PANACÉIA DELIRANTE

sexta-feira, 19 de março de 2010

Não se mate

Esse poema eu ia postar antes de ontem... Mas deixei pra outro dia
Ontem me lembrei dele... Mas deixei pra outro dia
Mas tudo tem sua hora, até para a poesia. Dedico essa para cada um de vários anônimos que adoro e que respeito o suficiente para não citar aqui neste blog.

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Ana Paula Brasil disse...

"mas tudo tem sua hora, até para a poesia." - e, agora, veio bem a calhar. :)