PANACÉIA DELIRANTE

domingo, 31 de janeiro de 2010

Diário de viagem I





Malas prontas, quase tudo separado para a viagem...
Meu peito já está no aeroporto, talvez esteja no avião. Quem sabe em Campinas?
- Não vai não... Fica. – diz uma vozinha que vem sabe lá de onde.
O coração pára indeciso, bate nervoso, triste e feliz num descompasso. Vontade de ser ontem, de me despedir de quem não encontrei. Saudade. Guimarães Rosa inventou um sinônimo para saudade:
Distaciância...
É disso que sofro, de diatanciância, e a distancia ainda é curta...
Mas não me levem a sério:



Viajar é preciso...

...Porque viver é preciso...
(Desculpa Camões)

sábado, 30 de janeiro de 2010

Saindo...

Hoje vou sair de casa mais cedo... não por precaução, por pressa, por nada. Saio porque, ao entrar por minha janela, o vento pareceu convidativo e meu coração se apressou em resposta. Tô saindo mais cedo por causa do vento (loucura minha?), acredito que exista lá fora algo que só pode ser visto agora. Estou sempre à procura do espetacular, daquilo que é acaso, efêmero, inesperado, sobrenatural ou hipernatural.

Estou saído à procura de... Saindo sem pressa. É cedo ainda...

Hoje é sábado

Como não tive inspiração para escrever nada nesses dias e não encontrei nenhum texto que mexesse comigo, decidi colocar o texto Dia da Criação na íntegra, ainda mais porque hoje é efetivamente sábado:

DIA DA CRIAÇÃO

Vinicius de Moraes
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Solidão urbana

Este quadro pertence a um pintor americano chamado Edward Hopper. Boa parte da sua obra dedica-se a retratar a solidão do homem contemporâneo. Hoje passei a noite lendo algumas coisas sobre solidão e vendo alguns desses quadros.

O escolhido para a postagem chama-se: Nighthawks (“Noctívagos”) e é uma das mais famosas pinturas americanas do sec XX. Clique para ver maior.






“Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”...

Trecho de: Dia da Criação, de Vinicius de Morais

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A menina e o passarinho


A menina começou a fazer aulas particulares de canto. Toda terça e quinta, lá pelas cinco da tarde, encostava-se à janela, junto ao piano, para fazer os exercícios de voz. Estava nesta mesma costumeira posição, quando notou a presença de um passarinho sobre um galho, a lhe fazer o contratempo. A menina era tão novinha, que corou com a presença do bichinho, o que não lhe impediu de prosseguir com as lições, assim como com as trocas de olhares.

Não demorou mais que duas semanas para que o passaro se arriscasse a pousar na janela, o que causou muito contentamento para a menina, mas atrapalhou seriamente a aula, devido ao nervosismo causado pela presença da ave intrometida. Tentando salvar o que restava da lição, a professora - num ato bem intencionado, mas equivocado - decidiu fechar as janelas da sala, num gesto tão rápido, que nem permitiu ao passarinho voltar para o jardim. O pequeno ficou circulando, agitado, pela casa, até que conseguiu escapar pela janela da cozinha.

Quase duas semanas sem o passarinho aparecer. Duas semanas de total desafino e distração. O olhar de menina se perdia jardim afora e nem a professora conseguia ficar livre da expectativa se haveria, naquele dia, alguém para cantar no contratempo. Não havia. Já estava quase dando as aulas por perdidas, quando percebeu que alguém havia construído um ninho na parede. O rosto da menina se iluminou com a descoberta.

- Seria o tal passarinho cantor? Mas porque não fazia o contratempo?

Bobagem. Para a criança, lhe bastava a esperança de que ele estava durante a lição, imaginar que o bicho estava no ninho lhe escutando, era tudo o que queria: o sonho de sua presença.

A aparição daquele ninho salvou-lhe as tardes de terça e quinta, chegou de surpresa e resolveu-lhe todos seus problemas infantis.

Incrível o que pode acontecer em nossa sala, enquanto distraídos, olhamos à janela.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Técnica



Ontem, num bar com amigas, começamos a discutir sobre a presença da técnica em nossas vidas. Chegamos, na ocasião, à conclusão de que até mesmo a vida amorosa exige um apuro técnico. Triste, não é? Desolador perceber que há tão pouco espaço para a espontaneidade nas relações interpessoais e que existe um manual de conduta a ser seguido quando se está efetivamente interessado numa pessoa:
• Homem não pode ligar no dia seguinte
• Mulher tem que esperar a ligação
• Uma dose de desprezo apimenta a relação
• Não pode dar na primeira noite...

A lista de recomendações é extensa! Eu, que já tentei quebrar algumas dessas regras, ou convivi com pessoas que também o fizeram (e quem nunca fez?), sei que as chances de fracasso são grandes. Isso porque existe um jogo de expectativas e de estereótipos que estão incrustados, parasitando-nos.
Hoje de manhã escutei uma musica do Gilberto Gil que dizia entre outras coisas:

"O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
(...)Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
(...)Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é"

Queria, mas como? Antes de aprendermos a amar aprendemos a “como” amar, como agir e o quê esperar. Um passarinho que sempre viveu na gaiola, será que voa se o libertarem? Será que eu conseguiria? Até hoje sempre que tentei, caí. Ainda assim, acho lindo os que quebram o protocolo e se jogam da gaiola (e acho que Thiago deve mesmo morar junto com a menina que ele reencontrou a uma semana pela internet e que nem ao menos viu pessoalmente!). Entretanto, permaneço no mesmo ponto em que comecei esse texto: compreendendo a existência da técnica e disposta a tentar aprendê-la, na esperança que ela me ajude a voar melhor...

Metáfora

Gilberto Gil

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

sábado, 23 de janeiro de 2010

Manual da Mulher Bem Resolvida



Aproveitando o fim de semana, chegou a hora de expor o meu lado mais fútil nesse espaço. O texto de hoje eu retirei de um blog chamado Manual do cafajeste (para mulheres) no qual um “cafa” assumido (quando solteiro) explica um pouco da mente masculina para as leitoras desavisadas. O blog é divertidíssimo e até minha amiga que é feminista gosta, porque o rapaz escreve bem e muita coisa tem fundo de verdade, mesmo que infelizmente.

Mas então... Trata-se de um texto que está circulando na internet chamado: Manual da Mulher bem resolvida – regras básicas. A versão que publico é a comentada pelo “cafa”, que não se identifica:



Manual da Mulher Bem Resolvida

Regras básicas

1º Se ele se interessou, ele liga!!!!
É isso mesmo, quando o cara quer,
não tem projeto importante,
morte da tia ou trânsito maluco que o impeça
de te convidar pra sair.

Cafa: Bom isso eu já mencionei num dos primeiros posts que eu escrevi. Realmente tem que vir do homem o interesse em ligar pra mulher. O problema é que muitas vezes chapado na balada eu anotei errado o telefone da garota, e torcia pra que ela me ligasse no dia seguinte (o que nunca aconteceu). Pra não correr esse risco troque msn (ninguém tem compromisso de ligar e a conversa acaba rolando mais tranquila).



2º Passou uma semana sem ouvir notícias dele?
Esquece, parte para outra!
Ligar para saber se tá tudo bem, nem pensar!
Homem que tá perdido merece ser encontrado morto
no apartamento, e pelo zelador do prédio,
porque os vizinhos não agüentam mais o fedor de carniça….

Cafa: Não seja chiclete, nenhum homem suporta grude. Se ele tem interesse por você, vai te ligar com certeza. Se em uma semana ele não deu notícias é meio estranho, mas não dá para tirar conclusões. Pode ligar sim (uma vez!), e ai pelo tom da voz dele você vai saber se o cara não está nem ai.




3º Vocês saíram e ele não ligou mais.
Foi porque você cedeu? Ou foi porque você não cedeu?
Na verdade, pouco importa.
Se o que ele estava a fim era de sexo, e rolou, ótimo!
Sexo é que nem pizza: bom-até-quando-é-ruim..

Mas se você não cedeu, ele provavelmente
não te procurou mais porque achou que ia dar muito trabalho.
Ou seja, pare de se atormentar porque transou ou não!!!

R: É mais complexo que isso. Você pode ser um porre, o papo não fluiu, não teve química, você tem bafo, etc, etc Se rolou sexo e foi bom, ele vai ligar sim, homem nenhum abandona uma mulher se o sexo não for bom (mesmo que o relacionamento se resuma a isso). Se não rolou, mas você é uma pessoa que vale a pena investir, ele vai ligar. Hoje em dia arrumar uma pessoa interessante está cada vez mais difícil.


Duas lições: dar uma de difícil
depois de uma certa idade já era !!!
Ridículo é fazer tipinho!!!
E além do mais você vai se arrepender
de ter cedido e de não ter cedido….

Cafa: Tai uma verdade. Mulher mais velha dar uma de difícil não rola.


4º Homens Comprometidos – diga não!!!
A relação dele tá em crise, péssima,
só falta oficializar o fim??? Ótimo!
Se ele quiser continuar infeliz, dane-se!
Senão, ele termina de uma vez e depois te procura,
combinado?

Cafa: Concordo plenamente. Se você é amante é gosta de viver assim, ok. Agora se tem a ilusão que ele vai terminar com a número um pra ficar com você, espera sentada. Se está cômodo tirar casquinha de duas, pra que ficar só com uma?




5º Ouviu aquela clássica: “Você é boa demais pra mim…”
Acredite, amiga! É mesmo!!!”
Descarte o cidadão
e pare de bancar a Madre Tereza de Calcutá!

Cafa: Frase boba. Homem que diz isso é tosco. Cai fora.

6º Não tente…
Não dá pra namorar um cara
pelo qual você não tem um mínimo de admiração.

Cafa: Nada vê. Admiração a primeira vista é rara. Você passa a admirar a pessoa depois de conhecê-la melhor.

7º Traição…
Não continue com um cara que te chifrou
se você não agüentar a onda de ser traída de novo.
E olho vivo se ele já foi infiel com outras.
A gente sempre acha que com a gente vai ser diferente….
Esqueça!!! Nunca é!!!

Cafa: Certíssima. Se chifrou uma vez, chifra outra. Você não é melhor que ninguém. Se aparecer algo mais interessante, o cara vai jantar fora.


10º E atenção! A “Fila Anda”!!! ”
Pior do que nunca achar o homem certo,
é viver pra sempre com o homem errado”

Cafa: Concordo.


Nosso lema a partir de hoje:
“O homem que não dá assistência
Abre a concorrência
e perde a preferência.”

Cafa: Isso funciona para ambos os sexos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quintana e Renoir




Não tenho certeza, mas acho que tenho compartilhado com os leitores desse blog o meu sofrimento para conseguir uma boa noite de sono. Hoje, depois de tanta luta, finalmente dormi bem, como um anjo (a melhor noite se sono de 2010)! Então acordei “daquele” jeito, vi passarinhos de todas as cores da aquarela, dei bom-dia à cavalo, e estou uma vontade doida de dançar ciranda, tomar banho de chuva – e outras que não vem ao caso.
Vou colocar (de novo) então, um poema que para mim é um hino à vida, assim como acredito que ela deve ser :
• Louca
• Desvairada
• E romanizada, como as telas de Renoir...
Hoje, nem minhas cólicas tirarão meu humor! Mas, vamos ao poema:


A canção da vida

A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...

A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:

Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...

(Como a vida é bela! como a vida é louca!)

Mário Quintana



Como não resisto, posto também três frases do pintor:


"A dor passa, mas a beleza permanece."

"Porque a Pintura não pode ser Bela? O Mundo já tem coisas desagradáveis demais."

"Não dou um nu por terminado até que tenha a sensação de que possa beliscá-lo."

(tirado de http://bethccruz.blogspot.com/2009/02/renoir-arte-impressionista-de-imagens.html)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Declaração de amor de um farmacêutico à sua namorada

Na sua presença, menina
Esse homem comprimido
Se transforma em aspirina.

O rei da malandragem



Este humilde blog faz uma breve interrupção de suas atividades para reverenciar o genial Bezerra da Silva e seus sambas de duplo sentido... Como disse o próprio:
- Malandro é malandro, mané é mané.
Para quem nunca parou para ouvir essa figura musical e se divertir com seu estilo irreverente, deixo a minha lista de sugestões. No site do Terra vocês podem conferir a letra (que já vale muito a pena) e ouvir a música. Olha link
Mas não vá acender agora, ok?
• A semente
• Seqüestraram minha sogra
• Defunto Caguete
• Tem coca aí na geladeira
• A vaca da minha sogra
• Overdose de Cocada

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ata-me

É... Estou numa fase meio introspectiva, quase melancólica, talvez meditabunda.

Trancada em meu quarto, deixando Cazuza rouco, lendo Leminski, pensando pouco, escrevendo muito, dormindo tarde, acordando tarde, ouvindo Zélia Duncan. Hoje eu escutei Zélia o dia todo, fucei letras desconhecidas, procurei as musicas, ouvi uma, duas, três vezes. A idéia era escolher uma para postar. Era para escolher uma pouco famosa, mas acabei ficando com uma meio batidinha (a Nova Brasil FM toca sempre), mas que tem uma letra ótima e que vale a pena ser escutada num dueto entre Zélia e Frejat com seu grave maravilhoso.

Para ouvir, o link está aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=CRS-28jjxaM


Mãos Atadas

Composição: Simone Saback

Tenho as mãos atadas ao redor do meu pescoço
Eu queria mesmo era tocar seu corpo
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos
E depois?

Depois toco meu corpo eu tenho frio
Sou um louco amargurado e até vazio
E me chamam atenção
Mas eu sou louco é de paixão
E você?

Você que me retire desse poço
Eu sei ainda sou moço pra viver
E te ver assim tão crua
A verdade é toda nua
E ninguém vê

Eu tenho as mãos atadas sem ação
E um coração maior que eu para doar
Reprimo meus momentos
Jogo fora os sentimentos sem querer

Eu quero é me livrar
Voar
Sumir
Perder não sei, não sei, não sei querer mais
A qualquer hora é sempre agora chora
Quero cantar você

Vou fazer uma canção liberte o meu pensar
Aperte os cintos pra pousar
Agora é hora de dizer muito prazer sorte ou
azar e amar
Simplesmente amar você


domingo, 17 de janeiro de 2010

Fútil



Há alguns dias eu postei o pedaço de um texto onde Cazuza faz uma auto-análise. Coloquei o texto porque me identifiquei bastante com a sua maneira lidar com o mundo e consigo mesmo, mas a frase final me inquietou:

"E quer saber de uma coisa? O que salva a gente é a futilidade."

De cara, eu concordei. Acho que em tudo o que eu faço, até nas coisas mais relevantes, existe um interesse fútil escondido, fora que a futilidade desestressa, né? Ninguém agüenta ser sério o tempo todo.

Mas isso de apontar a futilidade como tabua de salvação, me intriga. Acho que perco muito tempo com pequenezas, que algumas bobagens ocupam mais espaço do que deveria nos meus pensamentos e que futilidade é sim, uma forma de ignorância. Mas fazer o quê se até mesmo o fato de eu estar escrevendo essas reflexões faz de mim um pouco fútil (sim, porque eu tenho coisas sérias para fazer nesse exato momento!)


A triste verdade é que para fazer qualquer coisa precisamos de motivação e a futilidade sempre parece tão sedutora...

sábado, 16 de janeiro de 2010

Olha, está chovendo na roseira

Para os que querem "adivinhar" a primavera:



Chovendo na Roseira
Elis Regina
Composição: Tom Jobim

Olha está chovendo na roseira
Que só dá rosa mas não cheira
A frescura das gotas úmidas
Que é de Luisa
Que é de Paulinho
Que é de João
Que é de ninguém

Pétalas de rosa carregadas pelo vento
Um amor tão puro carregou meu pensamento

Olha um tico-tico mora ao lado
E passeando no molhado
Adivinhou a primavera

Olha que chuva boa prazenteira
Que vem molhar minha roseira
Chuva boa criadeira
Que molha a terra
Que enche o rio
Que limpa o céu
Que trás o azul

Olha o jasmineiro está florido
E o riachinho de água esperta
Se lança em vasto rio de águas calmas

Ah, você é de ninguém
Ah, você é de ninguém

Dia bom

Bem...
Os olhos abriram contrariados, quase não havia dormido: hoje, ontem, antes de ontem. Meu mau humor me tornava uma ameaça pública. Mas temos que levantar, então vá lá! E haja café para o dia começar!
Dia lindo
Musica boa
Pessoas queridas
Problemas resolvidos
E teve aula de dança afro...
- Alô, será que eu posso dormir uma horinha aí na sua casa?
Espetáculo bom!
Porto da Barra
Rio Vermelho...
Não descobri ainda a receita para transformar dias ruins em bons. Mas desconfio que leva uma boa dose de disponibilidade.

A vida precisa vestir bem...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

[vazio agudo] (Paulo Leminski)

...

Hoje alguma coisa quis ser dita
Lida
Escrita
Talvez chorada
Ou talvez rida

Procurei, procurei
Não encontrei palavra
Nenhuma arte escrita
Nem imagem desenhada
Tampouco fruta comida

Triste fim para um poema
Nem ao menos encontrou
Um tema

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tesão


Brigitte Bardot, ao deixar as telas de cinema declarou que simplesmente não sentia prazer em ser atriz.




As pessoas falam tanto de amor
De paixão
Emoção
Coração
E tantos os sentimentos que terminados em “ão”.

Mas hoje eu quero mesmo é falar de TESÃO!

Porque percebi esses dias que o tesão é um dos sentimentos mais honestos que existe, mais transparente. Sim, porque agente se pergunta:
- Será que é amor?
- Será que é paixão?
Mas quando se trata de tesão, não existe dúvida, a não ser:

- Será que não é só tesão?

Porque quem sente tesão sabe, seja lá pelo que for, namorado, emprego, esporte... Às vezes ficamos na dúvida se ele está sozinho ou acompanhado dos nossos amigos (os outros sentimentos terminados em “ão”). Mas sua presença é incontestável - e às vezes indisfarçável!

Tesão induz a movimento, é excitação, vontade incontrolável de...

Tesão é bola na marca do pênalti, é tiro de largada, é salve-se quem puder. Não importa se o placar é 1 a 1 ou 2 a 2.

Tesão é visível a olho nu.
É física
Química
Biologia
É arte
Ciência
Filosofia

A revolução no seu estado mais primitivo...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Antes dos 30



Passeando no orkut encontrei uma dessas comunidades para adolescentes intitulada: Coisas para fazer antes dos 30. Parei para ler. Dos 36 itens da lista, cumpri 15, sendo que constam cinco sugestões que não me apetecem, então excluo da lista. Uma média de quase 50 %. Nada mal para uma garota de 21anos, bem comportada na maior parte do tempo.

beber uma garrafa de tequila
transar com um dos seus melhores amigos
encontrar com alguem da net
fazer uma tatoo
subir em um palco e dançar loucamente
fugir de casa
pular de bumg jump
matar aula pra ir no buteco
passear sem calcinha (cueca)
agarrar seu amor platonico
fingir ser estrangeiro e falar um idioma que nao existe
ficar com alguem 10 anos mais velho que vc
sair de casa na sexta a noite e voltar na segunda de manha
dormir com a roupa que saiu dps de um porre
ir a praia de nudismo
ficar com seu professor
roubar o namorado de alguém
ir pra escola bêbada
se apaixonar a 1ª vista
usar a melhor roupa pra ir ao mercado
sair com o melhor amigo do seu ex
pintar o cabelo de uma cor absurda
chorar vendo um desenho
ir parar na delegacia
beber ate ter amnésia alcoólica
aprender a tocar algum instrumento
ter um diário secreto
beijar um passante
ir numa formatura de short e chinelo
assaltar uma loja
pegar carona com desconhecido
ir pra balada de ônibus
dormir na rua

Preciso agora levar uma garrafa de tequila para uma praia de nudismo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

lucidez


Estava eu nessa noite de domingo, assistindo Fantástico, quase arrependida de ter ficado em casa, quase determinada a secar a garrafa de licor da cozinha, quando anunciaram uma reportagem sobre o cantor da MPB que pintou todo o seu apartamento.

-Tom Zé – Pensei...

Que nada. A idéia foi de Oswaldo Montenegro, que afirmou que queria morar num quadro.

Para piorar a situação, ele relatou ainda que, no auge dos seus 53 anos, chegou à conclusão de que sempre havia sido ele mesmo. Passou três, meses, então, sendo outra pessoa: Cortou o cabelo, raspou a barba, se reinventou como Sérgio Antunes (um sociólogo) e mudou para o Espírito Santo. Depois percebeu que continuava sendo ele mesmo e voltou.

-Oswaldo, você quer morar num quadro. Eu quero morar numa canção.

-Você quis aprender a ser outro. Eu quero ser EU, cada vez mais legitimamente e de maneira menos racional.

Seu apartamento ficou assustadoramente louco, se fosse seu parente te internaria, mas se quiser me convidar para passar uma semana eu sua casa, EU VOU (OU MELHOR, invento um personagem e me mando)!

ObS: Para quem quiser ler a reportagem:
http://www.istoe.com.br/reportagens/33634_O+HOSPICIO+PARTICULAR+DE+OSWALDO+MONTENEGRO?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

Se preferir assistir à reportagem:
http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1441605-7085,00-OSWALDO+MONTENEGRO+PINTA+CASA+PARA+VIVER+DENTRO+DE+UM+QUADRO.html



“Eu sou lúcido. Eu tenho certeza absoluta que eu sou lúcido. Todo ser humano deve se expressar da maneira mais livre possível. Disso eu tenho certeza absoluta, e nada melhor que a nossa casa pra gente exercer isso”.

Sobre mim

Retirado de "Cazuza, por ele mesmo - Cazuza - 1990"

Às vezes, fico triste, mas não consigo me sentir infeliz. Acho que o tédio é o sentimento mais moderno que existe, que define o nosso tempo. Tento fugir disso, pois tenho uma certa tendência ao tédio. Mas, felizmente, eu sou animadérrimo! Sou muito animado pra sentir tédio. Sou animado à beça, qualquer coisa me anima. Se você me convida pra ir à Barra da Tijuca, eu já digo logo: Vaaaamos!!! Qualquer besteira me anima. Tudo que já passei na minha vida não conseguiu tirar essa animação.

Eu me sinto sempre ganhando presentes. Se faço uma entrevista e leio depois no jornal, acho tudo o máximo, o texto, a foto… Estou sempre ganhando brinquedos. Minha vida é muito assim: sempre morrendo de rir, nunca com tédio. E quer saber de uma coisa? O que salva a gente é a futilidade.

identidade


Dez e meia da noite e eu em casa: misto quente, biscoito, MSN e televisão.
- Quem te viu quem vê... Penso. Filosofando no meu quarto, começo a pensar sobre identidade. Procuro no Google um texto a respeito. Mas desisto do tema para pensar em estereótipo:

Conhecemos uma pessoa, percebemos três ou quatro características principais e traçamos um perfil, um esboço de quem ela é. Com a convivência acrescentamos outros adjetivos, modificamos um pouco a primeira impressão e assim elaboramos um perfil mais detalhado do sujeito.

Fazemos o mesmo com agente: temos a necessidade de saber quem somos e por isso escolhemos quatro ou cinco características que melhor nos definem.

Este sou eu!

Agora sim podemos nos dedicar a doce tarefa de analisar o que fazemos para entender quem somos; analisar quem somos para compreender o quê queremos; analisar o quê queremos para planejar o que devemos fazer! Traçamos tarefas:

- Você precisa parar de fazer isso e isso...
- Você precisa fazer mais isso e isso...

Aí num belo dia de sol agente acorda e não se identifica com três daquelas características que escolhemos para sintetizar quem somos e... ENTRAMOS EM CRISE! Não sou mais a mesma... O que está acontecendo comigo?

Nessas horas me lembro de Gilberto Gil, que brincando com a letra da música “Eu preciso aprender a ser só”, compôs:


- Eu preciso aprender a só ser...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Constatação

Se agente,
Tivesse noção do quanto a vida é urgente,
Morria,
Talvez de pressa,
Talvez de agonia.

Destino

Não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.

Paulo Leminski

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Medo


Essa semana Marília Gabriela entrevistou o o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, o tema era MEDO. Infeliz mente só assisti ao ultimo bloco, quando Marília pede que seu convidado diga uma frase ou um pensamento. Eduardo Ferreira-Santos salientou a importância de não ter medo de viver e fechou o raciocínio comentando uma placa que encontrou ao lado de uma escada rolante (a frase era destinada ao público idoso):

- Não precisa ter medo. Basta cuidado!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Paixão nova

Por uma coincidência do destino,desde que inaugurei esse blog, sempre que descubro um artista que me encanta, trata-se de um homem. Desta vez, entretanto destaco meu arrebatamento por uma mulher, a fotógrafa armena Lilya Corneli







Muito feminino, não acham?

Quanto tempo pode levar um espanto ?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Soneto da espera


Algumas amigas minhas não entendem e acham Vinicius de Morais um pouco cínico quando contei que, para ele, o fluxo de mulheres que passaram pelos seus braços ocorria de maneira tão natural, que era como se a mulher de hoje o preparasse para a mulher de amanhã, o jogasse nos braços da próxima...

Eu particularmente acho uma belíssima visão, pois concede a todos os romances vividos (até os mais curtos) o seu devido valor, sua importância num processo de aprendizagem. Drummond escreveu o livro Amar se aprende amando, concordo. A cada “dono” o amor se descobre e se renova, muda de endereço mas leva a mobília.

Hoje descobri esse soneto, de Vinicius de Morais, posto para que o poeta fale por si:


Soneto da Espera
Aguardando-te, amor, revejo os dias
Da minha infância já distante, quando
Eu ficava, como hoje, te esperando
Mas sem saber ao certo se virias.

E é bom ficar assim, quieto, lembrando
Ao longo de milhares de poesias
Que te estás sempre e sempre renovando
Para me dar maiores alegrias.

Dentro em pouco entrarás, ardente e loura
Como uma jovem chama precursora
Do fogo a se atear entre nós dois

E da cama, onde em ti me dessedento
Tu te erguerás como o pressentimento
De uma mulher morena a vir depois