PANACÉIA DELIRANTE

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dois em um


Estive pensando em nós dois
E que dois é sempre um
Não importa de quantos “uns” estejamos falando
Dois é sempre mais
Muito mais que
Dois
Por isso não importa
Se somos três, quatro ou uma multidão

Não,
Não contemos os outros
Eles não fazem idéia
Que nos perdemos em pares

Não importa o quão perto
Nunca seremos dois (número inatingível)
Seremos “um”, quantas vezes for preciso
Tu
Eu
Dois a sós.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

rapidinha

-Tu ainda pensa em mim?
- Penso não,
  Lembro sim. 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Curtas

Observem que o fotógrafo aparece refletido na bolha de sabão



O grande amor não tem fim
Fica em você
Ou em mim

O contrário de perto é longe.
Sempre.
Triste quando o contrário de perto é Nunca...
Sempre longe
Sempre
Nem oriental, nem ocidental
Assim, assim
Meio muro de Berlim

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pra não esquecer... de Sofia




Ana Sofia Charlotte Daisy:
Cabelo liso
Preto
Pele branca
Corpo magro
Rosto angular
Uma tatuagem de nota musical no pulso.
Acho que fez circo
Comia muito
Falava alemão
Era natureba
Gostava de cookie de café e cigarro de palha
Adorava o Capão
Atriz
Bipolar
Concluiu o bacharelado em interpretação teatral
Cursou também licenciatura, mas desistiu.
Foi minha colega de turma
E de cena
Assunto de conversas
Que agora são lembranças.
Seu nome permanece nos cartazes que encenamos, nas fotos. Seu rosto ainda se parece com a atriz de “Gritos e Sussurros” e agora parecerá sempre... Mesmo quando eu não estiver aqui para lembrar tudo isso... 






Cenas de "Gritos e sussurros", de   Ingmar Bergman

Da ilusão das coisas


Deitada na cama, encolheu-se ao máximo, virou bolinha de pele, pulsando baixinho.
Apertou-se ao máximo, não chorou, não gemeu, quase não pensou. Pulsava apenas, pequena e ínfima no escuro gigante.
E quanto menor, mais forte.
Quanto mais só...
Mais “O”...

A dança




Ninguém há de compreender o tempo.
Acompanhar, sim.
Mas entender?
Querer comer jaca só em tempo de jaca
E em tempo de amora, nem pensar nelas.
Não querer ir à praia nos dias de chuva
E nem querer usar luva nos dias de sol
Curtir o “rapidotempo” único e solitário como você e eu. E lembrar que cada um anda no seu ritmo, único, exclusivo, que anda e para quando quer. Ou quando tropeça.
Aproveitar o “vagarotempo” e darmos as mãos se nos encontrarmos, soltar quando na bifurcação.
Seguir, seguir, seguir...
E rodar, rodar, rodar- se preciso - até ficarmos complemente tontos e zonzos como me sinto agora e sempre, inclusive enquanto escrevo.
Por que tudo isso a que chamamos de vida, sonhos, planos e conjecturas é apenas uma forma talvez mais elaborada
De dançar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

- Me diga uma coisa que te dá medo


- Me diga uma coisa que te dá medo!

Lançou o professor para Fernando. Ele já era um homem idoso, muito mais velho que o próprio, um senhor numa turma de jovens atores sedentos. Era um curso de cinema.

- Me diga uma coisa da qual você tem medo! 

O começo do exercício dependia da resposta... resposta que não vinha.

- Um medo... Olha, quando um homem chega na minha idade e passa pelo que eu passei, já não tem mais medo de nada...

Sabia muito pouco  sobre a história daquele homem que se apresentava de pé. Sabia que era médico, que se aposentou por invalidez e que decidiu virar ator depois de sessenta. Sabia que tinha feito cursinho e vestibular para teatro, que havia passado e estava quase se formando.

- Você deve ter medo de alguma coisa...
- Não tenho, desculpe.
- Tente pensar em algo. Puxe pela memória... Lembre! 

Ele realmente fazia esforço para lembrar-se de algo. A platéia esperava em silencio, até que...

- Lembrei... – Falava lento, como se explicasse algo extremamente complicado a um grupo de crianças -  Na minha casa tem umas formigas bem pequenininhas que quando beliscam a gente, dói... dói! Eu “me pelo” de medo dessas formiguinhas.

Achei que era uma piada, depois que era uma fuga da situação. Só depois me ocorreu a possibilidade de ter ouvido uma resposta sincera. Seria possível uma vida sem medos? É o bônus da velhice? Perdemos sonhos, amigos, amores, dinheiro para descobrirmos que não precisamos temer – que não adianta? Que só existe uma força realmente destrutiva, organizada, quase indestrutível, contra a qual só nos resta a convivência forçada: 

-As formigas?

Quanto mais eu vivo, menos entendo da vida...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

21 dias para o verão...



Tudo porque hoje acordei com-ple-ta-men-te apaixonada por você, amor. Assim, sem mais nem menos.  Não faz sentido, eu sei. Mas que sentido há em tudo isso? Brindemos a esse amor que ontem era suspiro e semana passada nem tanto. Bebamos desse amor urgente, que morre a qualquer momento, antes mesmo de da saudade, ou melhor,  do arrependimento.

Comemos desse amor assumidamente fingido, descaradamente carnal, mas que a tudo devora e suja e mela, sem piedade. Amor que veio na alvorada e anoitece junto ao sol. Que me importa se para sempre? O importante é esse hoje, essa segunda feira de chuva, transformada em sábado de carnaval!

domingo, 21 de novembro de 2010

?

Tosse, se contorce, ergue as mãos, bate nas costas. Nada! Algo está preso na garganta.  Apela para a simpatia: gira um prato, bebe água de cabeça para baixo. Inútil.

Sabe bem de que se trata: uma interrogação que não se deixa engolir nem vomitar, teimosa... Insistente. De qual pergunta? Pra qual resposta? Está embaixo do seu nariz, pressente, mas qual? Qual?  

Essa sensação de ignorância obtusa é uma das coisas mais irritantes que podemos sentir.

 Eu consigo ser clara? É um impasse separando “o que é” e “o que deveria ser”, sendo que o “deveria ser” é a maldita interrogação grudada na garganta sobre a qual não conseguimos fazer uma análise, já que está lá: onde não se vê, toca, cheira ou qualquer outra coisa.

Pronto! O texto ficou piegas... Estraguei tudo... Deixa pra lá, mudemos de assunto.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Manifesto injuriado


Há tempos que desisti de entender os homens (digo,o ser humano)
Lido apenas com o que flagram os olhos.
Erro, pois sei que a atitude não deflagra o desejo.
Que vontade não é movimento.
Mas "querer" não se adivinha, meu chapa.
E prefiro errar frente a fatos concretos que tropeçar em tolas fantasias.
Sonhos, já bastam os meus.
Dos outros, quero o concreto e nisso incluo o “não”, a inércia, e a espera.
E pra fechar essa notinha de protesto, afirmo:
Não basta a vontade. É preciso urgência!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Sussurro.


A sua aparição me enche de sede e preguiça.
Lembro do teu gosto
Teu jeito
Teu cheiro
Quero-te aquele
Não esse (desculpe)
Deveria abrir mão
Mas quero o outro
O que foste,
Aquele que já não encontro
Ainda se lembra dele?
Não?
Chegue mais perto, encoste tua orelha:
Eu te conto...