PANACÉIA DELIRANTE

terça-feira, 21 de maio de 2013

Latidos de dor


A primeira dor que a menina sentiu foi a de uma topada. Bateu o dedo numa pedra e urrou de dor sem nem mesmo saber o que era aquilo. Quando perguntaram: “Está doendo?” ela incorporou aquele conceito ao seu vocabulário.
A segunda dor que a menina sentiu, também foi de uma topada. Quando perguntaram: “Está doendo?” Ela respondeu: “Dói e passa, dói e passa, dói e passa”. “Está latejando”, disseram. E ela incorporou mais esse conceito ao seu parco vocabulário.
A terceira dor que a menina sentiu, entretanto, foi a de saudade. Na sua ânsia de experimentar as palavras aprendidas, ela colocou as mãos sobre o peito e disse num ar pesado:
- Está latindo, mamãe, está latindo muito...
A mãe, ao escutar como a menina conjugava erroneamente o verbo latejar, riu compulsivamente de sua situação. A pobre não conseguia entender de que maneira seu sofrimento podia ser engraçado. Envergonhada, ela se escondeu atrás do sofá, tendo como única companhia o seu cachorro Bidu, que aparentemente estava a par da situação, se mostrando muito solidário entre bocejos e lambidas.  

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Desabafo


Eu confesso, me inquieta um pouco não ter escrito uma palavra sobre isso.
Mas o que é uma palavra?
Ou ainda: o que é uma palavra escrita?
As pensadas, que são muitas, insistem em me orbitar nos momentos de ócio (ou os de distração)
Chegam tão insistentemente que parecem até o texto de algum espetáculo que estou ensaiando, mas que nunca vai estrear...
“Nunca vai estrear”... eu mesma quase não acredito no que escrevo/digo/penso.
Para alguém com o signo de terra, tanta indecisão pode ser uma evolução
Ou involução, quem sabe?
Ou até mesmo nada: é só eu mesma, em cima do muro, sozinha...
O muro às vezes é um lugar de conforto
Das duas uma: ou sou muito paciente ou muito tonta mesmo...