PANACÉIA DELIRANTE

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A festa

.. Foi ali, parada na pista de dança, cinco doses de bebida na cabeça, zonza pela bebida, zonza pelas luzes, zonza pela danças, que vi: o desenlace amoroso do casal em meio à festa. Assistindo ao beijo de cinema, mordendo os lábios de ciúme, eu  pensei em Foucault. Era uma sexta feira à noite, mas eu só pensava em Foulcault, nas relações de poder, na aprendizagem pela violência, pela necessidade da agressão para evoluir. Eu maldisse a doçura e o medo. Quis pedir a um estranho que me desse um tapa na cara.
É preciso levar um tapa para perder o medo da surra.
É preciso levar um fora para perder o medo da rejeição.
É preciso levar um chifre para perder o medo de ser traído.
E foi assim que aconteceu: do meio da pista de dança, desejei para mim todos os males do mundo (ou quase todos). Quis praticar todos os vícios. Mas a luz da sua luxúria me deu uma aula de filosofia. Hoje eu não penso como ontem e acordo disposta a bater, pois acredito que alguém, assim como eu, deve estar precisando de um bom tapa para acordar...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Prestando contas

"Alguém talvez possa estranhar a queda de freqüência na minha escrita. Não é por falta de tempo, ou de disposição. Apenas anda difícil escrever qualquer coisa que não me dê vontade de desdizer no dia seguinte. Então, em dias como esse, onde nada se conclui, nada se sabe, onde o desejo nega o bom-senso e vice-versa, o melhor é ficar calado. O mais prudente é pegar aquele disco do Belchior, ouvir de traz para frente e ficar pensando exaustivamente até não pensar em absolutamente nada. E que o acaso nos proteja do desvio!"

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cartão postal

Essa é a história de uma garota que não gosta de cartões postais: Achava sem graça.
Era uma garota, dessas que faz declarações em público, ri de si mesma e de suas implicâncias sem motivo.
Mas era uma garota que chegou em casa meio desanimada e encontrou um envelope sobre a mesa com o seu endereço. Mas como? Quem lhe disse tal informação? A existência do envelope era realmente uma surpresa. Até então, ela nem o havia aberto, mas já estava contente de ver seu endereço escrito em letras cursivas, com tanto cuidado, de ver o nome do remetente no verso do papel.
Aí ela abriu o envelope: olhou para a foto do postal, leu o que havia escrito...
Essa é uma história trágica: Do dia em que morreu uma garota que não gostava de postais.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tomara!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quebra-cabeça



São pequenos pactos
Acordos de ser e não ser
Comer e não comer
Ir e não ir
Fazer e não fazer
Que nos mudam
De fora para dentro
E mostram
Que precisamos cuidar
Da gente.
Depois de quebra muitos desses pactos
A gente
Aprende.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

croniquinha para o futuro

Hoje, subindo do ônibus, o ladrão levou meu celular.
Levou junto suas fotos, as mensagens, os registros de chamadas perdidas. Na agenda, ficou seu telefone, ainda naquele apelido. Agora tudo corre, já no bolso do menino.
Vai trocar por uma lata
Um pacote
Uma dose.
Vão dizer :
- Não vale nada.Tá velho. Não tem câmera.
Já vejo o menino chingando:
- Vadia.
Tudo isso acontecendo muito longe do meu apartamento, de onde ligarei para bloquear o aparelho. O celular já é passado.

- E você?
 
2010

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Seta e o Alvo

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.

Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.

Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.

Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.

Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?

Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.

Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.

É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

domingo, 9 de outubro de 2011

A ARTE DE AMAR

 Há um ano, eu dediquei esse poema a meu grande amigo Anderson. Lembrei disso hoje. E como eu ainda acho mais que digna a homenagem, e como o poema ainda me arrebata, me desconcerta, o posto de novo.  É sempre bom reviver o que é bom...


Manuel Bandeira

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Travesseiro

Travesseiro
Consolo para quem não possui um eco pro Boa Noite!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Carta número 23




Meu bem,
                Escrevo agora, em tom de confissão, para não te contar os detalhes do ocorrido: Sonhei contigo! Desenterrei uma saudade tão finda, que precisou ser reinventada. Levantei num longo suspiro e entrei no banho, fugindo do teu cheiro:
                Sabonete                                       
                               Xampu
                                               Hidratante
                                                                              Desodorante
                                                                                                                             Perfume...
                Te neguei e te afirmei durante todo o dia e fui dormir no mesmo suspiro que me tirou da cama. Nosso encontro fortuito me encheu de falsa alegria, uma alegria solitária, tão egoísta que não te telefonei para contar do sonho e nem tampouco o revelo nesta carta. Fugi de ti para prolongar meu engano. E se te evito no real, no sono te chamo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Chico: choro bandido de um amor barato

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha:


...


Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons

(trechos de Amor Barato e Choror Bandido)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Esse é o conto de fadas desencontrado.




              É a história de um sapo parado diante do castelo. E de uma princesa cujas tranças foram rejeitadas.
              A história de um sapo pouco disposto a matar o dragão e que veio somente para dizer que o príncipe não chegará nunca.
              A história de uma princesa entediada, cogitando a possibilidade de virar abóbora.
              De um sapo disposto a levar a princesa para o brejo, se ela se dispuser a matar, por si mesma, o dragão.
              De uma princesa cheia de vertigens e preconceitos... Entre o castelo e o brejo, o dragão e o sapo.
              Essa é a história de um dragão que dorme alheio ao que se passa.
              E de um castelo, que é o único satisfeito na história...  

domingo, 18 de setembro de 2011

19 de setembro

               
Eu queria poder fazer algo, dizer algo para expressar esse sentimento confuso de véspera. Por isso escrevo algumas linhas, choro meu pranto escondido, faço uma oração no travesseiro e ensaio meu sorriso de segunda.
                Que a sua coragem me inspire, que minha simulação te estimule, que esse medo se desfaça no desenrolar das coisas.
                Que jeito estranho de evoluir...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Libra

Pensando em você
eu fiz uma canção,
Que ora diz sim e ora diz não...

sábado, 3 de setembro de 2011

Outra vez a porta no caminho


Decisão tomada,
Porta fechada
Mas depois de trancada, dúvida:
Fechei a porta errada?
Difícil brincar de casa,
Para quem nasceu jardim...