PANACÉIA DELIRANTE

domingo, 23 de janeiro de 2011

Etecetera

Aquilo que me acompanha, me segue, não me solta, não é a tua presença. Tua presença não se sente já faz tempo, é apenas uma lembrança remota de um momento perdido. Tua presença se desfez na roupa lavada, nos presentes jogados fora, nas fotos queimadas. Não existe mais espaço para a suas lembranças nesta casa, onde tudo é novo: endereço, móveis, artefatos de decoração.
Definitivamente, isto que me angustia não é a sua presença, é a tua ausência sentida e chorada por todos esses objetos que não lhe dizem respeito.  

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Orla


Na praia aqui em frente venta tanto que à noite, sob a luz dos postes urbanos, dá para ver o salitre lambendo a cidade. 

Nuvem de sal, neblina.

Se me deixo ficar à janela, o mar me sopra um beijo, meus lábios ficam salgados. 

O salitre insiste em invadir o apartamento, quebrar a televisão, o rádio, os computadores. Enchente de sal e seus prejuízos.

Mas neste momento, do escuro do meu quarto, na ausência de automóvel, escuto o som do mar me chamando para dormir.

Minha cantiga tem cheiro e gosto.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

De repente, íntimos


Intimidade não precisa de todo,
Só de partes:
Um ouvido e uma boca,
Um ombro e uma cabeça
Uma mão e uma coxa
Uma boca e outra boca.
Intimidade não precisa de tempo
Apenas de instante
Um descuido,
Uma vontade
De se despir e deixar ver
Reconhecer a própria nudez nos olhos do outro
Se reconhecer e talvez não se encabular.
Intimidade não dura quase nada...
Mas é para sempre.

domingo, 2 de janeiro de 2011

temperamento

Sendo hoje dia dois de janeiro
Começo de ano e recomeço de tudo, como dizem...
Lanço a pergunta, como que lança um dardo:

EM QUE ANO ESTAMOS?

Confesso que me sinto perdida no tempo, de vez em quando; presa em abril do ano passado, em junho de 2009, 2008, 1999, 1996. Estar ausente no presente, num tempo/espaço perdido, colhendo vestígios, inventando pedaços sumidos  é uma atitude tão inútil quanto irresistível, tão angustiante, quanto prazerosa.
Já perdi as contas de quantas vezes fui lá, de quantas prometi de que não voltaria mais, para depois retornar, memorar e recordar.  

Felizes anos velhos a todos!