PANACÉIA DELIRANTE

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Fraqueza




Porque não é só isso
Nem tudo isso
Não é tanto
Tampouco, é nada
Para muito, falta tanto.
Para aquilo, falta quase.
Para mais, falta coragem.
Para o fim, falta o impulso.

Alguma coisa acontece...

No meu coração...

Não, não é a música do Caetano. Ou pelo menos, não é só a música. É um aperto contido, uma coisa. Um “não sei o quê” está rolando. Mas alguma coisa está fora da ordem... Corro para o computador, antes do ensaio, para escrever: o quê? Para quem?

Cinco minutos para o ensaio começar... Correria! Medo de não chegar. Não falo só do ensaio, é claro. Mas hoje me sinto insegura como nunca, carente como nunca...

Como sempre.

Três minutos... Não dá tempo nem de sofrer nos dias de hoje...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Hoje

Hoje é sexta feira,

O cansaço (ou o medo do cansaço) me desencoraja para qualquer programa mais agitado. A televisão ligada não me parece nada convidativa. Sento em frente ao computador para escrever... Escrever sobre o quê?

Aquilo que precisa ser dito deve ser omitido pela cautela, nenhuma pergunta a ser feita ao leitor desocupado, nenhuma letra de música ou trecho de poema... Nada. A sexta se despede pela janela do apartamento. Nem fazia tanta questão.
O filme! Ainda não vi...

Ver filmes têm sido uma de minhas maiores distrações. Posso terminar aquele livro também, mas é um livro da pesquisa e eu acho meio degradante para uma sexta à noite. Mas quem sabe...

É sexta feira, já estou no quarto parágrafo e ainda não disse nada de substancial. Se você, leitor, chegou até aqui comigo, é porque deve ser uma pessoa otimista à espera que algo de interessante apareça ao final do texto (ou da sexta)...

Mas não seria a vida uma determinada espera?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Braseiro

Quero justiça, alegria e quero paz,
Mas com direitos iguais, como já disse Tosh

E quero mais que um milhão de amigos do Roberto Carlos
Ser como Luís e suas maravilhas do mundo quero comer

Quero me esconder debaixo da saia da minha amada
Como Martinho da Vila, em ancestral batucada

Eu quero é botar meu bloco na rua, qual Sampaio

Quero o sossego de Tim Maia olhando um céu azul de maio

Eu quero é mel, como cantou Melodia

Quero enrolar-me em teus cabelos
Como disse Wando à moça um dia

Quero ficar no teu corpo, como Chico em Tatuagem

E quero morrer com os bambas de Ataulfo bem mais tarde
Só que bem mais tarde

Eu quero ir pra ver Irene rir, como escreveu Veloso!



Trecho da música Braseiro, de Pedro Luis

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Até mesmo a asa branca já voltou para o sertão

Não. O sertão não irá virá mar. Mas os centros urbanos estão chegando perto disso. Vendo a chuva desabar, lembro de um professor meu (ele era estrangeiro) que disse uma vez:

- Acho engraçado que aqui, quando chove, as pessoas ficam tristes.

Na época achei graça. Hoje, admito que a chuva tenha o poder de deprimir um pouco agente...
A solidão do guarda chuva, o frio da roupa molhada, a paisagem há tantos dias acinzentada. A espera no ponto de ônibus, o trânsito engarrafado, a vontade de ficar em casa: Todas essas coisas me tiram toda a esperança.


Tudo o que NÃO preciso é tomar um banho de chuva...



Dedicado à menina que disse que é um cacto, à menina que sonha em virar andorinha para fazer verão.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina

Eu, numa fase muito respetitiva. Muito. Hoje ouvi essa música do Zeca. Estou postando, porque a letra me agradou muito (mais que a melodia). Mas quem quiser conferir, acha no youtube...

Meu amor minha flor minha menina
Solidão não cura com aspirina
Tanto que eu queria o teu amor

Vem me trazer calor, fervor, fervura
Me vestir do terno da ternura
Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio
Isso e ócio

Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina

Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto

Minha cora minha coralina
mais que um goiás de amor carrego
destino de violeiro cego

Há mais solidão no aeroporto
Que num quarto de hotel barato
Antes o atrito que o contrato

Telefone não basta ao desejo
O que mais invejo é o que não vejo
O céu é azul, o mar também

Se bem que o mar as vezes muda,
Não suporto livros de auto-ajuda
Vem me ajudar, me dá seu bem

Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto

domingo, 11 de abril de 2010

Operária em construção

Agente começa a construir uma coisa. Por exemplo, imaginemos uma casa. Preparamos o terreno, fazemos a base, começamos a levantar as paredes, cuidamos da alvenaria com todo o carinho... Aí vem: pinta, lixa, ajeita a afiação, a tubulação, confere a ventilação, os telhados e todos os detalhes para que a casa fique impecável. Nada disso adianta, entretanto, se agente não se afastar da casa, não olhar de longe se as paredes estão retas, se as cores combinam, se o telhado está uniforme. Tão importante quanto o vínculo com a obra é o saber desvincular.

Quão importante é o saber se afastar (o modo e o momento)...

Se agente se apega demais, perde a visão do conjunto, fica alienado, iludido, preso na ideia da casa que se está construindo quando na verdade se está construindo uma outra coisa.

Se nos afastamos demais, perdemos os detalhes, não sentimos o cheiro da tinta, não nos sujamos com o cimento, não nos envolvemos, ficamos frustrados, pensando em como a casa deveria ser, sem aproveitar como ela está, seja para usufruir ou para aprimorar.

Esse negócio de construção é sempre complicado. Por mais que haja o esforço em se chegar ao término, não tem jeito: É TIJOLO POR TIJOLO.

Paciência.


(publicado pela primeira vez em 18 de fevereiro de 2009)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Seu Zé...

Nesta madrugada faleceu uma figura importantíssima para o teatro baiano. Não era ator, diretor, cenógrafo, figurinista, iluminador ou outra coisa do gênero. Seu ofício? Platéia e amigo da arte dramática.

Seu Zé freqüentava diariamente, numa disciplina espartana, a Escola de Teatro da UFBA há muitos – sabe-se lá quantos – anos. Aquele senhor baixinho, careca e bigodudo era presença certa em todas as estréias e re-estréias de alunos e ex-alunos. Digo isso porque Atire a primeira pedra... cumpriu seis temporadas entre 2008 e 2009, em todas, ele estava presente, assim como esteve em minhas mostras acadêmicas no período de faculdade.

Reza a lenda de que Seu Zé era funcionário da UFBA, quando foi transferido temporariamente para a Escola de Teatro. Encantou-se com o universo artístico, e terminado o prazo estabelecido de permanência, pediu sua transferência definitiva. Como seu pedido lhe fora negado, pediu demissão e se decretou um servidor autônomo (ou guardião da Escola, nas palavras de Paulinha). Quando entrei para o curso de interpretação, Seu Zé já acumulava muitos anos de vigília e de audiência.

Hoje, soube do seu falecimento pouco antes de entrar em cena, não pude ir ao velório, que foi nesta tarde. Lamento a perda de uma figurinha tão marcante, que diferente de mim, nada pedia ao teatro, não aparentava esperar qualquer tipo de reconhecimento (a não ser, alguns convites).

A Bahia perde um espectador fervoroso! Um amante do teatro!

Dedico-lhe essas linhas, não na intenção em transformá-lo em santo, mas na tentativa de perpetuá-lo na memória, nem que seja a de um modesto blog.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Para ninguém

A tristeza
Não, ninguém vai adivinhar a sua tristeza quando você se tranca no quarto e quer se convencer de que quer desaparecer. Não adianta esperar: o telefone não vai tocar, sua mãe não terá um pressentimento e nem seu amigo irá bater à sua porta com uma caixa de cervejas.

A tristeza e a solidão caminham juntas.

Não se iluda com o twitter: anunciar a própria tristeza não te fará menos infeliz, no máximo pode confortar outros indivíduos que pensavam ser os únicos. Ainda assim, será um exercício inútil, pois a dor do outro sempre é menor que a nossa unha encravada... Com sorte, você receberá uma mensagem de apoio ou encontrará alguém no MSN disposto a ler suas lamúrias. Mas você não se sentirá melhor:

A solidão e a tristeza andam juntas

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O leão

Desejo... eis a força que domina o mundo. Teatro é desejo puro... Desejo é força de dominação: de um personagem, de uma técnica, de um público, de um grupo.
O ator deve matar um leão por dia. Sim? Não? O ator quer adestrar um leão por dia, sem chicote. Uns dias consegue, outros não. Com o tempo pode ir ficando mais fácil. Ou o leão pode ir ficando maior, de outras raças, cores.
O ator não quer matar. Quer adestrar. Depois de morto, com quem dividiria a jaula?





Acabei de encontrar esse texto meu em um antigo blog do qual participei em 2007

sábado, 3 de abril de 2010

Na rede

Eu tinha dez anos. Era costume, nessa época, passar os finais de semana na casa de praia. A família inteira se reunia: as crianças corriam pelo jardim enquanto os adultos tomavam cerveja discutindo política e futebol. Ainda tinha o videokê, de maneira que as tardes eram embaladas pelo som desafinado dos cantores de fim de semana.

Nesse dia, minha prima estava na rede com o namorado, quase dormindo, enquanto eu esperava a minha vez de demonstrar meu talento musical. Não me lembro quem estava cantando antes de mim e nem tampouco qual a música que desencadeou a cena: ela chorava copiosamente nos braços do namorado, que a consolava com paciência.

Outrora, estava noiva de outro rapaz, que também chegou a freqüentar nosso retiro familiar. Um acidente de moto, porém, interrompeu os planos do casamento, transformando em viúva aquela que nem havia chegado a ser esposa.

Por isso, nesta tarde, a moça chorava tanto. A música reforçava a ausência do noivo, a perda repentina, lembrava os momentos vividos naquela mesma casa (quem sabe se naquela rede?). Acabou a brincadeira, a cerveja, a cantoria... Tudo era apenas dor e constrangimento. As pessoas corriam para buscar um copo d’água, desligar o videokê, pegar um lenço, um calmante, qualquer coisa. Eu, parada, olhava apenas para ele.

Ela chorava a perda de outro nos seus braços e ele não se queixava! Agüentava tudo com resignação, abraçando-a com força enquanto ela berrava desconsolada. Tive pena dele - mais do que dela - achei tão humilhante aquela situação em que se encontrava, à mercê de uma canção, exposto aos habitantes da casa, esquentando a cama que o morto esvaziou. Minha mente infantil não conseguia compreender tamanho grau de desprendimento, embora enxergasse no gesto do rapaz a demonstração de alguma forma de afeto muito superior a qualquer experiência que já tivesse vivido. Tinha apenas dez anos quando descobri que nada sabia dos homens e dos sentimentos.

E ainda hoje, não sei...

Meu mundo ficaria completo

"Não é porque eu sei que ela não virá que eu não veja a porta já se abrindo
E que eu não queira tê-la, mesmo que não tenha a mínima lógica nesse raciocínio
Não é que eu esteja procurando no infinito a sorte
Para andar comigo
Se a fé remove até montanhas, o desejo é o que torna o irreal possível
Não é por isso que eu não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não é por isso que ela não possa estar feliz, sorrindo e cantando
Não vou dizer que eu não ligo, eu digo o que eu sinto e o que eu sou"




Trecho da música "Meu mundo ficaria completo", de Nando Reis (composição)