PANACÉIA DELIRANTE

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não foi nada


Poderia ter sido naquele domingo, mas bem que poderia ter sido hoje pela manhã ou ainda semana passada. Estavam os dois na praia, deitados deixando o sol lamber-lhes os corpos seminus. Aquela que poderia ter sido abriu a bolsa e colocou os óculos escuros. Aquele que poderia ter sido pediu uma cerveja. Ela ensaiou dizer alguma coisa, mas desistiu. Ele também. Se tivessem dito, teriam falado a mesma coisa ao mesmo tempo, e teria sido engraçado. Mas não foi, foi apenas silêncio.

O dia não estava quente, nem frio. A maré não estava nem cheia nem vazia. A cerveja nem quente nem gelada e o vento não soprava tão forte assim. Ele pensou em dar um mergulho, mas não foi; ela quis que lhe passassem o protetor solar, mas não pediu.

Quando o sol começou a se por, Aquele que poderia ter sido pensou na tarde que poderia ter sido boa e suspirou.

- O que foi?
- Nada. Absolutamente nada.

Agora quem suspirou foi ela. Os dois se olharam durante um longo tempo, cúmplices. Ela se levantou e colocou a roupa, ele admirou-lhe o corpo antes de fazer o mesmo. Ela comentou a tatuagem, ele comentou o bronzeado. Os dois se despediram e foram.
Ele caminhou em direção ao ponto de ônibus pensando que havia sido melhor assim: que aquele lance nunca iria ter dado certo e que aquela tarde foi um sinal para desistir daquilo que não havia sido nada.

Ela chegou ao carro sentindo-se patética, patética ela, a praia, o por do sol. Jurou para si nunca mais se expor tanto por um lace que na certa não daria em nada. Ligou o som, tocava a musica do Caetano Maior Importância, ela achou graça. Ele também ria ouvindo- a em seu MP3. Era a mesma música, o mesmo pensamento, a mesma pergunta e os dois cada vez mais separados pela geografia da cidade.

Dez minutos depois, em bairros distintos, ambos param no sinal vermelho. Mais um suspiro. Ela teria voltado se houvesse um retorno por perto. Ele teria descido se ela não morasse tão longe. “Contramão”, dizia a placa. “Respeite o transito”. Era hora do rush. A noite estava esfriando. Foi melhor assim...

5 comentários:

Bruno de Sousa disse...

Que saco!
Esse povo indeciso eu não sei não.
É tão fácil se entregar...
Deixar fluir...
Dá raiva.
Como dizia a música:
"Felicidade bate a porta e ainda ri de mim..."
Culpa de quem deixa ela bater!
heheheeh
Avante Larinha...

Lara Couto disse...

Oxe,esse conto não é biográfico não! Pelo contrário, é descaradamente inspirado na música "Da maior importância" de Caetano - inclusive citada no texto.
Graças a Deus nunca me arrependi de um por do sol e espero que assim seja.
Mas pensando bem, quem nunca viveu uma situação parecida, onde as coisas não acontecem sem que haja uma razão para isso...

Bruno de Sousa disse...

rsrsrsr
Jurei que era biografico!
deixa eu pensar....
não se tira o doce da boca da criança heheeh

Murilo Gazzo disse...

Gostei do conto.

Me fez lembrar uma experiência vivenciada, apesar da oportunidade que passa a lembrança permanece muito viva.

Hoje eu, sendo o mesmo, sou diferente...

Mas, sei lá, talvez essa caixinha de tempo e espaço em que achamos que vivemos seja apenas uma abstração mesmo...

Continuarei acompanhando seu espaço.

Abraço,
Murilo.

Monique Monteiro disse...

Também achei que fosse biográfico... Nunca mais ouvi de você.