PANACÉIA DELIRANTE

quarta-feira, 31 de março de 2010

Quem é o autor?

Achei esse texto em outro blog e resolvi postar. Como acontece com frequência, as pessoas esquecem de dar o crédito, citando os autores daquilo que publicam. Eu, por exemplo, adoraria saber de quem é essa crônica:

Toca o telefone da casa...

- Alô.

- Alô, poderia falar com o responsável pela linha?

- Pois não, pode ser comigo mesmo.

- Quem fala, por favor?

- Edson


- Sr. Edson, aqui é da Telefônica, estamos ligando para oferecer a promoção da Telefônica uma linha adicional, onde o Sr. tem direito...

- Desculpe interromper, mas quem está falando?

- Aqui é Rosicleide Judite, da Telefônica, e estamos ligando....

- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, gostaria de conferir alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?

- Bem, pode.

- De que telefone você fala? Meu bina não identificou.

- 10331.

- Você trabalha em que área, na Telefônica?

- Telemarketing Pro Ativo.

- Você tem número de matrí­cula na Telefônica?

- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.

- Então terei que desligar, pois não posso ter segurança que falo com uma funcionária da Telefônica. São normas de nossa casa.

- Mas posso garantir...

- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de atendentes sempre que tento falar com a Telefônica.

- Ok.... Minha matrícula é 34591212.

- Só um momento enquanto verifico.(Dois minutos depois)

- Só mais um momento.(Cinco minutos depois)

- Senhor?

- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.

- Mas senhor...

- Pronto, Rosicleide, obrigado por ter aguardado. Qual o assunto?

- Aqui é da Telefônica, estamos ligando para oferecer a promoção, onde o Sr. tem direito a uma linha adicional. O senhor está interessado, Sr. Edson?

- Rosicleide, vou ter que transferir você para a minha esposa, porque é ela que decide sobre alteração e aquisição de planos de telefones.

- Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.(coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê do Latino tocando no Repeat (quem disse que um dia essa droga não iria servir para alguma coisa?), depois de tocar a porcaria toda da música, minha mulher atende:

- Obrigado por ter aguardado.... pode me dizer seu telefone pois meu bina não identificou..

- 10331.

- Com quem estou falando, por favor.

- Rosicleide

- Rosicleide de que?

- Rosicleide Judite (já demonstrando certa irritação na voz).

- Qual sua identificação na empresa?

- 34591212 (mais irritada agora!)..

- Obrigada pelas suas informações, em que posso ajudá-la?

- Aqui é da Telefônica, estamos ligando para oferecer a promoção, onde a Sra tem direito a uma linha adicional. A senhora está interessada?

- Vou abrir um chamado e em alguns dias entraremos em contato para dar um parecer, pode anotar o protocolo por favor.....

alô, alô!TUTUTUTUTU...


Desligou.... nossa que moça impaciente!

terça-feira, 30 de março de 2010

Protesto anônimo


Perguntaram a um professor meu, certa vez:
- Fulana é sua mulher?
- Fulana? É... Acho que é... É!
Pareceu engraçado ele não saber como chamar a sua... (?). Ele não morava com a “?” , mas se sentia casado, embora nunca tivessem entrado em um cartório. O que diriam os autores dos dicionários? E o funcionário do SENSO? Como explicar para as crianças?

Mas para que servem os nomes? - Perguntou o Mosquito para Alice, em Alice através do espelho:
- Os nomes não servem de nada para eles. Mas é útil para as pessoas que lhes dão nomes, suponho. Senão, para que afinal as coisas têm nome?

Para que, pergunto eu?
Você é o quê de Rodrigo? Perguntam:
Conhecida?
Colega?
Amiga?
Melhor-amiga?
Pegueth?
Ficante?
Ficante estável?
Amiga colorida?
Namorada?
Noiva?
Esposa?
Ex-mulher?
Viúva?
Marque a resposta certa.
Ser mestre, doutor, pós-doutor, pai, mãe, avô...
Negro
Pardo
Branco
Mameluco
Tricolor
Rubro-negro
De esquerda
De direita
Centro – esquerda
Atacante
Goleiro
- Quem é você?
- De quem você é?
- De que lado você está?
Eu sou louca ou essas definições pesam? Meus ombros cedem ao peso dos rótulos e passo tanto tempo tentando nomear as coisas que... Raios!
Neologismo serve para isso! Para todas as coisas existe o silêncio...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Até que nem tanto esotérico assim…



Cada vez me convenço mais de que esse modo de viver cidadão comum é uma roupa muito apertada para mim. E que ninguém pode me dar conselhos de o que é ser feliz e de que maneira, pois estou batendo em outra freqüência. A minha alegria é triste e minha tristeza alegre, muitas vezes. Não tenho muita paciência para o sofrimento puro – Graças a Deus. Quero inventar um jeito tropicalista de ser, um jeito “super bacana”. Ontem fui dormir e a tristeza não tinha fim. Hoje acordei com uma vontade louca de fazer bem mais! Desejo de ir à praia, mesmo com esse tempo e ver o sol se pôr tomando sorvete. É que eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Não me espanta que Quintana tenha dito que a vida é uma zarabatana, embora não entenda o que isso queira dizer...

Fragmento do Cotidiano

Hoje acordei com o cheiro dele em meu vestido. Quase não gostei. Pensei em correr para o banho, mas esperei. O cheiro não é tão bom. A pessoa menos ainda. Vou deixar mais um pouquinho, só para lembrar que ele passou. E que eu não gostava do cheiro dele...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Da Maior Importância

Minha obsessão desta vez voltou a ser Caetano. Se preparem para uma enxurrada de letras. Essa é queridinha de Camila, Hebe, Paulinha e minha também. Para quem quiser escutar milhões de vezes (merece!):

http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/180835/

Da Maior Importância

Foi um pequeno momento, um jeito
Uma coisa assim
Era um movimento que aí você não pôde mais
Gostar de mim direito
Teria sido na praia, medo
Vai ser um erro, uma palavra
A palavra errada
Nada, nada
Basta quase nada
E eu já quase não gosto
E já nem gosto do modo que de repente
Você foi olhada por nós

Porque eu sou tímido e teve um negócio
De você perguntar o meu signo quando não havia
Signo nenhum
Escorpião, sagitário, não sei que lá
Ficou um papo de otário, um papo
Ia sendo bom
É tão difícil, tão simples
Difícil, tão fácil
De repente ser uma coisa tão grande
Da maior importância
Deve haver uma transa qualquer
Pra você e pra mim
Entre nós

E você jogando fora, agora
Vá embora, vá!
Há de haver um jeito qualquer, uma hora!
Há sempre um homem
Para uma mulher
Há dez mulheres para cada um
Uma mulher é sempre uma mulher etc. e tal
E assim como existe disco voador
E o escuro do futuro
Pode haver o que está dependendo
De um pequeno momento puro de amor

Mas você não teve pique e agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Você não teve pique
E agora não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique
Mas você
Não teve pique
E agora
Não sou eu quem vai
Lhe dizer que fique

Madrugada

A Menina invadiu o quarto da mãe no meio da noite: respirava aflita, os olhos inchados, o rosto vermelho e as mãozinhas sobre o peito.
- Tá sentindo?
- É seu coração batendo, filha.
- Não tá não. Tá latejando de saudade...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ciúmes



Sempre que agente se encontrava, ela me recebia com um largo sorriso, seguido da pergunta:

- Como vai, minha bonequinha?

Isso de ser “sua bonequinha” embora devesse parecer um pouco patético, tinha um gostinho açucarado próprio do afeto com o qual ela me dirigia a palavra. Eu aceitava o adjetivo, então, mesmo questionando se ele era realmente apropriado.

- Vou bem, tia. (Ainda que nem sempre fosse essa a verdade)

Foi no dia em que ela estava se recuperando de uma cirurgia – eu tinha ido visitá-la – que descobri toda a verdade. O telefone tocou, e qual foi a minha surpresa quando ela atendeu, dizendo:

- Como vai, minha bonequinha?

A frase, desta vez, não me pareceu patética. Minha tia colecionava em segredo “sabe-se lá” quantas “bonequinhas”, todas se achando exclusivas, coitadas! O gosto da traição me azedou na boca, olhei para o telefone com cara de espanto, mas não obtive nenhuma resposta, nenhuma explicação.

Acho que foi nesse dia que compreendi a possibilidade de se destinar o mesmo tipo de afeto à pessoas diferentes, o mesmo tipo de tratamento e talvez até de tempo. Queremos ser únicos: somos ciumentos, espaçosos, egoístas (que bobagem!).

Ainda hoje, quando nos encontramos, ela eventualmente me pergunta da mesma maneira afetuosa com que perguntava nos tempos de criança – e que pergunta a tantas outras, seja por telefone ou pessoalmente:

- Como vai, minha bonequinha?

- Vou bem, tia. (Embora tenha virado uma pergunta retórica).

terça-feira, 23 de março de 2010

Alice e o Chapeleiro

Alice suspirou entediada: "Acho que vocês poderiam fazer alguma coisa melhor com o tempo", disse, "do que gastá-lo com adivinhações que não têm resposta"


sábado, 20 de março de 2010

Blanche



Voltando pra casa, andando pela rua... Chorando, nem percebia que estava escura, nem tampouco reparei no carro que se aproximava. Foi quando ouvi a buzina:
- Quer carona?
- Hã? Não... obrigada.
- Então vá andando que agente te acompanha.
O farol iluminou o meu caminho. Andei atordoada, olhando o casal que me seguia. Conheço?Não sei.
Nesse momento eles passaram: Um de moto e outro de bicicleta. Estavam juntos, atrás de mim. Há quanto tempo? Agradeci ao casal que me salvou de um possível assalto. Eles sorriram e se foram. Me senti a própria Blanche Dubois, no último ato de Um bonde chamado desejo:
- Eu sempre dependi da bondade de estranhos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

A raposa

E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
(...)
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
(...)
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... Eu creio que ela me cativou...
- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...
- Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
- Num outro planeta?
- Sim.
- Há caçadores nesse planeta?
- Não.
- Que bom! E galinhas?
- Também não.
- Nada é perfeito, suspirou a raposa.

Mas a raposa voltou à sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
(...)
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
(...)

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
(...).
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- Eu sou responsável pela minha rosa... Repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

Não se mate

Esse poema eu ia postar antes de ontem... Mas deixei pra outro dia
Ontem me lembrei dele... Mas deixei pra outro dia
Mas tudo tem sua hora, até para a poesia. Dedico essa para cada um de vários anônimos que adoro e que respeito o suficiente para não citar aqui neste blog.

Não se mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 17 de março de 2010

Estetoscópio

Sim
Não
Razão
Emoção
Vida
Morte
Azar
Sorte
Dinheiro
Prestação
Desejo
Paixão
Emprego
Calção
Casa
Apartamento
Alegria
Sofrimento
Prosa
Poesia
Noite
Dia
Verdade
Fantasia
Palha
Alvenaria
Previdência
Folia
Sem nenhuma determinação:

Bate

Por indecisão:

Apanha

segunda-feira, 15 de março de 2010

Glauco

Porque a charge merece. E o chargista também...

Caríssimo

Careço
Muito carisma
Pouco caroço

Ciso

Beijo caro
Dia claro

Caríssimo

Noite inteira
Bebedeira
Riso
-Mas o que estou falando?
- Quem tem a ver com isso?

domingo, 7 de março de 2010

Nem

Chove lá fora
Hoje não saio
Nem para comprar o pão
Nem para pagar a conta
Não devolvo o filme
Não farei visita
Hoje não
Hoje nada
Chove lá fora
Faltou luz na rua de trás
Na outra alagou
Uma encosta cedeu
Uma criança nasceu debaixo de um ponto de ônibus
Muitos carros alagaram
Alguns foram perdidos
O seguro não cobre
A mulher toma banho no jardim
Crianças choram devido ao trovão
Um marca-passo parou.
Um homem compõe uma canção
Outro faz poesia
Ela acabou o livro
Ele dormiu
Um come pipoca
Outro tem pneumonia
Agora faz sentido
Por isso, não
Chove muito lá fora
Hoje não saio,
Nem de mim...

sábado, 6 de março de 2010

Vinte e poucos anos



E era apenas o começo


Eu e ela de conversa,
Uma triste,
Outra feliz
Nela, eu via meu possível futuro... o término das coisas.
Ela, talvez visse em mim, seu desfecho... o recomeço.
Eu, de contente, me imaginei triste.
Ela, de triste, talvez tenha ficado mais contente.

Eu e ela de conversa
Uma triste
Outra feliz
E no fim de tudo, a pergunta:
- Quantas vezes teremos que passar por isso?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Citando:

A dor é inevitável
O sofrimento é opcional

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 2 de março de 2010

Graça

Foi no momento em que ele tocou em meu rosto... Delicadamente sorriu e disse:
- Faz um pedido.
Entre nossos dedos, meu cílio.
- Um pedido?
Segundos de reflexão...
- O que eu poderia querer?
Depois me lembrei. Lembrei de várias coisas que poderia pedir... Mas os segundos de reflexão foram a redenção do dia (ou a maior demonstração de ignorância da semana). A reflexão evidenciou, em segundos , se não a satisfação, pelo menos o gozo do momento presente.
O cílio ficou com ele. Mas quem se importa? Eu, não! Ele saiu muito satisfeito com a conquista e eu, com a falta dela...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Falando em só-dade...


Para Ana Paula...

"(...)Macunaíma tornou a enfiar o tembetá no beiço. Então pensou muito sério na dona da muiraquitã, na briguenta, na diaba gostosa que batera tanto nele, Ci. Ah! Ci, Mãe do Mato, marvada que tornara-se inesquecível porque fizera ele dormir na rede tecida com os cabelos dela!...
"Quem tem seus amores longe, passa trabalhos trianos..." parafusou. Quê caborge da marvada!... E estava lá no campo do céu banzando nuns trinques toda enfeitada passeando brincando quem sabe com quem... Teve ciúmes. Ergueu os braços pro alto assustando os legornes e rezou pro Pai do Amor:

Rudá! Rudá! Tu que estás no céu E mandas nas chuvas.
Rudá! faz com que minha amada Por mais companheiros que arranje, ache que todos são frouxos! Assopra nessa marvada sodades do seu marvado! Faz com que ela se lembre de mim amanhã quando a Sol for-se embora no poente !...

Olhou bem pro ar. Não tinha Ci não, Capei só, gordanchona, tomando tudo. O herói deitou de comprido na igarité, fez um cabeceiro da gaiola e adormeceu entre maruins piuns muriçocas. (...)"

Trecho do livro Macunaíma de Mário de Andrade