PANACÉIA DELIRANTE

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Dicas de um cuco para uma segunda feira




De nada te adianta ficar olhando esse relógio, minha senhora
O tempo só passa quando quer
Deixe ele andar sozinho, não me venha com empurrões
Se ele parar, só se parar, dê corda
Um pouco de ação, não irá nos fazer mal
A melhor forma de matar o tempo
É esquecer o tempo
Que o tempo não se mata
Apenas se alimenta

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Segredo



Que sorte da minha boca
Encontrar os teus ouvidos...

Para Mateus...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Amor burguês


Podia pensar em você o dia inteiro
E fazer de ti meu esporte
Meu salário
Meu emprego
Como assim já tenho feito,
Só me restaria agora,
Conseguir algum dinheiro.

sábado, 10 de novembro de 2012

Labirintite



Eu não devia ficar insegura nunca,
Ou ter um piloto automático pra ditar o rumo
Quando o rumo não for claro.
Eu deveria ter um manual
Ou um pedaço de vidro pra quebrar em caso de emergência
Eu deveria saber jogar tarô
Ou ter minha avó sempre por perto
Ela poderia ser liberal e aberta
Podia indicar um norte, dar conselhos e dicas
Podia me ensinar a costurar e ter paciência
Eu deveria ter um pontapé para seguir sempre em frente
Mas o que eu queria mesmo era um remédio
Que me tirasse dessa labirintite aguda

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Simplificando





No meio da tarde, veio o telefonema...
Fiquei contente, mas não sei se foi afeto ou vaidade.
Nem sabia se tinha ligado por saudade ou abstinência
Ele ligou.  Fiquei contente
Melhor se ater somente aos fatos... 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

João Gabriel


É que eu estava quase triste, pensando em tudo o que eu deveria fazer...
Pensando nos meus fracassos...
Suspirando minhas saudades...
Estava olhando para um lado da minha vida, um lado quase triste,
Quando você veio me dizer que estava cansado
Querendo falar da lição de casa
E da peça de teatro do colégio
Eu lembrei do dia em que você nasceu e isso fez meu pensamento olhar para outro lado
E era um lado cheio de alegria
Eu mesma me enchi de alegria por sua existência.
Meu estado de espírito mudou como se alguém tivesse virado a ampulheta.
Esse alguém era você
 E te agradeço por isso...

Nudez




Ela tinha um defeito. Poderia ser alta demais, magra demais, ser gorda. Poderia ter uma perna mais curta que outra, mas não era nada disso. Tinha um defeito totalmente disfarçável, como se fossem sardas.  Poderia esconder com maquiagem, poderia usar um sutiã com enchimento... Em suma, era um tipo de defeito que, se a gente não corrige, pelo menos esconde.
Mas ela o mostrou para uma multidão de anônimos enquanto se apresentava. E era de um despudor tão grande perante aquela falha que, até mesmo eu que já a conhecia, precisei que me apresentassem de novo, pois era preciso refazer a sua figura em minha mente.
Tão logo ela terminou de expor aquele defeito (sem a menor necessidade), explicou para os presentes a razão do feito, com uma lógica e a naturalidade tão grandes que parecia nos insultar:
- Estou mostrando para não ter que esconder.
 Essa história já deve ter uns cinco anos. Ainda assim a cena insiste em reprisar nas minhas lembranças para que me sirva de exemplo. Eu sempre gostei de engolir os meus defeitos como quem engole o choro. Eu nunca fui muito boa em engolir o choro, mas me treinei para dissimular a raiva, o ciúme, a inveja e o tédio.  Sempre gostei de portas fechadas e de tirar a máscara para tomar banho.
- Estou mostrando para não ter que esconder.
A frase fica se repetindo como se quisesse ser verdadeiramente escutada. Eu tento atender seu pedido, mas leva tempo. Tenho aprendido recentemente que algumas coisas precisam de tempo para serem ouvidas, vistas, entendidas. E eu vou escutando aos poucos...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Colecionadores


Se eu conhecesse um velho mais ou menos sábio, ele me diria que somos todos colecionadores de feridas.  Falaria docemente que viver deixa sua marca e algumas cicatrizes são irremediáveis. Me explicaria que é normal sentir saudade do que não está mais lá e que até mesmo sentir a falta de si próprio acontece nas melhores famílias. Esse velho inventado me diria que essas feridas são os nossos prêmios mais preciosos, é o que nos faz mudar de direção. As crianças possuem poucas feridas, o que é bom. Mas é triste. Os adulto possuem muitas feridas, o que é triste. Mas é bom.

Esse velho teria que ser sábio, mas não o suficiente para achar que isso é obvio demais para ser dito...

domingo, 15 de julho de 2012

Epifania


A epifania se esconde nas pequenas coisas
Hoje mesmo,
Esta tentando recuperar o sono perdido quando começou:
Um apito.
Deve ser mensagem de celular. Voltei a dormir
Outro apito
Mensagem de novo?
Apito
Levando, desligo o celular
Apito
Vou na cozinha. Será o microondas? Desligo
Piiii....
Será o relógio do fogão? Desligo
Apito
Será o vizinho? O rádio? A TV?A impressora?
Apito
Será coisa da minha cabeça?
Uma hora e meia de apitos consecutivos e você já considera fugir de casa. Já planeja para onde ir (e nunca mais voltar). Não importa se ainda está pijamas: não há muito tempo antes da perda total da sanidade
Apito
A faca de carnes nunca pareceu tão bonita. Mas você resiste
Apito
Enfim, desisto. Sento na cadeira desolada e escuto: O telefone... avisando que está ficando sem bateria... É aí que começa meu momento de epifania. Olho pra cima e falo diretamente para ele: – Deus, muito obrigada por essa graça matutina! Por não estar vagando na rua de camisola! Por não ter me cortado com a faca da cozinha! Obrigada por esse telefone apitando na manhã de domingo! Ou não

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Análise


Foi então que ele resolveu fazer análise.
Não que ele acreditasse nessas coisas,
Na verdade ele achava que terapia era hobby de pseudo-intelectuais;
Talvez o que ele quisesse mesmo, era uma desculpa
O casamento tinha acabado e ele precisava culpar um novo alguém por seus problemas:
- Desculpe, a terapia não está dando certo.
Aí, quando ele desistisse, poderia dizer para os amigos:
- O analista tentou me pasteurizar... (tinha lido essa declaração de Vinicius de Morais e gostou do uso da palavra: pasteurizar)
Talvez ele estivesse precisando ter alguém pra quem voltar em tempos difíceis:
- Andava meio deprimido, voltei para a terapia...
(A esposa tinha dito que não voltava nunca mais...)
Foi então que ele casou com o analista. Já faz dez anos!
O analista não lhe exige monogamia
Não liga pra dizer que bateu o carro
Não o convida para festas de família
Não discute a relação...
Ele só precisa comparecer uma vez por semana e pagar a consulta.
E melhorou: perdeu peso, está mais tranqüilo, mas contente...
O que ele não sabe, é que o analista anda pensando em lhe dar alta...
Toda relação tem seus autos e baixos...

domingo, 8 de julho de 2012

Domingo, 08 de julho de 2012


Domingo, 08 de julho de 2012

Admito. Sou obrigada a reconhecer, quase que contrariada, o poder da sua presença. É realmente fascinante como se transforma nas lentes (mesmo que não haja lente) o cenário e os estados (mesmo que só seja meu estado) diante de sua aparência. A razão disso, desconheço. E desconfio inclusive que é o mistério que tempera o fenômeno. O não saber qual a graça da sua presença, onde se esconde a beleza que vejo (que não é a beleza notória, efêmera) e reconhecer minha própria transfiguração é de uma fascinante vertigem. Você é vertiginosamente fascinante, diria. Ou pelo menos o é essa prosa inventada a improviso (não essa que está sendo escrita), esse drama de eterno suspense e inúmeras reviravoltas. Já te vi de muitos jeitos, mas não importa quantos, (mesmo quando olho com raiva ou desprezo) sou obrigada a reconhecer o poder da sua presença (o que me traz ao ponto inicial da carta).

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Segunda feira

São pequenos pactos
Acordos de ser e não ser
Comer e não comer
Ir e não ir
Fazer e não fazer
Que nos mudam
De fora para dentro
E mostram
Que precisamos cuidar da gente.
Depois de quebra muitos desses pactos
A gente aprende.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Carta para Mateus



Não fique com preguicinha de mim,

            É que eu não tenho dormido direito e isso tem e deixado meio assim... É que essa noite eu só consegui pregar o olho quatro da manhã e quando o telefone tocou pela primeira vez eu coloquei no silencioso. Mas quando você ligou eu acordei (mesmo não tendo escutado nada) e não fiquei de mau humor. Isso quer dizer alguma coisa, né?
            Aí eu tive que dizer que te adoro, que você é daquelas pessoas que podem me ligar de madrugada que eu não ficarei com raiva, que você é uma das pessoas mais importantes que conheci recentemente e blá blá blá. E eu acho que você terá que ficar na minha vida para sempre, por que eu sinto saudades de um dia sem suas rabugices. Agora, antes que você morra de preguiça e me mande fazer gel de linhaça, eu vou terminando por aqui. Vou tomar um remédio para dormir pra acordar menos sentimental. Mas eu tinha que dizer tudo isso, por que precisava mesmo. E talvez você esteja  num daqueles dias em precisa escutar... Embora eu duvide.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Foi quando eu disse pra ele:


-Não é que eu esteja triste. A vida está boa, tem feito sol em salvador, o trabalho tem dado frutos e a família está com saúde. Isso tudo é bom, mas poderia ser ótimo. Essa constatação faz o “bom” ser pouco. Eu não sei você, mas acho um desperdício de vida essa felicidade contida. Eu deveria estar contente por não estar mal e estou... quase sempre. Mas já são quatro da manhã e eu preciso dizer que não me conformo. Talvez seja até pecado, mas eu lembro a última vez que chorei de alegria e já faz dois anos...

domingo, 3 de junho de 2012

Dieta

Coração doce atrai as moscas
Quem quer ficar com o pedaço
Que só quero dar a você?

terça-feira, 8 de maio de 2012

Para Milena

Para te dizer que amor não tem idade. Não faz aniversário. O amor quebra os relógios assim que nasce, pois se recusa a andar em círculos. Só pra te dizer que te conheci com 17 anos e fui te amando e amando e amando... Amo o nosso grupo, nossas descobertas. Um beijo, minha estrelinha, a interrogação que paira sobre toda essa Panacéia chamada teatro. Esse delírio chamado vida. Feliz aniversário!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estados

- Que foi?
- Nada...
- Tudo bem?
- Tudo...
-O que aconteceu?
- Nada... não to triste. Só não to nada...
- Puxa, que triste.
- Pois é... 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Deixa


- Espere!

Era o que esperava ouvir enquanto descia as escadas apressado. Se ela tivesse dito “espere” ele teria despejado todas as palavras exaustivamente ensaiadas em sua mente. Mas ela se ateve no andar superior, estática. Estava calada. Talvez nem estivesse mais lá. Ele ainda se deteve diante da porta, como um ator que espera a sua deixa ser dita. Silêncio. Forçado a improvisar, ele bate a porta e sai de cena, derrotado. Se fosse uma peça de teatro cairia o pano. Mas a vida não se divide em atos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Noite


Tem noites em que bate uma ausência sem sentido ou argumento
Aperta uma saudade que vem não sei de onde
Ou melhor: de onde vem eu sei, não sei o porquê.
 Saudade atrasada. Só serve para tirar o sono, resgatar memórias e abrir a geladeira.
Eu fico injuriada, levanto da cama e rabisco um insulto:
- Paixão, ô sentimentozinho mais... ANACRÔNICO!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Ai de mim,
Tanto drama interior
E ninguém para aplaudir!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Invencionices...

 
É tão gostoso sonhar um amor inventado. Amor criado sob medida para alimentar nossos sonhos secretos. Amor de fim de noite, amor de antes de dormir. Devaneio que alimentamos de carência e ilusão: só come no escuro. Talvez no silêncio.
Amor sempre faminto, que amor mesmo vive do espanto de amar, da insegurança, do “dorme e não dorme” e se dorme, sonha. O amor inventado não conhece o desconcerto, o desajuste. É tão ajustado, que não serve. Só serve para preencher as noites ociosas e para alimentar nostalgias nos inventores de frases. Serve também para escrever poemas, criar histórias e preencher os diálogos dos notívagos. 

Para Thiago, que me convidou para devanear numa madrugada de sábado. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

Sem mais distanciânsias

Nada mais bonito que a saudade morta
Ver a saudade esmagada entre dois corpos
Uns chamam isso de abraço
Eu não chamo de nada
Não chamo nem de morte
Que saudade não se extingue
É preciso que se mate todos os dias
E se morra com e por ela, como disse o poeta:
“Tão lindo morrer de amor e continuar vivendo”...

Dispensa dedicatórias...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

No berro!


Eu era menina. Tinha doze anos e tive que fazer uma cirurgia na boca. É que meu corpo produz mais dentes do que eu precisava. O dentista disse que a gente precisa se livrar do que está sobrando, daquilo que apenas ocupa espaço e não tem utilidade.  Mas eu tinha apenas doze anos e nada entendia sobre excessos.
Na véspera da cirurgia eu confessei meu medo á minha irmã, que ouvia tudo sem paciência.
- Estou com medo...
- Do dentista?
- É... tenho medo de doer.
- Se doer, você GRITA!
- Gritar?
- Grita pra ele saber que machucou!
Aquilo fez muito sentido aos doze anos, mas hoje faz muito mais...