Luas de cá, luas de lá...
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*(sobre a beleza dos encontros, sobre a beleza do teatro capaz de
transbordar fronteiras, tecer redes e teias lunares)*
*(por Camila) *
Enquanto nós, do...
Escrevo para lhe tirar qualquer tipo de preocupação com a minha pessoa. Estou bem. A razão do choro de ontem foi tão trivial que terias rido de mim, se lá estivesse: o médico não me atendeu. O problema é que quando me vi chorando por algo tão pequeno, senti uma enorme pena de mim mesma e chorei sinceramente. Chorei ainda mais tarde, devido ao descaso do banco com sua clientela, e ao prejuízo financeiro que estou prevendo.
Ando lendo muito Drummond, hoje devorei um poema atrás do outro. Sei que você fica meio preocupado quando me tranco no quarto para ler apenas um poeta, mas não me julgue por deprimida. Espere-me chegar em Flobela Spanca para tomar qualquer atitude.
Essa semana, sonhei que ia a São Paulo e desejei sinceramente ter estado por lá. Lembro quando fui da última vez, de como o futuro me parecia próspero. E ainda o é, sei. Eu é que ando tão... Drummond. Mas por favor, não se preocupe, não estou te escondendo nada: não há problemas graves a resolver, só me falta um pouco de conformismo.
É que o tempo anda feio, o dia anda feio e não consigo me esconder de mim.
Quando passares aqui em casa, te contarei uma série de boas notícias que irão te deixar contente -e se não -prometo ao menos que daremos boas risadas. O almoço de hoje já começa a cheirar, pena que você não irá provar do peixe com salada de grão-de-bico. Talvez desmarque todos os compromissos e passe o dia em casa. Pensei em ver um filme, pensei em voltar no médico, ir ao banco. Ando pensando bastante, mas não chego à conclusão nenhuma, cada semana vem desdizer a anterior e já começo a cansar.
Se puder, me ligue e conto tudo com mais calma. Apareça para almoçar um dia desses. Não prometo cozinhar nada, você sabe, mas comida não faltará. Tem vinho na geladeira e doce de goiaba. Guardarei um pedaço.
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Mário Quintana
(Quintana pode escrever auto-ajuda, quintana pode escrever qualquer coisa)
Após um longo tempo de gestação, sai Dorotéia de nossas entranhas. E não era só ela, havia Maura, Carmelita, Flávia, Das Dores e Dona Assunta da Abadia. Parto normal, numa noite de sexta feira. Presentes, muitos (mas muitos) amigos, parceiros e colaboradores.
Obviamente, chorei: a concretização de um projeto, o camarim cheio de flores, a platéia lotada, o jogo cênico... Alem de tudo, tinha agente, O PANACÉIA DELIRANTEMENTE contente com a estréia, a equipe unida para que Dorotéia nascesse com saúde.
E nasceu! Nasceu criança, cheia de planos e projetos. Ainda hoje irá crescer mais um pouco – amanhã ainda mais.
E para quem mora em Salvador e não estava na noite da estréia, vamos! “Bora” ver a recém nascida Dorotéia no Centro Cultural da Barroquinha , de sexta a domingo 20 h (domingo é 19 h) !!! Mas já vou avisando:
“Ela é linda, doce, amorosa e triste... Tem tudo o que não presta”.
É que tenho muito medo de perder o controle das borboletas, seu vôo. Para onde, para quando? Me aterroriza, óbvio. É por isso que deixo a porta sempre aberta, para não morrer a possibilidade de fuga. Mas quando você me virou as costas, de alguma maneira escutei o barulho da porta batendo e entrei em pânico. Olhei ao meu redor e não encontrei uma janela para onde pudessem ir as borboletas.
É que tenho muito medo de perder minhas borboletas, suas cores, sua eterna procura por alguma flor que pode nunca chegar. Quando escutei a batida da porta, te imaginei do lado de fora, deixando a sala vazia, sem flor, sem borboleta, sem porta, sem nada.
Somente quando olhei para trás e vi a porta encostada, que comecei a compreender o quanto se inventa com medo da perda. E da mesma maneira como não havia porta trancada, talvez não haja flor, nem vôo, nem borboleta para perder . De onde viria esse medo, então, para onde quer me levar, para onde não me deixa ir? Na ausência de resposta, apenas sigo as possíveis borboletas.
Isto é, quando as encontro.
Já tive tanto medo de azul, que só saía de casa em dia de céu nublado