Quem passa pelo Canela sabe,
Existe um mendigo que passa horas girando um pedaço de ferro na esquina da Reitoria. Alguns dias passo e ele está fazendo desenhos em giz no chão, algo aparente complexo pois ele para, reflete, apaga o desenho, procura respostas... Procuro respostas...
Quando entrei na Escola de Teatro ele era apenas um mendigo, nunca me pediu dinheiro é verdade, mas não apresentava traços de demência. Hoje, gira ferros, faz desenhos no chão e conversa sozinho, enlouquecido pela fome, faço questão de repetir: Enlouquecido pela fome diante dos meus olhos passivos.
E agora José?
Luas de cá, luas de lá...
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*(sobre a beleza dos encontros, sobre a beleza do teatro capaz de
transbordar fronteiras, tecer redes e teias lunares)*
*(por Camila) *
Enquanto nós, do...
Há 10 anos
3 comentários:
Este homem provocou-me à pouco: mijava num poste, encontava seu corpo neste, escondia um pouco o rosto e cobria ao máximo com suas mãos o seu pênis. silencioso e com movimentos reduzidos, mijava em local público.
Era discreto.
A loucura que sempre me chegou como a essência do descontrolado, do desmedido, do insensato, da iminência do caos, ou mesmo este propriamente dito, foi, naquele instante, a imagem mais concreta do que possa ser o CUIDADO.
Assisti àquele homem cuidadosamente dar cabo de uma necessidade fisiológica no meio da rua e neste ato ser tão gentil e respeitoso comigo: cidadã, pedestre, mulher, jovem. Tudo porque seu corpo me falava todo tempo: não se preocupe, menina, não deixarei nada de mal lhe acontecer. não verás qualquer coisa que possa te incomodar ou agredir.
e ele, com seu corpo-fala dizia verdade tão sinceras que chego a cogitar a possibilidade de seu mijo ser inodoro, ínsipido... imaterial. incapaz de sujar, de feder... fora neutralizado pelo CUIDADO daquele LOUCO homem.
Este homem sempre me intrigou, sempre.
Nunca fui indiferente a ele, em meus pensamentos, digo, mas ele me dá medo. Já ouvi que ele é violento às vezes. No entanto, é preciso dizer, que, em se tratando de sua mendigagem, ele é um gentleman. Nunca o vi pedir nada a ninguém, mas o galego da barraca de frutas me disse que quando ele tem dinheiro, ele compra fruta lá. Por outro lado, se lhe dão alguma fruta sem que ele peça, ele a larga em qualquer lugar.
Dizem que volta e meia ele aparece são, de barba e cabelo feitos, com roupas limpas e guarda carros na rua.
Sinceramente não acho que a causa de sua loucura seja a fome, acho que ele precisa é de remédios constantemente, de um tratamento psiquiátrico. Pelo menos foi o que
me deu a entender o homem da barraca de frutas.
coloquei vírgulas demais...
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