PANACÉIA DELIRANTE

terça-feira, 21 de maio de 2013

Latidos de dor


A primeira dor que a menina sentiu foi a de uma topada. Bateu o dedo numa pedra e urrou de dor sem nem mesmo saber o que era aquilo. Quando perguntaram: “Está doendo?” ela incorporou aquele conceito ao seu vocabulário.
A segunda dor que a menina sentiu, também foi de uma topada. Quando perguntaram: “Está doendo?” Ela respondeu: “Dói e passa, dói e passa, dói e passa”. “Está latejando”, disseram. E ela incorporou mais esse conceito ao seu parco vocabulário.
A terceira dor que a menina sentiu, entretanto, foi a de saudade. Na sua ânsia de experimentar as palavras aprendidas, ela colocou as mãos sobre o peito e disse num ar pesado:
- Está latindo, mamãe, está latindo muito...
A mãe, ao escutar como a menina conjugava erroneamente o verbo latejar, riu compulsivamente de sua situação. A pobre não conseguia entender de que maneira seu sofrimento podia ser engraçado. Envergonhada, ela se escondeu atrás do sofá, tendo como única companhia o seu cachorro Bidu, que aparentemente estava a par da situação, se mostrando muito solidário entre bocejos e lambidas.  

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