PANACÉIA DELIRANTE

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Radio da vida real apresenta:

Uma brincadeira nova: Músicas que lembram minha vida ou a dos outros. Eu observo e posto a música. Se a carapuça servir, ótimo. Se servir em mim, eu visto.
A música de hoje é:

Tá Combinado


Então tá combinado, é quase nada

É tudo somente sexo e amizade.

Não tem nenhum engano nem mistério.

É tudo só brincadeira e verdade.

Podemos ver o mundo juntos,

Sermos dois e sermos muitos,

Nos sabermos sós sem estarmos sós.

Abrirmos a cabeça

Para que afinal floresça

O mais que humano em nós.

Então tá tudo dito e é tão bonito

E eu acredito num claro futuro

de música, ternura e aventura

Pro equilibrista em cima do muro.

Mas e se o amor pra nós chegar,

De nós, de algum lugar

Com todo o seu tenebroso esplendor?

Mas e se o amor já está,

se há muito tempo que chegou

E só nos enganou?

Então não fale nada, apague a estrada

Que seu caminhar já desenhou

Porque toda razão, toda palavra

Vale nada quando chega o amor...

O melhor lugar para estar é estar contente

Lugar de ser feliz não é supermercado
Lugar de ser feliz não é shopping Center
Lugar de ser feliz não é cozinha
Mas a TPM deixa tudo meio pálido
E triste
E eu que queria te ver o dia intero,
Nem pude ouvir a tua voz

terça-feira, 28 de julho de 2009

Rotação

A terra gira da direita para a esquerda, num movimento ininterrupto em torno do seu próprio eixo. Dessa forma, um passo dado para frente pode significar, não avançar como parece; e sim permanecer.
Da mesma maneira, um passo não caminhado pode significar um passo para trás. Como a Terra não para de girar, quanto mais de adia o primeiro passo, mais estrada tem para andar.
Assim, para não perder o compasso é necessário caminhar. Nem que seja para não chegar.

domingo, 26 de julho de 2009

Eu te amo


Eu nunca te disse
Mas agora saiba
Nunca acaba, nunca
O nosso amor
Da cor do azeviche
Da jabuticaba
E da cor da luz do sol

Eu te amo
Vou dizer que eu te amo
Sim, eu te amo
Minha flor

Eu nunca te disse
Não tem onde caiba
Eu te amo
Sim, eu te amo
Serei pra sempre o teu cantor

Descaradamente inspirado no soneto do Só: Vinicius de Moraes

Eu elogiei sua roupa
Ele sorriu,
Me abraçou e foi só

Me encostei num canto e ele se achegou
Segurou minha mão
Eu o abracei e foi só.

Entrou em meu carro
Cantou a canção
Segurou minhas chaves e foi só

Amanheceu o dia
Disse-me adeus
Me abraçou e foi...
...só

Astúcia

Astúcia, astúcia
O que te faltou foi astúcia
Pra roubar meu coração faltou muito pouco
Era só ter procurado no outro bolso

Argúcia, malícia
Angústia, barbárie e lascívia
E eu que já pequei por luxúria
Agora vou pecar por cobiça

Baby, cada vez desejo mais
Você como objeto dos meus pecados capitais
Baby, não responderei por mim
Se você me disser não
Nem se você me disser sim

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Vale a pena?




É isso que pergunta o meu toque de celular
O motor do meu carro
A campanhia da minha casa
Meu livro de cabeceira...
Até a conta de luz começou a perguntar:

Vale a pena?

Abro o dicionário
Entro na internet
Mando um torpedo
Pergunto a Aristóteles:

Vale a pena?

Abro a geladeira
Compro um chocolate
Tomo um porre
Faço uma besteira
Acordo de ressaca e só um pensamento vem à tona:

Vale a pena?

(é que no fundo, tenho a esperança que a Pena sempre vale a Pena)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Causo familiar:

- Estou doente, filha...
- Então volta. Volta que eu cuido de você.

Se chamavam de “filho” e “filha” desde que eram casados, até que ele foi embora (amor novo, mulher nova). Ela? Foi atrás, vendeu carro, vendeu casa, tirou licença do trabalho, cruzou o Brasil. Ele? Casado ainda, indeciso. Teve uma filha com a outra. Filhos com ela, não tinha não.

Sua indecisão durou seis anos. Seis anos indo e voltando com a outra. Seis anos de espera: Na casa dela, as roupas dele no guarda-roupa, limpas, prontas para o uso. A vaga na garagem, o espaço na poltrona. Só faltava ele.
As pessoas diziam: Esquece esse homem! Quantas vezes ouvi minha mão falar:
- Esquece esse homem!
- Esqueço não!
- Isso é doença!
- É amor!
- Doença!
- Amor!
- Doença!
Amor ou doença, o fato é que aquele negócio não saia, estava incrustado. Foi num dia comum que ele ligou, contando
- Estou doente, filha...
- Então volta. Volta que eu cuido de você.
- Se eu voltar, vai ser com a roupa do corpo
- Tem problema não...
Minha mãe falou, alertou para seu estado de saúde. Em vão:
- Eu quero, como ele vier, eu quero.
Hoje estão juntos novamente. Ela acorda cedo, esquenta o seu leite, separa sua roupa, marca seus médicos: manda nele, decide por ele, rainha do lar, dona de seu homem, senhora da vida que escolheu para si. Ele obedece e agradece ao cuidado, homem subserviente.
Amor? Doença? Engraçado, agora que estão juntos, ninguém se pergunta mais.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O enterro do sentimento

Um dia ela acorda e sabe:
-"É em vão"...
Levanta, se veste, vai ao trabalho. Não fala muito.
Os outros não sabem, mas está velando. Luto.
Termina o expediente. A chamam para o bar, ela recusa.
Chega em casa: talvez chore, talvez beba, talvez coma uma panela de brigadeiro. Dorme em fim.
Dia seguinte:
Levanta, se veste e vai ao trabalho. Está linda e nem é seu melhor vestido.
As cobras só trocam de pele escondido...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dedicado ao meu professor de Ensino Médio

Descobri que não há nada demais no amor.
O amor é uma questão de freqüência, como na física.
De acordo com a física, quando se emana uma freqüência, se o corpo possuir a mesma freqüência que a enviada, vibra.
Senão, nem se abate.
Dois corpos iguais vibram na mesma freqüência. Alguns corpos diferentes também.
Comprovado isso, amor é apenas uma questão de ajuste:
Regula aqui,
Regula lá
Realizam-se alguns testes.
Alguns corpo precisam de anos para entrarem em freqüência
Freqüência
Regulagens são freqüentes e necessárias para manter a sintonia.
Fazer uma revisão é bom de vez em quando.
Pode ser necessário levar para a manutenção.
Trocar o óleo é fundamental!
Mas em hipótese alguma, esqueçam de manter a freqüência.
A freqüência mantém o compasso,
Comprovado cientificamente

Camões - Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.


Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.


Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;


Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Cronometro

A menina criou um habito estranho: começou a conversar com o relógio.
Foi assim:
Um dia antes de dormir (estava chateada, a menina), olhou para a máquina franzina e falou:
- Hoje você passou muito rápido. Vou te atrasar cinco minutos como castigo.
Curiosamente, no dia seguinte a menina conseguiu fazer tudo o que queria e ainda sobrou cinco minutos, que ela devolveu ao novo amigo.

Uma semana depois a mãe flagrou a menina dando bom dia ao relógio:

- O que é isso menina?
- Um relógio, mamãe.
- Mas relógio não fala.
- Esse me diz coisas fabulosas. Ontem me contou que todo mundo quer tempo e que há tempo de sobra. Mas para DAR TEMPO DE TER é preciso TER TEMPO PARA DAR.

A mãe fechou a porta do quarto rindo (mas na verdade tinha inveja, afinal quem não quer ter o relógio como amigo?)



Dedicado ao meu relógio, que foi tão benevolente comigo: deu-me tudo o que pracisava e ainda o que nem havia pedido...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Poema a procura de um nome:

Era tão facil, tão fácil que
Carecia complicação
Misturei tudo o que via
Transformei adição simples, em multiplicação.

Dentro de meu copo d’água
Fiz surgir um furação
Lavei minha roupa suja
Numa bolha de sabão

As palavras que dizia,
Traduzi pro japonês
A estampa de bolinha
Cortei em forma xadrez

E no entanto, era tão simples
Escandalosamente simples
Que não houve solução:
As roupas ficaram sujas
O copo quebrou-se todo
E não houve resultado
Para minha equação.

Só - lamente

Para nós todas as músicas de Cazuza
Todas as baladas de amor fingido
Todos os sonhos inconfessáveis
Todos os desejos sem perdão

Para nós nem resta a recordação
Não há reparação
Não há cura
Nem remédio

Apenas o tédio ao cair da tarde,
O telefone à espera
Da próxima lua cheia
Do próximo dia de chuva...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O dia


Estava feliz dormindo... sozinha

Toca o interfone. A diarista.
Atendo e volto ao sono.
Levanto ao meio dia, atordoada
Me arrumo correndo, a diarista faz várias perguntas, toca o telefone, atendo, almoço (comida horrível!), escovo as dentes pego o ônibus, chego á faculdade, reunião.
Volto para casa. No caminho, as meninas comentam:
- Que tarde linda!
Meus olhos não concordam: nem só de sol se faz uma bela tarde, nem de mar transparente, céu azul e areia branca.
Lar, doce lar.

Estava feliz comendo em casa... sozinha,

Toca o interfone: o rapaz da antena. Ninguém me avisou que o cara da antena viria! Ligo para lá, ligo para cá, interfono para o porteiro. Ninguém sabe de nada. Mando o rapaz embora.

Estava feliz comendo em casa... sozinha,

Chega a minha irmã, senta no sofá, pergunta sobre a televisão.
Por sorte, minha irmã sabe estar perto e manter minha solidão. Então posso dizer:

Estava feliz comendo... sozinha,

Interfona minha tia, chegou com a minha prima.
Desisto!
Recebo as visitas, pego meu prato e vou para o quarto, fecho as cortinas, ligo o rádio. Agora concordo com as meninas:

- Que bela tarde!

Estava feliz dormindo... sozinha