PANACÉIA DELIRANTE

domingo, 3 de janeiro de 2010

Soneto da espera


Algumas amigas minhas não entendem e acham Vinicius de Morais um pouco cínico quando contei que, para ele, o fluxo de mulheres que passaram pelos seus braços ocorria de maneira tão natural, que era como se a mulher de hoje o preparasse para a mulher de amanhã, o jogasse nos braços da próxima...

Eu particularmente acho uma belíssima visão, pois concede a todos os romances vividos (até os mais curtos) o seu devido valor, sua importância num processo de aprendizagem. Drummond escreveu o livro Amar se aprende amando, concordo. A cada “dono” o amor se descobre e se renova, muda de endereço mas leva a mobília.

Hoje descobri esse soneto, de Vinicius de Morais, posto para que o poeta fale por si:


Soneto da Espera
Aguardando-te, amor, revejo os dias
Da minha infância já distante, quando
Eu ficava, como hoje, te esperando
Mas sem saber ao certo se virias.

E é bom ficar assim, quieto, lembrando
Ao longo de milhares de poesias
Que te estás sempre e sempre renovando
Para me dar maiores alegrias.

Dentro em pouco entrarás, ardente e loura
Como uma jovem chama precursora
Do fogo a se atear entre nós dois

E da cama, onde em ti me dessedento
Tu te erguerás como o pressentimento
De uma mulher morena a vir depois

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