PANACÉIA DELIRANTE

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A menina e o passarinho


A menina começou a fazer aulas particulares de canto. Toda terça e quinta, lá pelas cinco da tarde, encostava-se à janela, junto ao piano, para fazer os exercícios de voz. Estava nesta mesma costumeira posição, quando notou a presença de um passarinho sobre um galho, a lhe fazer o contratempo. A menina era tão novinha, que corou com a presença do bichinho, o que não lhe impediu de prosseguir com as lições, assim como com as trocas de olhares.

Não demorou mais que duas semanas para que o passaro se arriscasse a pousar na janela, o que causou muito contentamento para a menina, mas atrapalhou seriamente a aula, devido ao nervosismo causado pela presença da ave intrometida. Tentando salvar o que restava da lição, a professora - num ato bem intencionado, mas equivocado - decidiu fechar as janelas da sala, num gesto tão rápido, que nem permitiu ao passarinho voltar para o jardim. O pequeno ficou circulando, agitado, pela casa, até que conseguiu escapar pela janela da cozinha.

Quase duas semanas sem o passarinho aparecer. Duas semanas de total desafino e distração. O olhar de menina se perdia jardim afora e nem a professora conseguia ficar livre da expectativa se haveria, naquele dia, alguém para cantar no contratempo. Não havia. Já estava quase dando as aulas por perdidas, quando percebeu que alguém havia construído um ninho na parede. O rosto da menina se iluminou com a descoberta.

- Seria o tal passarinho cantor? Mas porque não fazia o contratempo?

Bobagem. Para a criança, lhe bastava a esperança de que ele estava durante a lição, imaginar que o bicho estava no ninho lhe escutando, era tudo o que queria: o sonho de sua presença.

A aparição daquele ninho salvou-lhe as tardes de terça e quinta, chegou de surpresa e resolveu-lhe todos seus problemas infantis.

Incrível o que pode acontecer em nossa sala, enquanto distraídos, olhamos à janela.

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