PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mensagem de começo de ano:

Trata-se de uma reprise . O ano é novo, já o texto...

Ps: Ignorem a parte do "sábado de alelúia", eu quis manter o texto "in natura":


Sendo hoje sábado de aleluia, acredito que deveria escrever algo para celebrar esta data. Mas o quê? Será que deveria dar algum conselho, ou sugerir uma reflexão para o resto do ano? Que piada! Se pudesse dar um conselho seria às avessas: erre, ainda que conscientemente, abra espaço para as experiências não vividas... Mas não combinaria comigo, até combinaria, mas não tenho nem idade e nem moral para dar um conselho desses (mas se a carapuça servir, vá fundo).
Já sei! Um conselho batata: leia poesia, biografias e converse com os mais velhos (principalmente com os de mente jovem), faça o jogo do contente, dê comida aos mendigos, use protetor solar, coma chocolate e tome um porre com seus amigos. Jesus bebeu vinho com os seus antes de morrer e disse para fazermos o mesmo. Ame, ainda que de mentira, pois é melhor uma falsa emoção do que emoção nenhuma. Viaje, ainda que pela sua cidade, ainda que pelo seu quarto.
Faça de vez em quando uma faxina moral: jogue fora os hábitos que te atrapalham, as pessoas que te empatam e as sensações de “de javú”. Menos televisão! Menos televisão a não ser para assistir num dia de frio, usando meias, lençóis, comendo pipoca, brigadeiro ou qualquer outra coisa que lhe apetece. Menos roupa! Principalmente em Salvador que está um forno, principalmente se estiver em casa, durma com pouca roupa, ou roupa nenhuma.
Amanhã é domingo, dia da ressurreição, dia de fartura. Então: um brinde à fartura, uma vida farta para todos. Viva a vida fartamente até ficar farto dela. Desejo isso para você e para mim. Prefira colesterol alto a anemia, cansaço a preguiça. Comam muito chocolate (dieta é coisa de segunda-feira). Jogo para o universo esses votos e rezo para que caiam sobre mim...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fim do romance


Sua saliva matou minha sede e nunca mais quis o seu beijo.

Adeus mundo cruel

Carta de adeus

Salvador, 29 de dezembro de 2009

Tem certeza que não é lindo esse "não sei o quê" que estou sentindo e que não é dia lá fora embora seja meia noite?
Tem certeza que foi valsa que dançávamos embora a música tenha sido samba? Tem certeza que a pele não era negra, a roupa branca e o sangue azul?
Tem certeza que não estou morta, que não morri a cinco minutos e acabei de nascer em seus braços? Pois é... essas pequenas certezas trazidas por ti que desconcertam e me fazem fugir. Parto então em busca das incertezas que não tenho contigo. Adeus meu ardor, que não encheu nem a chama de uma vela. Guarde essa noite como o equivoco, o acaso, o desencontro no esbarro em um verão promiscuo...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Alecrim


As flores do meu jardim nascem por encanto ou intuição: nunca semeei uma flor na minha vida. Flores teimosas que por aqui criam raízes (algumas temporariamente) e que faço questão de regar, ainda que displicentemente. Flores que não são podadas, que morrem de madrugada ou partem atrás de alguma borboleta (sim, minhas flores são cheias de liberdade)!

Para meus amigos, que me inebriam com seu perfume...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal, ontem e hoje

Natal

Postagem do Natal do Ano passado:

O Natal chegou de surpresa, de mansinho e me deu um susto. Mas chegou e eu ontem, por que não tinha nada mais a fazer fui me arrumar mais cedo. Terminado o trabalho olho-me no espelho e... OU! Quem é você minha filha? Tão... adulta!
Cheguei a casa da minha tia onde damos uma parada. Algumas pessoas tinham assistido à Atire a Primeira Pedra e eu o número suficiente para me sentir uma pessoa muito mais importante do que realmente sou: abraços, sorriso, mais abraços, mais sorrisos... ótimo!!!
- Como está moça meu Deus!!! - "Pois é, num instante" - respondo para mim mesma.
- Vi tão pequenininha!!! - "Pois é..."
Vamos para a casa da minha avó. É o primeiro natal sem o meu avô. Fizemos uma oração em sua memória. Meus tios discutindo a reforma familiar pela qual passaremos em breve, a ceia vira de repente uma reunião de negócios. É necessário, não é sempre que se junta a família.
Ceiamos todos, distribuímos presentes e voltamos para casa... O nosso presépio que todo o ano se caracteriza por ser muito singular,nesse não foi diferente: Criaram uma gruta de jornal - ou seriam morros em volta? - tudo feito de jornal: um ECOpresépio, ou "O nascimento de Cristo no morro Carioca", os jornais também deram essa leitura.
Hoje é natal. Mas parece que foi ontem!

Postagem desse Ano:

Primeiro Natal fora da casa de minha avó. Primeiro Natal sem minha avó, sem presépio customizado, sem alguns primos, sem algumas tias. Foi um bom Natal: Na casa do tio, boa comida, risadas. Meus primos estão crescendo. A estrela do ano foi meu irmão:

- Como está grande!
- Parabéns pelo vestibular!

Meu irmão prestes a entrar na faculdade... É... O tempo é realmente implacável...


Boa noite, vou dormir, chega de perder tempo com saudosismos...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Falando nisso...

Inspirada no post anterior, lembrei-me de quando meu pai contou de quando passou por uma esquina de São Paulo e viu uma casa semi-demolida. A parte mais danificada era a do banheiro, agora exposta aos transeuntes.
A imagem era essa: a casa destruída, o banheiro despido e na parede uma pichação:

"Da força da grana que ergue e destrói coisas belas"

Resolvi procurar na internet a foto e a encontrei (embora a visualização não esteja muito boa).

Gabarito



Eu moro perto da orla e desde que a prefeitura liberou o gabarito para a construção de prédios mais altos nessa região, minha rua se transformou num canteiro de obras. As empresas de construção seduzem os proprietários das casas com ofertas de, no mínimo, seis dígitos - quem não fica balançado?

- Um milhão (dois ou mais)... Para demolir a sua casa e construir um lindo prédio no lugar. Um milhão (dois ou mais)... Para levar a baixo suas paredes, suas lembranças, o sonho de construir uma piscina no próximo verão, ou a vontade de colocar uma cadeira de balanço na árvore.

Quanto vale a casa que você não tinha vontade de vender? Quanto vale as recordações dos momentos vividos lá?

Vender o passado por um bom futuro...
...

...

...

... Eu acho que também vendia...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Medo da maternidade


Boneco Reborn - bonecos que são iguais a recém nascidos, em tamanho e peso.

As meninas já estão cansadas desse papo: MORRO DE MEDO DE ENGRAVIDAR! Isso não se refere apenas ao presente, não me refiro à furos na camisinha ou problemas com qualquer método contraceptivo. Tenho medo de engravidar hoje, amanhã ou daqui a dez anos! Já pensei seriamente em apenas adotar para nunca ter que passar por isso! Uma voz dentro de mim diz: Vai ser traumático!

Felizmente o medo se restringe apenas a mim. Adoro saber que uma amiga minha está grávida (quando me certifico que ela também está, obviamente) embora tenha um pouco de medo de algumas barrigas transeuntes (como elas são duras!).

Mas nessa época de Natal, vendo os comerciais de bonecas na televisão, estou quase sem dormir.

• Boneca que mexe a face sozinha
• Boneca que respira
• Boneca que come e faz cocô
• E esta última: A BONECA QUE CRESCE!!!!

Isso já é feitiçaria! Deixem as crianças usarem a imaginação que Deus lhes deu! Parem de assustar pessoas como eu com essas primas do Chuck ou do boneco do Fofão! Um feliz natal a todas as crianças, principalmente para as que ganharão bonecas de pano.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Fotografia

Já era fim de tarde, estávamos quase indo embora da praia quando o dono da barraca chegou para beber com agente. Ele conhecia meu pai e mais ainda o amigo que encontramos por acaso. No total éramos quatro pessoas, cinco com o proprietário, um senhor negro de barbas brancas e fala mansa. Ele em algum momento comentou:

- Incrível como as pessoas aparecem... Foi só eu abrir um álbum retrato hoje de manhã... Lá vi uma foto sua (do amigo de meu pai), e você apareceu. Há quanto tempo agente não se via?

Senti inveja daquele senhor e de seu álbum de fotografias. Se tivesse uma foto sua, olhava todo dia para ver se você me aparecia de surpresa, guardava ela na carteira ou colava atrás do celular, esperava sua ligação e ainda fazia voz de surpresa:

- Alô, quem fala?

Talvez me falte uma barba branca como a daquele senhor, ou não seja merecedora de tamanha sorte. Hoje o álbum mágico do dono da barraca entrou para meu acervo de presentes desejados. Procurei um belo jeito de encerrar esse post, mas não encontrei. Fecho meu álbum imaginário e vou ver televisão...


Para as pessoas que nuca mais vi, e para aquelas outras que ando querendo ver...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Mais uma da Menina!


A Menina deu agora para criar Coragem num pote de requeijão. Sua mãe já havia lhe avisado sobre as responsabilidades relativas a essa iniciativa, mas a menina era nova demais para lhe dar ouvidos e queria tanto, mais tanto, que a mãe cedeu e ficou só observando como a pequena se saía com seu novo bichinho.

A alimentação é esporádica, não é sempre que a Menina se lembra de lhe dar de comer. Tem dias em que a Coragem fica tão fraquinha, pálida, que a mãe resolve intervir dando-lhe uma dose de confiança (de acordo com as instruções que recebeu da veterinária para situações críticas).

Outras vezes a coisinha foge do pote de requeijão e se esconde pelo quarto. Nesse dias a menina é que fica apática, chora e tem medo até mesmo de sair à sua procura, temendo achá-la morta em algum canto qualquer.

Obviamente existem os dias em que a Coragem se apresenta cheia de força. Em dias como esse a Menina a retira do pote e lhe deixa explorar o quarto, a sala, cozinha, banheiro. Quando ficar maior, as duas irão dar um passeio ao ar livre, o que não deve demorar muito, já que a Coragem não para de crescer.

A mãe não se arrependeu de deixar a criança cuidar do bichinho. A criança não se arrependeu de seua nova amiga. Para Coragem, o pote fica a cada dia menor. Talvez ela cresça tanto que engula todo o mundo da Menina. Mas não tem nada, não.

Adrenalina...

Sentiu no corpo medo. Achou que era euforia. Era não. Talvez fosse felicidade. Talvez. Seu corpo tremia e dentro de si o coração batia descompassado. Achou que ia morrer, mas logo lembrou-se de como que era estar vivo.

(Continua)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mentiras para dormir

Este moço que se achega
Com fome de tudo
Me envolve, aconchega
E fica mudo

Mente

E quando me faz louca, mente.
Sua cara simples, mente.
De maneira tão discreta, mente.
Que acredito totalmente.

Mente

Este moço, a malandragem,
Sem blusa listrada
Nem muita linhagem
Rouba-me beijos, até os negados

Os mentirosos são os mais dados
Falsos beijos que somente
Em sua boca se encaixam
Completamente,
Sinceramente.


Lara Couto

Função enfática:




Sim, sou levada a acreditar e repetir:

- Uma boa janela vale mais do que mil portas.

E ainda que pequena, mesmo uma basculante do banheiro, permite a entrada de luz. Ou um pouco de brisa fresca.

Melhor parar de olhar para a porta, não adianta, está fechada. Fiquemos com a janela, por onde espio o que me espera lá fora. O que vejo? Nada. É noite ainda. Mas quase dá para sentir um cheiro que entra no meu quarto. Intuição ou esperança?

Por ora faço a cama e deito. Deixa amanhecer.
Eu sempre gostei de pular janelas, só havia perdido o costume...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Choro.



Tava pensando hoje como existe pessoas que tem o dom de nos fazer chorar. Que coisa maravilhosa essas pessoas! Pode parecer masoquista para aqueles que relacionam choro e dor, mas para mim choro está ligado a alívio. Alívio da dor,é verdade, embora choremos por alegria, irritação, raiva, sono.

Essas pessoas carregam em si o poder de bagunçar nosso emocional, elas nos levam a um nível de estresse, ao ápice da angústia e, por fim, à descarga. Deitamos em nossos travesseiros molhados e dormimos o sono dos justos.

Existe, porém, as pessoas que nos fazem conseguir chorar. Essas são ainda mais especiais. O simples som de sua voz, ou apenas sua presença, são suficientes para que choremos. Parece mágica! Só quem já acordou com vontade de chorar, com as lágrimas na garganta, com uma tristeza enrustida, sabe do que eu estou falando. Só quem, ao ouvir um “ALÔ” desatou num choro, ou ao recebeu um simples abraço, sabe como pessoas assim são importantes.

Não existe sentimento mais degradante que a tristeza morna, meio termo, a tristeza suportável, pão dormido, café gelado.

Uma...

Uma boa janela vale mais do que mil portas!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fim de semana

Fim de ano chegando e começa aquela ansiedade de se livrar das pendências existentes e entrar no ano decentemente. Pelo menos aconteceu comigo: aquela ansiedade, o excesso de reflexão, a vontade d tomar certas atitudes e corrigir outras.... As últimas semanas passaram nesse espírito, como se o mundo fosse acabar em 2009 ou como se arrependimento realmente matasse!

Mas não mata, e como diz o ditado: o que não mata, fortalece. Encontrar um antigo rolo com sua nova namorada (ficante,peguete, perigeth, o que seja!) abala um pouco nossas estruturas.Porém não é nada que um final de semana de risadas e bebidas não resolva. E para quem vê no álcool um instrumento de fuga, ressalvo que de vez em quando uma bebedeira pode ser uma iniciativa bastante terapêutica, principalmente se vier acompanhada de uns beijinhos - ainda que estes sejam tão vazios quanto o “boa tarde” que damos ao estranho que encontramos no elevador!

Entro então nesta segunda-feira acreditando que existem coisas que realmente devem morrer junto com o ano velho e que precisamos refletir quando o “desapego” é um exercício de inteligência e quando é de covardia.

Basta agora me convencer realmente disso!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Formato mínimo

Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos, gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela, o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele, enfim, dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo, a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele, uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão, a rúbrica

Composição: Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão

Como queria ter aptidão para Brecht!!


E tudo o que preciso é de dez segundos de distanciamento. Dez segundos para sair do próprio corpo e olhar toda a situação de fora: ver os problemas, as pessoas, as dúvidas, pequenininhas como as letras de uma tese, como as casas no mapa do meu livro de geografia.

Dez segundos, é tudo o que preciso... E de uma dose de desapego.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Assim o autor terminaria o romance...


... E sua lembrança foi tudo o que sobrou no fim da festa: meio ficção, meio realidade. A música que tocava no salão delatava a moça que olhava para os sapatos. As lembranças, partidas, manchavam o vestido de vinho. E, no entanto, não era a memória do morto que assustava. Não era o passado e sim o futuro que vinha lhe assustar de noite.

Leve

Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve

Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço

O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo