PANACÉIA DELIRANTE

domingo, 31 de maio de 2009

0800 celestial



- Alô, Santo Antôio?
- Não, é São Pedro.
- Não, eu quero falar com Santo Antônio
- O Ramal está ocupado.
- Agora só depois do dia doze.
- Mas eu preciso falar antes.
- Sinto muito minha filha, você inventa de esperar o dia primeiro de junho. Agora já era.
- Escute, será que se eu fizer umas oraçõezinhas por fora, você não transfere?
- Isso é suborno!
- O que é que tem São Pedro, ninguém vai ficar sabendo. Isso é uma coisa que todos os funcionários públicos fazem.
- Minha filha entenda: Santo Antônio está ocupadíssimo! Você ainda inventa de orar em horário de pico! Tente de madrugada, quando as linhas estão mais livres.
- Não, eu tive uma idéia melhor: Me transfere para Santo Expedido: Chama ele que a causa é URGENTE...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Curta

No meu livro de psicologia das relações humanas li sobre um homem que ameaçava se jogar de um precipício, ou algo parecido. Um grupo de policiais já estava a algum tempo tentando, sem sucesso, convencer o moço a não pular, quando um outro policial desavisado chega ao local esbravejando:
- O dono do carro assim assado estacionou em local proibido e está atrapalhando um monte de pessoas. O meu carro está preso pro causa disso! Faça o favor de retirar o veículo imediatamente!
No mesmo instante o rapaz, que era o dono do carro, se afastou do precipício e acompanhou o policial até a viatura, para onde seguiu diretamente ao hospital.

Controle Remoto

Existe em mim uma necessidade de manter o controle, não sobre os outros, sobre mim. Autocontrole. Sob controle. Não se trata de um desejo de controle, muito pelo contrário. Agir impulsivamente tem sido um exercício nos últimos anos, um divertido jogo de dados frente ao espelho. O problema é quando os dados estão no chão, quando a resposta já existe independente de minha vontade.
Quantas vezes lancei dados, mas não tive coragem de abrir os olhos e descobrir o resultado? Quantos foram abandonados às pressas, no susto?
A busca do autocontrole deve vir de um sentimento de impotência, da ilusão de o que quer que façamos, é por escolha. Se quiséssemos – acreditamos - faríamos diferente. Mentira. A verdadeira capacidade de manter o controle em determinadas situações pode ser tão remota quanta à capacidade sair do eixo em outras. Explico: Tente correr de olhos vendados num espaço aberto e com outras pessoas. Essas estão de olhos abertos, podem se desviar de você, avisar de um obstáculo, não há perigo. Ainda assim o corpo não confia: agente até corre, mas receia.
Mais estranho ainda é quando notamos que não conseguimos não fazer alguma coisa. O desejo da coisa supera a vontade de não-fazer. Para justificar “a coisa” agente conta para agente mentiras, distorções, justifica fatos de forma tão frágil que se dissolvem em mil pedaços quando passa a febre. A febre da coisa.
Que delicia seria se os dados fossem viciados, se o resultado, independentemente do número, fosse sempre positivo. Par para quem gosta, ou ímpar. Infelizmente nunca aprendi a viciar dados e o espelho distorce tudo o que reflete.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Para Milena e Ariane sobre a conversa na lanchonete

Gosto de vinho doce
Quão mais velho mais deleite
Melhor ainda se fosse
Beber vinho, tomar leite...

Adoraria concluir o poema, mas não sou dada a bebida: não me afoguei em leite, nem enchi-me de birita. Do tão pouco que provei, só saiu essa estrofe. Sem achar rima melhor, vou falar ESTROGONOFRE.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Fase oral




Boca, boquinha, bocão
Boca faz biquinho
Boca quer dedão
Quer comer ferro
Madeira
Papel
Boca quer leite materno
Beijo de homem
E de mulher
Se tem gosto, boca quer
Boca quer comer
Beber
Beijar
Mamar
Vomitar
Cuspir
Xingar
Mas só sabe dizer: Gugu Da Dá

Dedicado à Cecília e às suas sementes

Existencialismo das pessoas por Pessoa

Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
E outra que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.”
(Fernando Pessoa, Isto)

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais uma historinha inocente


Pode parecer repetição é é: o tema é o mesmo assim como se repetem as motivações. O produto dessa vez é outro: vamos ao conto:

Cinderela, como todos sabem trabalhava em regime de servidão para sua madrasta e suas duas filhas, possuía como amigo dois ratos e outros bichos, possivelmente algumas baratas.
Chega o dia do baile e Cinderela chora porque não tem como ir. A fada a transveste de nobreza, transforma a abóbora em carruagem, os ratos em cavalos, arruma um cocheiro sabe lá da onde e manda a donzela para a festa.
O que a história não conta é que ela provavelmente não sabia andar de salto, que ratos não trotam, que o vestido pinicava e que provavelmente a moça só tropeçou na hora de voltar para casa, porque o espartilho não a deixava respirar. O conto não cita também que a moça só se sujeitou a essa situação porque era jovem demais, insegura demais e estava desesperada demais por um casamento interessante.
Não esqueçamos que o príncipe foi incapaz de a reconhecer nos trajes cotidianos, ele se apaixonou mesmo pelo vestido, pelas jóias e pelo sapato. Talvez seja gay. O casamento deles não deve ter durado dois anos:
OBS: “Eles viveram felizes para sempre...” – note que não consta na frase a palavra “juntos”.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cantiga infantil





O Cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O Cravo saiu ferido
E a Rosa despedaçada

O Cravo ficou doente
A Rosa foi visitar
O Cravo deu um desmaio
A Rosa pôs-se a chorar

Passada uma semana
O Cravo logo sarou
Cruzou com a Margarida
Por ela se apaixonou

E pelo Amor-Perfeito
Ferveu de tanta paixão
No caule da Violeta
Pregou o seu coração

Depois caiu em tédio
Sozinho e sem abrigo
Saudade sentiu da flor
Que o peito deixou ferido

O Cravo cantou pra Rosa
Debaixo de uma sacada
O Cravo estava sorrindo
A Rosa encabulada

O Cravo ficou contente
A Rosa a lhe ninar
A Lua deu um suspiro
O Sol, pôs-se a raiar

domingo, 17 de maio de 2009

Querido diário II ou III

Ontem eu quis dormir ao máximo! Deixei um recado na geladeira: não me acordem ates das 3 da tarde. Não foi preciso: acordei, comi, vi televisão, entrei neste blog quando aconteceu aquele negócio todo, aquela história de sentir saudades de si e de sentir que passou a semana com uma estranha (mais detalhes em outras postagens.
Escrevi a respeito.
De repente, uma idéia fixa: pular na cama. Há quanto tempo eu não pulo na cama? Desde os doze, treze? E lá estava eu, de portas trancadas, rádio ligado, dando pulos e cambalhotas. Minha cadela não quis participar, ficou dormindo ou fingindo. Peguei o livro de poesia. Fernando Pessoa. Você já leu Fernando Pessoa de cabeça para baixo? Eu já:

Quando olho para mim não me percebo.

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

sábado, 16 de maio de 2009

A menina e o espelho II




Cheguei em casa e flagrei a menina se namorando em frente ao espelho.

Curioso- pensei- será que não se reconhece?

Chegava bem perto do espelho, procurando alguma diferença entre as duas e quando achava, se jogava para trás rindo. Depois de um tempo, enjoou da brincadeira e foi embora.

No dia seguinte, pegou as minhas pulseiras e colares e se enfeitou toda, mas quando eu fui pegar o espelho ela fez biquinho e falou:

- Não! Se você fizer isso, ela vai querer ficar igualzinha a mim.



Nunca mais peguei o espelho. Não por medo de que "ela" ficasse igualzinha a a "mim" e sim de que "Eu" ficasse igualzinha a "Ela"

A mais nova tendência

Mais de uma semana sem escrever uma linha nesse Blog. Não deveria ser, mas parece sintomático. Volto a escrever como quem volta de viagem e sim, juro por Deus: estou com saudades.
Como é possível sentir saudade de si? Trair a si mesmo e passar uma semana dormindo e acordando com outra mulher. Que imoralidade – diriam os conservadores!
As cobras mudam de pele! Os homens trocam de máscaras!
A pele que vejo crescendo agrada pela resistência e maleabilidade, mas é menos colorida.
Prefiro a moda Primavera Verão. Mas só visto a Outono e Inverno.

A bagunça do nosso quarto reflete a bagunça da nossa vida?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

A mãe, a semana e a agenda

A semana vai chegando ao fim e é a hora da verdade. Abro a agenda e vejo as dezenas de coisas que deveria ter feito e não fiz. Na folha seguinte encontro outras tantas que não deveria ter feito e fiz. Essa semana nem quero subir na balança! Antes de dormir me olho no espelho:

Como posso ser mãe um dia? Como posso educar, orientar se não consigo obedecer à mim mesma? Como é possível ser incapaz de andar nos próprios trilhos?

Será que o segredo é esse? Controlar a vida de outra pessoa e dessa forma justificar a própria vida descontrolada? Será uma falsa sensação de poder atrelada a um senso de fatalidade relacionado a tudo o que sai errado?

Ser mãe é isso?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

parabéns

Para você que ousou sair de casa hoje, que ficou presa (o) no trânsito, que se encharcou no aguaceiro que caiu.
Para você que acha que vai ficar resfriado (a), se já não ficou.
Para você que ainda assim conseguiu cumprir suas atividades ou pelo menos a maioria delas: Parabéns, somos vencedores! Ainda que o prêmio seja um nariz entupido.

Mosaico Brasil


Hoje eu assisti ao programa de Marília Gabriela. Ela entrevistou a psiquiatra especialista em sexo Carmita Abdo, que realizou a maior pesquisa sobre o comportamento sexual do brasileiro, o Mosaico Brasil.
De acordo com a pesquisa, 90 % das mulheres alegaram terem perdido a virgindade com o namorado enquanto apenas 30% dos homens alegaram o mesmo. A especialista alegou que mulheres têm maior dificuldade de diferenciar sexo e afeto, ou seja, se para Juliana, Pedro era um namorado; para Pedro, Juliana era uma “amiga”.
Na lista de prioridades masculina, o sexo é o terceiro item da lista. Para as mulheres é o oitavo. Para as mulheres estar bem alimentada, com um emprego, ver o bem estar da família vêm em primeiro lugar,o que EU concordo, caso o contrário já é ninfomania. Mas alguns fatos não só me assustam, como me revoltam:
30% das mulheres disseram que nunca tiveram um orgasmo.
50% dos homens não estão satisfeitos com o próprio desempenho.
A maioria das mulheres que se queixam do seu desempenho acreditam que a preocupação estética atrapalha sua performance.
Muitas mulheres identificaram repressões na infância que vieram a prejudicar sua vida sexual
Carmita comentou que uma diferença comportamental entre os gêneros é a de que o homem faz sexo para se sentir bem e a mulher faz sexo quando se sentir bem. Enquanto o homem faz sexo PARA desestressar, a mulher deixa de fazer sexo POR ESTAR estressada.
A médica conclui a entrevista salientando a importância de diferenciar SEXO e AFETO quando queremos descobrir o que estamos procurando nesse momento de nossas vidas.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Resumo:



O dia começou cheio de confiança e atitude: café da manhã, banho quente, roupa limpa, perfume e escova de dente. O dia chovia contrariado.
Saio de casa para que o dia comece de fato: aula, lanche no lugar do almoço, cenário para transportar. O dia, cúmplice, para de chover.
Chega o fim da tarde é cansaço, fome, frustração. O dia volta a chover, ou de raiva ou de pena. Sinto por mim e pelos meus um sentimento de piedade tão grande que acredito que o céu está chorando emocionado ao ver tanto esforço e vontade.
A chegada da noite não consola: esgotamento, raiva, vontade de trancar bem trancado a fechadura de casa. Chegar em casa, café quente, pijama, televisão e meia – por que não? Um sonho! Um luxo?
Ainda bem que não parou de chover.

domingo, 3 de maio de 2009

Traje esporte fino e apático

A menina tinha um vestido lindo, mas que não vestia bem nela. Queria muito usar no aniversário da sua melhor amiga. Era daqui a três meses: entrou na academia, cortou o chocolate, tomou litros e litros de chá verde. Chegado o dia a menina estava muito satisfeita com os resultados, provou o vestido e viu que estava manchado. Não pôde sair com ele.

Um mês depois, foi o aniversário de uma prima. A menina se certificou que o vestido estava sem manchas três dias antes, mostrou para as amigas, escolheu o brinco para combinar.

Chegou à festa e sua beleza foi elogiada por vários presentes. Dançou, conversou, ficou muito à vontade. No dia seguinte foi repreendida pela mãe devido à escolha do vestido, disse que não era apropriado, que as pessoas comentaram blá blá blá.

Não importa o tamanho da festa, sempre tem gente para solar o nosso bolo.