A primeira dor que a menina
sentiu foi a de uma topada. Bateu o dedo numa pedra e urrou de dor sem nem
mesmo saber o que era aquilo. Quando perguntaram: “Está doendo?” ela incorporou
aquele conceito ao seu vocabulário.
A segunda dor que a menina
sentiu, também foi de uma topada. Quando perguntaram: “Está doendo?” Ela
respondeu: “Dói e passa, dói e passa, dói e passa”. “Está latejando”, disseram.
E ela incorporou mais esse conceito ao seu parco vocabulário.
A terceira dor que a menina
sentiu, entretanto, foi a de saudade. Na sua ânsia de experimentar as palavras
aprendidas, ela colocou as mãos sobre o peito e disse num ar pesado:
- Está latindo, mamãe, está
latindo muito...
A mãe, ao escutar como a menina
conjugava erroneamente o verbo latejar, riu compulsivamente de sua situação. A
pobre não conseguia entender de que maneira seu sofrimento podia ser engraçado.
Envergonhada, ela se escondeu atrás do sofá, tendo como única companhia o seu
cachorro Bidu, que aparentemente estava a par da situação, se mostrando muito
solidário entre bocejos e lambidas.