Não esqueço! Pertencia a um livro chamado ALP, eu curtia pela sonoridade e ficava repetindo baixinho quando a aula ficava enfadonha.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram linhas no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski - Que bom, já não vou dormir sozinha...

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

sábado, 17 de outubro de 2009

Anão vestido de palhaço mata 8

"Tédio, esse é meu drama"

Já dizia o ditado: cabeça vazia, serventia do diabo.Como não tenho interesse em servir ao "ENCARDIDO" (o termo é em sua homenagem, Dan!, aproveito o meu tempo livre para ler as notícias que acontecem pelo mundo. Quer dizer, as excentricidades acometidas pelo mundo. Dentre os endereços visitados, destaco a comunidade do orkut:
“Anão vestido de palhaço mata 8” - na qual os participantes postam o que há de mais esdrúxulo no noticiário.
Pois bem, depois de uma rápida visita eis que encontro:
• Pastor é seqüestrado e violado com cenoura

• Alemão cria cerveja erótica por acidente
Alemão Jürgen Hopf garante que bebida tem função semelhante a de remédios como o Viagra.
A Europa ganhou uma cerveja erótica. A “Erotik Bier” tem funções tônicas semelhantes a de remédios como Viagra. Além da similaridade, a bebida age mais rápido que os medicamentos, pois seu efeito é instantâneo, segundo a fabricante.
Segundo o criador da bebida erótica, o alemão Jürgen Hopf, a invenção foi um acidente quando as máquinas de uma cervejaria em Schönbrunn quebraram.
"Como eu moro do outro lado da estrada fui chamado para consertar. Era madrugada e não havia uma viva alma. Atravessei a estrada de avental de couro e chinelos", disse o cervejeiro. "Senti que havia algo estranho e percebi que aquela cerveja poderia ser diferente de todas as outras", emendou Hopf.
Para comprovar sua tese, o alemão usou os consumidores como teste. Após uma semana, todos os participantes revelaram um aumento em sua libido após beber a cerveja.

• Menino muda de sexo aos 8 anos nos EUA
Josie Romero é uma menina de oito anos. Josie já foi Joey, um menino. A mãe de Josie, Venessa, diz que, desde que a filha começou a falar, sempre afirmava: "Eu sou uma menina". Os pais a corrigiam: "Não, você é um menino". Josie, à época Joey, insistia em tentar transformar seus brinquedos de garotos em brinquedos de menina. A mãe afirma que a brincadeira preferida da filha era enrolar seus cachecóis na cintura e fingir que eram saias. Venessa afirma que, no início, achava que tinha um filho homossexual. Porém, depois se deu conta que era uma criança transexual. Josie recebe atendimento médico e psicológico. Ela tomará medicamentos para evitar a puberdade masculina. Quando completar 12 anos, deve ingerir hormônios femininos. A mãe diz que Josie já sabe que terá de passar por uma cirurgia de mudança de sexo quando for adulta. No Arizona, onde vivem, Josie participa de grupos de apoio para famílias de transexuais, incluindo crianças. Ela conta sua história. Venessa diz que a filha é muito feliz por poder compartilhar a sua experiência, para ajudar outros pais e filhos que passam pela mesma situação.
No ano passado, todos os documentos de Josie foram alterados. Ela é considerada, legalmente, uma pessoa do sexo feminino.

terça-feira, 13 de outubro de 2009



Cuidado !
Ela é atriz
E carrega em si as dores do mundo
E guarda o segredo dos papéis não inventados
Cuidado !
Ela é única e ao mesmo tempo, muitas
E ao mínimo estimulo se despe em moralidades
Veste-se de despudores (ou seria o contrário?)
Cuidado!
Ela tudo observa
E traduz-se em poesia guardada em silencio
Cuidado que ela canta músicas por dentro
E sonha acordada
Dorme acordada
E acorda no meio da noite
Ela é só perguntas
Ela é só olhares
Ela que é Pathos
A cidade, seu cenário
A vida, seu enredo
O eu, o seu mais difícil papel

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Síntese

O que perturba e intimida
O meu espírito forte
Não é a certeza da morte,
Mas a incerteza da vida.

Da Costa e Silva

domingo, 11 de outubro de 2009

Que belo e estranho dia para se ter alegria!


Sábado:
Acordar tarde,
Sono,
Banho no cachorro,
Almoço,
Trabalho no computador,
O dia vai tomando corpo: Gordo!

Mas basta um “sim” que tudo se transforma.
O típico vira excêntrico
O tédio vira o cômico

De onde nada tinha, quase teve
Quase teve festa em Ipitanga
Quase teve uma peça, mas teve outra
Quase teve uma conta a pagar (teve um baita desconto!!)
Quase...

Todo o dia parecia invertido
Divertidamente invertido
O dia ria-se de si mesmo
Chorava de rir: chuva!
Muita chuva!
Nossa como choveu essa noite!

Hoje ainda chove.
Procurei meu CD de Roberta Sá: sem sucesso.
Ainda assim afirmo: Que belo e estranho dia para se ter alegria!

sábado, 10 de outubro de 2009

A arte de escalar montanhas

Me ocorreu pela manhã de comparar o fazer teatro ao ato de escalar montanhas:
Levam-se dias
É árduo
Cansativo
E algumas vezes, solitário...

Por fim chegamos ao topo e vimos lá de cima (algumas vezes de baixo) a platéia.
Momento...
A platéia, o segundo de blackout que sucede a cena final, os aplausos:
São a paisagem do artista
Alguns minutos ou segundos de contemplação e já se faz a hora da descida.

Sai a maquiagem, o figurino, a fantasia.

Outro dia,
Nova escalada,
Talvez ainda mais árdua,
Talvez menos solitária
E a esperança de que, ao fim, a vista do trajeto faça algum sentido...

Sentido?

Só quem pode compreender o sentido desse ofício doido varrido é quem consegue capturar algum prazer em escalar montanhas.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Tudo beleza


Decidi postar um comentário sobre um debate bastante frutífero do qual participei ontem. Como teria que passar a tarde inteira para escrever o que me pareceu mais significativo, coloco um poema (ou seria letra?) do Cazuza, O Homem Belo, e registro alguns comentários:


O homem belo anda na rua
E todo mundo olha
Homens, mulheres, velhos, crianças
E ele sabe que é belo
E tem um quê de maldade no olhar
Pode ser médico, advogado, engenheiro
Um homem sério, inteligente
Mas sabe que é belo e seduz de propósito
Homens e mulheres
Geralmente os mais narcisistas
Casam com mulheres feias
Os mais modernos, com gatas e gatos
Os mais caretas com a mãe
Mas o homem belo é mau



O poema estabelece uma relação entre moral e beleza. A crença de que “o que é belo é bom” já está enraizada em nosso inconsciente, embora essa estereótipo constantemente se mostre falso. De acordo com Cazuza, e comigo também, ao vermos um homem bonito pensamos:

- “Pode ser médico, advogado, engenheiro, um homem sério, inteligente”.

Ou seja, atribuímos outros atributos positivos ao caráter estético.

Por outro lado, o texto defende justamente o contrário. Ele afirma que o homem bonito é mau, que a beleza é um defeito moral, nascido não da beleza em si, mas da consciência de que se é belo:
“E ele sabe que é belo
E tem um quê de maldade no olhar”

“Mas sabe que é belo e seduz de propósito
Homens e mulheres”
O homem belo seduz indiscriminadamente, sem que haja necessariamente um interesse que justifique a sedução, seduz por seduzir.

Mas o homem belo é mau...

Calma aí Cazuza, que você não era de se jogar fora (antes da AIDS) !

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Das Dores

Acordei com dor
E dor é o alarme do carro que ecoa quando se sente ameaçado
Dor é choro de criança pequena,
A dor não espera, não quer saber que dia é hoje. Paciência? O que é isso?

Minha dor modificou minha rotina, meu humor. Lembrou-me de que tenho que marcar o médico, ficar atenta aos remédio, cuidar de mim.

- Mais?!
-Sim, mais...

Minha dor é muito exigente!