PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

João Gabriel


É que eu estava quase triste, pensando em tudo o que eu deveria fazer...
Pensando nos meus fracassos...
Suspirando minhas saudades...
Estava olhando para um lado da minha vida, um lado quase triste,
Quando você veio me dizer que estava cansado
Querendo falar da lição de casa
E da peça de teatro do colégio
Eu lembrei do dia em que você nasceu e isso fez meu pensamento olhar para outro lado
E era um lado cheio de alegria
Eu mesma me enchi de alegria por sua existência.
Meu estado de espírito mudou como se alguém tivesse virado a ampulheta.
Esse alguém era você
 E te agradeço por isso...

Nudez




Ela tinha um defeito. Poderia ser alta demais, magra demais, ser gorda. Poderia ter uma perna mais curta que outra, mas não era nada disso. Tinha um defeito totalmente disfarçável, como se fossem sardas.  Poderia esconder com maquiagem, poderia usar um sutiã com enchimento... Em suma, era um tipo de defeito que, se a gente não corrige, pelo menos esconde.
Mas ela o mostrou para uma multidão de anônimos enquanto se apresentava. E era de um despudor tão grande perante aquela falha que, até mesmo eu que já a conhecia, precisei que me apresentassem de novo, pois era preciso refazer a sua figura em minha mente.
Tão logo ela terminou de expor aquele defeito (sem a menor necessidade), explicou para os presentes a razão do feito, com uma lógica e a naturalidade tão grandes que parecia nos insultar:
- Estou mostrando para não ter que esconder.
 Essa história já deve ter uns cinco anos. Ainda assim a cena insiste em reprisar nas minhas lembranças para que me sirva de exemplo. Eu sempre gostei de engolir os meus defeitos como quem engole o choro. Eu nunca fui muito boa em engolir o choro, mas me treinei para dissimular a raiva, o ciúme, a inveja e o tédio.  Sempre gostei de portas fechadas e de tirar a máscara para tomar banho.
- Estou mostrando para não ter que esconder.
A frase fica se repetindo como se quisesse ser verdadeiramente escutada. Eu tento atender seu pedido, mas leva tempo. Tenho aprendido recentemente que algumas coisas precisam de tempo para serem ouvidas, vistas, entendidas. E eu vou escutando aos poucos...