PANACÉIA DELIRANTE

segunda-feira, 30 de março de 2009

Maurice Jarre

Morreu nesse final de semana o compositor da trilha de Doutor Jivago. Desse filme, que infelizmente nunca assisti, saiu o meu nome. A música "Tema de Lara" é famosa", embora poucos saibam o seu nome. Eu mesma levei anos para descobrir que a música que toca na caixinha que ganhei de minha avó ainda criança carrega em si uma homenagem tão singela às minas origens: vim de um filme, vim de uma música. Assim como eu, quantas Laras devem existir, órfãs desde o fim de semana? Serão duzentas, quinhentas ou mais? Quantas Laras multicoloridas nascidas e talvez falecidas precocemente.
Se possuísse um jornal, publicava a notícia:

Morre de câncer o semeador de Laras.

Eu, apenas mais uma, registro essa pequena homenagem tocando seu tema (ou o meu), porque a musica não morre, só se for de esquecimento;

http://video.google.com/videosearch?hl=pt-BR&q=tema+de+lara&um=1&ie=UTF-8&ei=jlHRSdn8IJCstgf4oqXlCQ&sa=X&oi=video_result_group&resnum=4&ct=title#hl=pt-BR&um=1&ie=UTF-8&ei=jlHRSdn8IJCstgf4oqXlCQ&sa=X&oi=video_result_group&resnum=4&ct=title&q=dr+zhivago&src=2

quinta-feira, 26 de março de 2009

O ator e o tempo

O ator é amigo do tempo
Tempo é inimigo do ator
O ator grita: não estou pronto!
O tempo não escuta, terceiro sinal.
O ator espera ansioso o começo do espetáculo. Mas o tempo não passa.
O tempo do ator anda para trás e para frente e às vezes não anda.
O tempo envelhece o ator, desgasta só para rejuvelhecer no próximo espetáculo.
O ator é velho aos vinte
Criança aos sessenta
Progride,
Regride
Evolui,
Involui
Primeiro sinal
Segundo sinal
Terceiro...

terça-feira, 24 de março de 2009

reticencias

Nada a dizer, muito a fazer...

quinta-feira, 19 de março de 2009

Soneto do amor total



É um soneto meio batido, muitas pessoas conhecem, eu mesma já li e ouvir tantas vezes que não sei quantas. Hoje porém, voltando da minha corrida matinal escutei na voz do próprio Vinicius o dito poema, diretamente no meu ouvido através dos fones. Vinicius cantava ao meu ouvido um amor, maior do que qualquer outro: um amor sem mistério e sem virtude. Esse amor que é de bicho simplesmente, instintivo e por isso genuíno. Um amor que casa amizade e paixão e que mata, de orgasmo, o coração cansado.

Soneto Do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

terça-feira, 17 de março de 2009

Tom Wolfe

Um conservador é, na maioria das vezes, um liberal que foi assaltado.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A menina e o espelho


A menina parou diante do espelho do banheiro. Estava nua e percebeu uma erupção na região do seio. Poderia ter gritado pela mãe como faria a maioria das crianças, mas ao invés disso ficou mexendo naquele montinho. Era a novidade do dia, um morro no seu corpo. Nunca tinha tido furúnculo, nem sabia que isso existia, por isso achava graça da descoberta. Mexeu aqui, mexeu colá e de dentro de si começou a sair um pus acidentado com um pouco de sangue. Vocês pensam que ela se assustou? Que nada! A menina apertou-se com ainda mais força, se divertindo com a podridão que saía dela. Viu dentro de si o desconhecido, alguma coisa que queria aflorar. Não pensou no sangue que escorria, nem na possibilidade de cicatriz, só tinha olhos para o fluxo. Apertou e apertou até ter a certeza de que nada mais iria sair. Entrou no chuveiro e tomou um gostoso banho. Seu corpo cheirava a sabonete, nunca se sentiu tão limpa. Guardou para si este segredo e encontrou nisso especial prazer, vestiu a roupa e dormiu rapidamente.

Que inveja das crianças que não sabem sentir culpa!

Amor barato

(Francis Hime e Chico Buarque)

"Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Modesto

Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto

Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto

Vem cá, meu amor
Agüenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

quarta-feira, 11 de março de 2009



A espada - Representa a força, prudência, ordem, regra e aquilo que a consciência e a razão ditam.
A balança - Simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação, a justeza das decisões na aplicação da lei
Deusa de olhos vendados - Pode significar o desejo de nivelar o tratamento de todos por igual, sem distinção, tem o propósito da imparcialidade e da objectividade.
A ausência de venda - Pode ser interpretada como a necessidade de ter os olhos bem abertos, para que nenhum pormenor relevante para a aplicação da lei seja descurado.

Ética.

Estava no meu canto, tomando iogurte e assistido ao fantástico quando ele bateu na porta. Abri com o meu melhor sorriso:
- Pois não?
- Eu sou a ética.
Entrou antes que a convidasse, tirou os sapatos desligou a TV e sentou no sofá a me fazer diversas perguntas.
- Ética é uma atitude que condiz com minha crença do certo e errado.
- Baseada em quê?
- Nas atitudes que EU espero que AS PESSOAS tomem em determinadas situações.
- O que acontece quando Você está nessas situações?
- Tento fazer o que EU esperaria que EU fizesse numa situação dessas.
- Tenta fazer o que você esperaria ou o que os outros esperariam?
- O que EU esperaria, afinal cada um tem uma ética pessoal.
- Quem disse?
E por aí foi... Eu até tentei fugir, coloquei o meu pijama e fui dormir. Mas ela sentou em minha cabeceira e não parava o interrogatório:
- Continuando o raciocínio sobre a ética pessoal. Todas essas atitudes são tomadas e estabelecidas no nível INTERPESSOAL, mas e no INTRAPESSOAL, o que acontece?
- Como?
- Por que você quer ser ético? Para quê esse esforço?
- Para saciar uma necessidade social de boa convivência, conservar meus amigos, viver num ambiente saudável, preservar minha consciência.
- E se seus desejos profundos contrariarem a ética coletiva. Você se nega, se finge, falsifica, usurpa? É isso, essa é a sua ÉTICA? Você quer ser ético a si ou aos outros? Quem você quer manter, quem você quer perder?

segunda-feira, 9 de março de 2009

Barroca

Meu desejo e meu bom senso brigam com irmãos. Penso em Nelson : "A mulher adúltera é santa, pois se livra do desejo que apodrece dentro dela". Penso em Chico: " Se eu não mato a saudade, saudade engole agente". Penso em Vinicius: "O sim é o descuido do não". Penso que são homens, que não devo acreditar em tudo o que eles dizem, tomo meu remédio e vou dormir. Mas não durmo.

A menina e a boneca

A menina estava caminhando na calçada, fita no cabelo e mãos dadas com a mãe, quando viu uma linda boneca na vitrine de uma loja. Parou no mesmo instante seus grandes olhos grande e todo o seu corpo os acompanhou. A cidade porém não para nunca e a menina percebeu que sua mãe prosseguia a caminhada e já estava longe. A coitadinha ficou assustada e teve que fazer a sua escolha: correu atras da sua mãe e abandonou a boneca na vitrine. A sua frente apenas uma lágrima para lhe fazer companhia.

domingo, 8 de março de 2009

Sonho meu

Se ganhasse numa promoção de chocolates o direito a uma video-conferencia com Deus. Se o sabão em pó Minuano me oferecesse o poder de fazer uma pergunta a Deus, seria essa:
- Senhor, porque agente esquece o que sonha?
Se pudesse dar pitaco na criação, gostaria de saber direitinho de onde surgiu essa ideia de apagar os sonhos. Os sonhos são espelhos invertidos, multicoloridos. O sonho é a transformação da vida, que é prosa, em poesia. O sonho é a revelação, o suspense e a constatação.
Não lembrar de um sonho é escrever uma carta para si mesmo e não receber...

A solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita

É assim que funciona: às vezes uma pessoa, coisa, informação está tão presente, tão perto que passa despercebida, fica anos à sombra do nosso nariz. Num belo dia de sol ou chuva, algo acontece: o nariz continua no lugar, os olhos também, às vezes o objeto permanece imóvel e ainda assim... Tharân !!! Lá está, escandalosamente evidente, claro, limpo.
Hoje a musica "Pro dia nascer feliz" soou diferente. Nem posso dizer que soou pois não a ouvi, mas ela ecoou na minha memória, principalmente quando diz:

A solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita...
ou
Todo dia é dia e tudo em nome do amor...
ou ainda
Nadando contra a corrente só pra exercitar todo o músculo que sente...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Lobo Bobo

Composição: Carlos Lyra/ Ronaldo Bôscoli

Era uma vez um lobo mau
Que resolveu jantar alguém
Estava sem vintém
Mas arriscou
E logo se estrepou
Um chapeuzinho de maiô
Ouviu buzina e não parou
Mas lobo mau insiste
E faz cara de triste
Mas chapeuzinho ouviu
Os conselhos da vovó
Dizer que não pra lobo
Que com lobo não sai só

Lobo canta
Pede, promete tudo, até amor
E diz que fraco de lobo
É ver um chapeuzinho de maiô
Mas chapeuzinho percebeu
Que lobo mau se derreteu
Pra ver você, que lobo também
Faz papel de bobo
Só posso lhe dizer
Chapeuzinho agora traz
O lobo na coleira
Que não janta nunca mais

No Youtube, tem um vídeo de Wilson Simonal cantando essa mósica. Vale apenas esperar ele entrar de moto no palco para ver a sua leitura da música, cheia de swing! O link é:
http://www.youtube.com/watch?v=eewDuX1NKeI

Uma pequena homenagem a um certo lobo mau...

Veneno

O veneno desce goela abaixo e vai queimando tudo. Desce matando a garganta, o estômago, intestinos, braços, pernas, tira as forças, o controle, o foco. O raciocínio fica turvo, turvo, urvo, uvo... v... Mas se for doce, porque não?

"Acode acode acode a bandeira nacional"

Meu corpo pede cama. O soldado volta para casa depois da guerra. Venceu! Mas está ferido. O soldado ficou cego logo na primeira batalha, não vê as feridas que carrega, apenas as sente, incapaz de conhecer tamanho e profundidade. Será que já sararam ou ainda jorram sangue?