PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Roteiro inexistente para uma cena triste

Vou descrever o cenário de uma cena triste. Uma cama preta. Uma luz apagada. A luz do celular ilumina o rosto triste. As lagrimas refletem a luminosidade. Ao fundo, tocam Luiz Melodia para denunciar que ela não está sozinha. Só, é claro que está. Apenas não está desacompanhada. No outro cômodo, outra música alegre. Aqui dentro a mesma cena triste. Que elemento mostraria para o público que não sofro no meu quarto? Que esse não é meu colchão, meus lençóis, minha música. Que não tenho minha cachorra lambendo minhas lágrimas. Nem porta minha para trancar. Como mostrar na lente da câmera que essa música é irritante? Que todo mundo deveria ter direito de sofrer em silêncio? odo mundo deveria ter direito de sofrer em silêncio? Ou escolher sua própria trilha. Agora mesmo, toca Vinícius. Amo Vinícius. Odeio Vinícius. Eu queria o direito de sofrer em paz. Sem Vinícius, sem Melodia. Só o ruído insistente das vozes da minha cabeça. Como captar com a câmera as vozes da minha cabeça? Como gravar essa cena sem ação, sem roteiro, sem vontade de nada? Parte dois Você sai e diz que vai tomar uma cerveja Eu pergunto se te espero Você diz que sim Eu te espero Você não volta Com que facilidades homens fazem isso. Pode me esperar. Eu volto quando não tiver nada mais interessante para fazer. Eu queria tomar três ansiolíticos. Não tomo. Você disse que ia tomar uma cerveja apenas. Que mentira. Eu preciso parar de acreditar nas mentiras que você conta para você mesmo