Ela tinha um defeito. Poderia ser
alta demais, magra demais, ser gorda. Poderia ter uma perna mais curta que
outra, mas não era nada disso. Tinha um defeito totalmente disfarçável, como se
fossem sardas. Poderia esconder com
maquiagem, poderia usar um sutiã com enchimento... Em suma, era um tipo de
defeito que, se a gente não corrige, pelo menos esconde.
Mas ela o mostrou para uma multidão
de anônimos enquanto se apresentava. E era de um despudor tão grande perante
aquela falha que, até mesmo eu que já a conhecia, precisei que me apresentassem
de novo, pois era preciso refazer a sua figura em minha mente.
Tão logo ela terminou de expor
aquele defeito (sem a menor necessidade), explicou para os presentes a razão do
feito, com uma lógica e a naturalidade tão grandes que parecia nos insultar:
- Estou mostrando para não ter
que esconder.
Essa história já deve ter uns cinco anos.
Ainda assim a cena insiste em reprisar nas minhas lembranças para que me sirva
de exemplo. Eu sempre gostei de engolir os meus defeitos como quem engole o
choro. Eu nunca fui muito boa em engolir o choro, mas me treinei para
dissimular a raiva, o ciúme, a inveja e o tédio. Sempre gostei de portas fechadas e de tirar a máscara
para tomar banho.
- Estou mostrando para não ter
que esconder.
A frase fica se repetindo como se
quisesse ser verdadeiramente escutada. Eu tento atender seu pedido, mas leva
tempo. Tenho aprendido recentemente que algumas coisas precisam de tempo para
serem ouvidas, vistas, entendidas. E eu vou escutando aos poucos...
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