Ele me disse na praia:
- Sabe quando você vê um bolo de chocolate muito bonito e
imagina como deve ser gostoso. De repente a boca se enche de água e você só pensa
no bolo, como deve ser o gosto, como deve ser...
Eu escutava em silêncio, na tentativa de ser educada. Mas
enfim, não me contive:
- Eu não sou um bolo.
- Eu sei.
Ele sabia, eu sabia. E ambos tínhamos consciência da
curiosidade mútua da prova. Horas depois... a constatação: Gostoso foi, mais
não tanto. A sensação de culpa, de gula, excesso. Cheguei a hesitar, pois sabia
que não tinha precisão. Mas tinha a vontade. Ou não tinha? Já não me lembro. Eu
gosto de bolo de chocolate, assim como Raul gostava de maçã. E quem gosta de
maçã irá gostar de todas porque todas são iguais. Ou não? Na ausência de
respostas, começo a considerar seriamente a dieta como opção.