PANACÉIA DELIRANTE

segunda-feira, 25 de abril de 2011

oração dos entediados

Que o extraordinário se faça presente

Ao olhos

E ao paladar:

Prazer.

Para os ouvidos,

Vozes.

Para o corpo:

Tato.

Para as conversas:

Boas Novas.

Pés para seguir a diante

Sabedoria, para quando voltar

Esperança para todos os males

Fé, que é o alimento dos errantes.

domingo, 17 de abril de 2011

Ao acordar do cochilo

Vixe, sonhei contigo de novo, passarinho

E se digo, passarinho,

É que passarinho era, ciscando entre as roupas do sonho

Surgindo e dessurgindo,

Quando homem já era,

Me chamou para jantar

Ir ao teatro

Eu aceitei,

Saímos

Mas foi só...

Cabou o sonho

Ou falhou a memória

Abro o olho, ainda é noite

A janela está aberta

Suspiro:

Vem cantar em meu ouvido, passarinho.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bula


Sonridor
Anador
Sylador

Prozac

Cataflan
Paratran
Diazepam

Prozac

Buferin
Somalgin
Melhoral

Prozac

Doril
Dorilax
Tilatil

Prozac

Tylenol
Novalgina
Tenotec

Valium

Adianta tomar uma aspirina, ou bate na quina aquela dor?

Para Ângelo...

sábado, 9 de abril de 2011

Depoimento


Eu não sei de nada disso não, seu moço. Na verdade, sei de muita pouca coisa, embora finja o contrário. A verdade é que sempre fui um errante, no sentido mais genuíno do termo. Erro mais que acerto, tropeço mais do que ando. Se eu pudesse voltar no tempo, mudava um bocado de coisas, de modo que não estaria conversando agora com vossa excelência. Não estou me queixando da companhia, não senhor, mas é que eu perdi muita coisa e deixei de ganhar outras tantas, coisas que eu queria, embora nem sempre soubesse. Se eu voltasse no tempo, seu moço, sentiria saudades de outras coisas, mas talvez essas não me doessem tanto...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Memórias roubadas

 A senhora me chamou no quarto.Mostrou a carta amarela, guardada mais de vinte anos, não era de meu pai. -Quase foi, disse ela. Eu li a carta e nada disse, mas era tudo muito bonito, confuso e impulsivo. Anos depois escrevi um poema branco



Esses versos de improviso
Regados a sono e a vinho
Refletem o que senti e sinto
Naquela noite de oitenta e poucos

Escrevo sem rascunho,
Como a vida
E se te chamo de querida
Não me veja com cinismo
É só uma rima pobre
De quem devia dormir
Mas não podia

E escreveu uma carta
Que trouxe esse momento
Pra depois do ano dois mil
Onde uma jovem suspira
Relembra em versos,
Digita
A noite que não assistiu

sábado, 2 de abril de 2011

Auto-censura

Agora falando sério
Preferia não falar


Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo pra eu cantar

Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério

Trecho de " Agora falando sério",  de Chico Buarque"