- Estou doente, filha...
- Então volta. Volta que eu cuido de você.
Se chamavam de “filho” e “filha” desde que eram casados, até que ele foi embora (amor novo, mulher nova). Ela? Foi atrás, vendeu carro, vendeu casa, tirou licença do trabalho, cruzou o Brasil. Ele? Casado ainda, indeciso. Teve uma filha com a outra. Filhos com ela, não tinha não.
Sua indecisão durou seis anos. Seis anos indo e voltando com a outra. Seis anos de espera: Na casa dela, as roupas dele no guarda-roupa, limpas, prontas para o uso. A vaga na garagem, o espaço na poltrona. Só faltava ele.
As pessoas diziam: Esquece esse homem! Quantas vezes ouvi minha mão falar:
- Esquece esse homem!
- Esqueço não!
- Isso é doença!
- É amor!
- Doença!
- Amor!
- Doença!
Amor ou doença, o fato é que aquele negócio não saia, estava incrustado. Foi num dia comum que ele ligou, contando
- Estou doente, filha...
- Então volta. Volta que eu cuido de você.
- Se eu voltar, vai ser com a roupa do corpo
- Tem problema não...
Minha mãe falou, alertou para seu estado de saúde. Em vão:
- Eu quero, como ele vier, eu quero.
Hoje estão juntos novamente. Ela acorda cedo, esquenta o seu leite, separa sua roupa, marca seus médicos: manda nele, decide por ele, rainha do lar, dona de seu homem, senhora da vida que escolheu para si. Ele obedece e agradece ao cuidado, homem subserviente.
Amor? Doença? Engraçado, agora que estão juntos, ninguém se pergunta mais.
Luas de cá, luas de lá...
-
*(sobre a beleza dos encontros, sobre a beleza do teatro capaz de
transbordar fronteiras, tecer redes e teias lunares)*
*(por Camila) *
Enquanto nós, do...
Há 10 anos
2 comentários:
me lembrou uma certa história... a vida, sempre que escrita, vira literatura! É ler para crer!
Também me lembra alguma coisa. =)
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