PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Auto-ajuda

                                                         (Pôr as barbas de molho)


Não havia razão nenhuma para ele dizer isso. Mesmo assim, disse:

- Pensar demais emburrece.

Era um senhor barbado, fedia a cigarro e tossia grave. 

- Como?

- Escute mocinha. Você é jovem e parece preocupada. Estou lhe dando um conselho para toda a vida: quando tiver que fazer uma escolha e se essa escolha não for determinante para a morte de alguém, faça uma breve consideração e entre em ação.

- Mas não é isso o que os jovens fazem?

- Não.  Eles simplesmente não pensam ou então fazem o que você está fazendo.  Imagino que no começo de sua reflexão uma voz lhe pedia para fazer uma coisa e outra dizia o contrário. Confrontando as duas possibilidades você fez ponderações para as duas alternativas...

- Claro, mas...

- Comparando as ponderações, você chegou a outras ponderações e a outras e outras. Por fim, está mais confusa do que quando começou, segmentou tanto a questão que está afogada nos pedacinhos e perdeu a noção do todo. 

Eu tentei questionar, mas o senhor não parecia escutar

- Você deve conhecer a escultura do Pensador, de Rodin: Um jovem sentado reflete e nessa ação envolve todos os seus músculos, nós observamos que todo o seu corpo se esforça para chegar a uma conclusão. No entanto, ele permanece até hoje sentado, imóvel, ponderando. Era assim que você estava quando eu cheguei.
- Não existe mal nenhum em ser cautelosa.


- Se você não quer aprender, eu não posso lhe ensinar!  Mas antes que eu vá embora, uma ultima coisa: NADA É DEFINITIVO! Mais importante que cautela é humildade. Se errar, corrige. Arrependeu-se? Volta atrás. Não dá? Paciência, as chances eram de 50% mesmo.  Quase sempre é assim... 

Após terminar o sermão, abandonou o bar. Eu realmente tinha deixado-o irritado.

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