PANACÉIA DELIRANTE

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A matéria fina é tão fina



Depoimento de Caetano Veloso:

Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Quando, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi cajuína.

"Existirmos - a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina:
A cajuína cristalina em Teresina"

Você abusou

Adoro essa música. É um samba muito famoso, embora a maioria das pessoas só o conheçam pelo refrão. Essa é a parte mais pobre da letra e pouquissimo dialoga com as demais; o outros versos, entretanto são de extremo requinte e beleza. Por isso eu retirei o refrão...

Dedicado à Milena:


Mas não faz mal
É tão normal ter desamor
É tão cafona sofrer dor
Que eu já nem sei
Se é meninice ou cafonice o meu amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos
Que não usam o coração como expressão

Que me perdoem, se eu insisto neste tema
Mas não sei fazer poema
Ou canção que fale de outra coisa que
Não seja o amor
Se o quadradismo dos meus versos
Vai de encontro aos intelectos
Que não usam o coração como expressão...

terça-feira, 28 de abril de 2009

Teoria da cota mínima:

Eu estou fazendo uma disciplina chamada Psicologia das Relações Humanas, por isso fico cheia de caraminholas na cabeça. Desenvolvi essa teoria dentro do ônibus. Ela com certeza ela já deve existir, mas mesmo assim compartilho – a, na esperança de encontrar pessoas tão ignorantes como eu sobre o assunto. Trata-se de um raciocínio sobre a dinâmica de uma empresa ou grupo de trabalho.
Em que consiste:
Em qualquer empresa ou grupo de trabalho existem as demandas fixas e as inesperadas. As demandas fixas são distribuídas entre os integrantes ou funcionários de acordo com a função e habilidade de cada um. Até aí tudo bem...
Cada indivíduo possui então uma determinada quantidade de afazeres que são da sua responsabilidade que compõem a sua Cota Mínima. Alguém que realiza todas as tarefas da sua cota mínima não cumpre mais do que com sua obrigação com o grupo ou empresa.
Os problemas de ultima hora, entretanto, podem não ser da responsabilidade de ninguém, entretanto alguém precisa resolvê-los. Esses afazeres são, portanto, repassados para algumas pessoas que passam a fazer mais do que sua cota mínima. Natural.
Se um indivíduo está inserido numa dinâmica em que a todo o tempo ocorrem imprevistos e mesmo assim ele continua em sua Cota Mínima ou muito próxima a ela, é porque obviamente ao seu lado existe alguém sobrecarregado.
“Deus não nos dá uma cruz que não podemos carregar”, diz o dito popular. Verdade, embora o fato de conseguirmos carregar uma cruz pesada, não quer dizer que não podemos carregar uma mais leve.
As pessoas podem estar sobrecarregadas por opção – são centralizadoras – ou por que são as mais aptas a resolver determinadas demandas. Outra verdade.
A Psicologia Social denomina Vadiagem Social o comportamento de um indivíduo que passa a agir mais relaxadamente enquanto outro (s) se sobrecarrega em suas atividades. Muitas vezes isso acontece inconscientemente por que tendemos a procurar posições confortáveis na nossa vida. Por outro lado, algumas pessoas possuem personalidade centralizadora, não delegam funções e muitas vezes não se incomodam de estarem extrapolando a Cota Mínima. Determinar de quem é a culpa seria como dizer quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Claro que tudo isso é a minha opinião, estou fazendo uma divagação: amanhã perguntarei `a minha professora.
O que quero dizer no final das contas é que se restringir a Cota Mínima é como andar devagar numa pista de alta velocidade. Empresas de informática como a Google cedem aos seus funcionários 20% da semana para trabalharem no que quiserem, para inventar, propor, inovar, sair do lugar comum. Sair do lugar comum é o mínimo que agente pode fazer...

Chover no molhado


Vale a pena chover no molhado:
Nem que seja para apreciar os círculos perfeitos desenhados na água.
Nem que seja para escutar as gotas de chuva
Nem que seja para transbordar...


Ps: Para quem nunca pensou a pensou a respeito: Na frase “valer a pena”, a palavra “pena” é empregada como sinônimo de sofrimento, dor, padecimento, ou seja, o sofrimento foi recompensado. Se você nunca havia pensado nisso: ótimo, agora sabe. Se já pensou, então acabo de chover no molhado

Revolução:

“Tudo estar prestes a mudar” me disse uma voz silenciosa.
- Como? Perguntei. Inútil. Foi em vão tentar entender o irracional. Paradoxalmente a voz silenciosa gritou aos meus ouvidos durante todo o dia:
“Tudo estar prestes a mudar”
Intuição?
Profecia?
Previsão?
Verdade ou mentira?
Na dúvida, vou preparar as malas da minha alma...

domingo, 26 de abril de 2009

sábado, 25 de abril de 2009

Precipicio 2



Eu fui a Hope Hari num dia de muita chuva. Já faz alguns anos que isso aconteceu. Devido ao aguaceiro, pouquissimas pessoas se arriscaram a ir ao parque, por isso não havia fila para nenhum brinquedo.
O primeiro em que foi a Torre Eiffel: 70 metros de queda livre, o equivalente a cair de um prédio de 23 andares. Entrei no brinquedo por impulso, só voltei à consciencia normal depois que a funcionaria colocou barra de segurança. Nesse momento pensei:
- O que é que estou fazendo aqui?
O banco foi subindo lentamente. O fato das minhas pernas ficarem para fora, balançando ao vento, aumentavam meu nervosismo. De repente: Click. Olho para cima, não existe mais para onde subir. PÂNICO. Nesse momento pensei:
- Me fudi. Espera, eu tenho sopro no coração. Por favor Deus, não me deixe morrer, não me deixe enfartar de medo, não me deixe por favor.
O brinquedo vacilou algumas vezes mas depois de uma pequena pausa despencou. Parecia que minha alma queria descolar, não posso dizer que gostei da esperiencia, a não ser pelos ultimos centézimos de segundo quando o brinquedo desacelera. Saí tremendo...
Fui ainda mais três vezes nesse mesmo brinquedo. Sempre que ouvia o click me perguntava:
- O que é que estou fazendo aqui? Porque estou fazendo isso comigo mesma? O que eu estou buscando?
Já faz alguns anos que fui ao Hope Hari, mas ainda me pergunto...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Nota rápida sobre o aniversário de Erika


23 de abril. Aniversário de Erika. Vontade de escrever algo tocante, impactante, melodioso, pueril. Fiquei na vontade, quando pergunto à minha alma o que escrever ela só dá risada lembrando dos momentos vividos. Se precionar muito ela voa para São Paulo e é pior ainda. Meu amor desconhece distancias...
Feliz aniversário prima.

Precipicio 1

Era ela e o precipício. Arrisca alguns paços para poder ver a altura. Alto, muito alto.
Como seria cair de lá de cima? Sentir o vento forte obrigando os olhos a se manterem fechados, o frio na barriga e na espinha no começo, sensação de liberdade depois.
Mas não queria morrer, não queria bater no chão nem se machucar.
Pensou alguns segundos, não teria pulado se tivesse pensado mais que isso. Quando sentiu o chão se aproximar teve medo, colocou a mão sobre o rosto e prendeu a respiração. Eis que surgiu o milagre: lá estava ela subindo novamente, nova sensação de liberdade. Teria quicado? Teria morrido?
Só pulando para descobrir...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Hoje

Hoje eu acordei com peso:
Peso no estômago.
Peso na consciência.

Hoje eu estava me sentindo tão cheia que só fiz uma refeição.
Hoje eu estava tão sonolenta que quase dormi quando o sinal de trânsito fechou
Hoje eu deixei de estudar para conversar com meus irmãos em cima da cama.

Hoje, sem querer-querendo esperei um telefonema:
Ufa! Não recebi.
Seria uma daquelas coisas que começam mal e que terminam pior.
O que você tá querendo Lara?
Brincar com fogo?
Se cortar com gilete?

Eu acho cicatriz tão bonito...

Para rir de mim mesma 1.

Sou de uma timidez patética:
Agora a pouco fiquei corada com o comentário de Laura: “tenho lido você...”
Estranho pensar que existe alguém levando a serio o que escrevo, será que me descuido e revelo o que quero esconder ou a graça está em esconder o que se espera que revele?
Outro dia estava voltando para casa quando dois rapazes me cumprimentaram de dentro de um carro:
- Bom dia!
Ignorei de inicio, segui andando e nem deu tempo de esboçar um sorriso: eles entraram no estacionamento do supermercado. Que boba! Pensei. Eram dois rapazes interessantes, daqueles que se encontrasse numa festa tentaria chamar-lhes a atenção. Eu estava voltando para casa para mergulhar num mar de tédio, o que tinha a perder?
- E se tivesse dado corda? E se tivesse entrado no supermercado? Descabelada e suada daquele jeito (eu tinha acabado de correr na orla)? E se eles estivessem comprando bebidas para uma festa? E se me chamassem? Eu iria? Eu não tenho amigos no meu bairro.
Minha timidez segue assim: sumindo nas horas inapropriadas e aparecendo quando não deveria. No momento do desconcerto o SIM vira NÃO, o NÃO fica mudo e todo mundo sabe que o “NÃO” que não é dito é praticamente um “SIM”. E o SIM que não é dito, vira um NÃO ou um TALVEZ ?
Nessa confusão já nem sei o que digo, quanto mais o que escrevo.
- A carapuça é assim folgadinha mesmo? Há... é do modelo? Hum... então serviu. Se eu vou levar? Qual o preço? Olha, eu vou dar uma voltinha e depois se for ficar com ela eu volto, ok?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Eu e João

Na época da escola era engraçado: Aquela menina pequenininha andando de lá para sempre acompanhada de um garoto enorme. O porteiro começou a falar que era meu guarda costas, mas a verdade era que EU que exercia esse papel.
João jamais foi meu amigo. Não sei como e nem quando, pulou de colega de escola para irmão. Irmão sim, ou pelo menos é assim que sinto: irmão mais novo, embora seja mais velho. Não consigo lembrar quando começamos a andar juntos e muito menos o por que: temos gostos diferentes, jeitos e até as atitudes... Tem o Teatro. Será que o teatro nos uniu antes mesmo de descobrirmos o amor pelo teatro? Seria o teatro uma força parecida com o destino?
Sinceramente, acho que não.
Acho que entre mim e João existe espaço para ser bobo, bobo mesmo, falar um monte de babaquice e dar risada das coisas mais idiotas do mundo. Sem julgamentos, nem satisfações. João é daquelas pessoas que agente pode mandar ir para a porra num dia e convidar para o cinema no dia seguinte. Ou cinco minutos depois.
Escrevo esse texto em comemoração ao seu aniversário, um texto pode não ser uma roupa ou um porta retrato, mas é uma demonstração pública de afeto ao meu amigo mais antigo (ou melhor, ao meu irmão mais recente).
Feliz aniversário,

Larete

domingo, 19 de abril de 2009

Dia de índio é um dia de chuva no meio do feriado.

Discutindo astronomia

"Se a teoria do big bang for verdadeira então o universo não é infinito, pois em determinado momento encontraremos um espaço sem astros e estrelas" - Li isso no ensino fundamental.
Quem foi que disse que o vazio não faz parte do universo?

A Lua e a estrela

Quando era criança e me disseram que a lua não possui luz própria custei a acreditar. Então a luz da lua é na verdade a luz do sol? Mas se é assim porque prestamos mais atenção à lua?
Ou melhor, de que adianta ter luz própria e não mudar nunca?
De que adianta ter luz própria num dia de chuva como hoje?
De que adianta se é a lua que é cantada pelos poetas e enamorados?

terça-feira, 14 de abril de 2009

O que é que você tinha ontem Lara?

Estou te achando abatida?
Você está distraída...
Você não está triste não, está?
Não, gente. O que eu tinha ontem se chama: Alegria para dentro. Trata-se de um disturbio que te faz querer exercer seu direito de ter prazer o dia inteiro, estar apenas no lugar onde se quer, usurfruir da sua livre escolha e aproveitar as pequenas coisas. Sintomas:
Menos reclamações
Olhos fechados enquanto as pessoas falam (fica mais facil de criar imagens dentro da cabeça)
Facilidade em tomar decisões
Vontade de sair da rotina.

Se por acaso alguem acordar com tais sintomas, evite tomar Tylenol e procure um médico (se for bonito, se não for, não precisa)...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

A história de Camila

Essa idéia já estava lhe rondando a cabeça, mas era contra os seus princípios, então resistiu no primeiro dia. No segundo tomou coragem: acordou, arrumou-se para o encontro marcado às pressas consigo mesma e foi.
Uma moça a esperava, pediu-lhe a mão, ela deu.
Algum tempo depois saiu levando consigo a novidade: unhas pretas. Pretas, pela primeira vez e logo pretas?
Sim, pretas!
Os três reais mais bem pagos da sua vida.

domingo, 12 de abril de 2009

Se eu fizesse todas as coisas que eu tenho vontade, teria muito mais amantes e muito menos amigos...

Viajar para quê?

Viajar pra quê?
Viajar é bom para agente ver que consegue morar em outro lugar. Ou não.
Viajar é bom para agente ver que poderia ter outros amigos. Ou não.
Viajar é bom para agente ver que poderia ser de outro jeito, poderia ser alcoólatra, baladeira, patricinha, natureba, Punk, Pink, Ploc etc. Ou não.
Viajar é bom para dar um tempo, para sentir saudades, embora tenhamos que admitir que tem um monte de coisas da qual não sinto falta.
Volto hoje com vontade de ficar: o mar ainda não fez falta, nem meus compromissos, nem os amigos (não ainda), talvez meu irmão. Saudade mesmo só do céu azul de Salvador, que aqui em São Paulo o céu é apagadinho, apagadinho, de uma anemia falciforme.
Saudade mesmo só da viagem: do pagode, da baladinha, das pizzas, do japonês, dos amigos emprestados, dos parentes, do friozinho de manhã, dos passeios de carro e do monte de besteiras que comi e falei nesses dias.

“Eu to me despedindo pra poder voltar”

Para: Minhas quelidas, tio Jorge, Bráulio, Duda, Amanda, Tia Ró, Rick, Dé, Aninha, Belinha e Jaca

Tu e eu

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães o mais leve.
És vidrada no Lobo
eu sou mais albônico.
Tu, fão.
Eu, fônico.
És suculenta e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu, cano.
Eu, clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo

Luis Fernando Verissimo

sábado, 11 de abril de 2009

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite



Sendo hoje sábado de aleluia, acredito que deveria escrever algo para celebrar esta data. Mas o quê? Será que deveria dar algum conselho, ou sugerir uma reflexão para o resto do ano? Que piada! Se pudesse dar um conselho seria às avessas: erre, ainda que conscientemente, abra espaço para as experiências não vividas... Mas não combinaria comigo, até combinaria, mas não tenho nem idade e nem moral para dar um conselho desses (mas se a carapuça servir, vá fundo).
Já sei! Um conselho batata: leia poesia, biografias e converse com os mais velhos (principalmente com os de mente jovem), faça o jogo do contente, dê comida aos mendigos, use protetor solar, coma chocolate e tome um porre com seus amigos. Jesus bebeu vinho com os seus antes de morrer e disse para fazermos o mesmo. Ame, ainda que de mentira, pois é melhor uma falsa emoção do que emoção nenhuma. Viaje, ainda que pela sua cidade, ainda que pelo seu quarto.
Faça de vez em quando uma faxina moral: jogue fora os hábitos que te atrapalham, as pessoas que te empatam e as sensações de “de javú”. Menos televisão! Menos televisão a não ser para assistir num dia de frio, usando meias, lençóis, comendo pipoca, brigadeiro ou qualquer outra coisa que lhe apetece. Menos roupa! Principalmente em Salvador que está um forno, principalmente se estiver em casa, durma com pouca roupa, ou roupa nenhuma.
Amanhã é domingo, dia da ressurreição, dia de fartura. Então: um brinde à fartura, uma vida farta para todos. Viva a vida fartamente até ficar farto dela. Desejo isso para você e para mim. Prefira colesterol alto a anemia, cansaço a preguiça. Comam muito chocolate (dieta é coisa de segunda-feira). Jogo para o universo esses votos e rezo para que caiam sobre mim...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Brincando de Mario de Andrade


Inda hoje pico no viado mato afora, pego a maquina-avião pra topar com a taba São Paulo, cidade macota esparramada a beira-rio do igarapé Tietê. Cunhatã que sou, vou visitar minhas muitraquitãs que lá estão e ver os filhos da mandioca que moram por lá, por isso preciso ir pra jirau pro mode pular cedo do ubá que máquina-avião não espera e sem ela pra conseguir ir pro céu só se não voltar nunca mais. E jacaré quer perder a viagem mano? Nem eu!
Vou dar então a despedida para que Véi, a sol, chegue logo e eu possa deixar meu Uiraroquera. Adeus meu povo! Adeus patricío! E tem mais não.

Ai, que preguiça!

sábado, 4 de abril de 2009

Sopro

Cazuza

Antes de ontem passou o filme. Aproveito a desculpa para colocar um poema que adoro:

O Homem Belo

O homem belo anda na rua
E todo mundo olha
Homens, mulheres, velhos, crianças
E ele sabe que é belo
E tem um quê de maldade no olhar
Pode ser médico, advogado, engenheiro
Um homem sério, inteligente
Mas sabe que é belo e seduz de propósito
Homens e mulheres
Geralmente os mais narcisistas
Casam com mulheres feias
Os mais modernos, com gatas e gatos
Os mais caretas com a mãe
Mas o homem belo é mau

Indigente, Indigesto

Quem passa pelo Canela sabe,
Existe um mendigo que passa horas girando um pedaço de ferro na esquina da Reitoria. Alguns dias passo e ele está fazendo desenhos em giz no chão, algo aparente complexo pois ele para, reflete, apaga o desenho, procura respostas... Procuro respostas...
Quando entrei na Escola de Teatro ele era apenas um mendigo, nunca me pediu dinheiro é verdade, mas não apresentava traços de demência. Hoje, gira ferros, faz desenhos no chão e conversa sozinho, enlouquecido pela fome, faço questão de repetir: Enlouquecido pela fome diante dos meus olhos passivos.
E agora José?

Prece Noturna

Encosta seu fogo em mim
Pra ver se queima
Encosta a sua língua
Para ver se molha
Encosta o seu peito
Para ver se eu durmo...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Assum Preto


"Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor"

Essa estrofe durante uma hora ou duas do meu dia representou-me tão fielmente que não tinha como não pedir licença para Gonzagão para vestir-me em pretas plumas e cantar por alguns minutos...

"Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió"

Passado o primeiro momento, passada a primeira estrofe, soltei o meu grito de alerta (parafraseando outra música). Não, ninguém vai me cegar. Passaro não é vitrola pra ficar enclausurado enfeitando ouvido alheio, eu fico com meu canto feio, que embora desafinado, espalha por todo lado aquilo que o olho avista e o coração atesta.